Costumo dizer por aí que meus maiores problemas não são sequer os meus defeitos, mas os meus vícios. O primeiro deles é o mais impoliticamente correto de todos: eu fumo. Cigarros Marlboro, do vermelho, mais conhecido como ‘estoura-peito’, feito pra homens e mulheres de verdade que fogem de ‘cigarros de manicure’ (leia-se, todos os de filtros brancos ao invés de amarelos).
Jornalista inveterada, adoro uma bebidinha. Sem preconceitos. Whisky, cervejinha, vinho, sobretudo. Se for me chamar pra sair, nem perca o seu tempo, aposte entre o domingo e a quinta-feira. Sair aos finais de semana só em ocasiões especiais porque, via de regra, é programa de amadores: bares cheios demais, atendimento ruim demais, trânsito tumultuado demais, jovens demais na rua. Prefiro o bom e velho cotidiano dos boêmios e amantes da noite legítimos. De domingo a quinta-feira está de bom tamanho.
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Mas o pior de todos os meus vícios, sem sombras (ou sobras) de dúvida, é a tal da leitura. Eita vício inútil e ineficaz, viu? Se eu ainda fosse viciada em leitura acadêmica e tecnocrata, me jogava de cabeça nessa tal de indústria de concurso e estaria assim, ingressando num Instituto Rio Branco da Vida ou ganhando míseros milhares de Reais por mês fazendo algo em que, simplesmente, não acredito. Fazer o quê? Coração de aquariana burro que só a gota opta pelo jornalismo e pela liberdade de ir e vir no mercado de trabalho.
Pois pronto. Inventei de comprar o primeiro exemplar da Guerra dos Tronos, de George R.R. Martin. Fui condenada ao 15º inferno dos leitores. Já ouviu falar dessa saga? Se não quiser se condenar ao 15º inferno junto comigo, pare de ler agora!
Trata-se de uma série de sete livros, das quais apenas cinco estão lançados em inglês. Em português brasileiro, apenas dois (Editora Leya). Cada livro tem, em média, 600 páginas. E o autor escreve cada capítulo sob o ponto de vista de um dos personagens da história que se passa no reino fictício de Westeros, onde o cenário vai se transformando em uma guerra para a ocupação do trono (daí o nome do livro).
Agora, sabe o politicamente correto? Esqueça. Há estupro, incesto, assassinatos em massa, conluios, intrigas, porres homéricos, prostitutas, eunucos, magia negra, violência doméstica contra a mulher…isso tudo costurado por uma verdadeira miríade de personagens cujas histórias se entrelaçam ao longo do caminho.
Não resisti. Terminei de ler o primeiro e corri pra livraria pra comprar o segundo, por mais que um amigo querido tivesse me oferecido emprestado. Quero não, esse é o tipo de livro chicletinho. Você começa a ler e não consegue largar. Esqueça a crítica literária obtusa. É livro pra se divertir.
E por quê eu sofro? Avalia quanto tempo vão demorar pra lançar o restante no Brasil? Considerando-se que entre um exemplar e outro (que, lembre-se, tem em média 600 páginas) o autor leva aí uns bons cinco anos, corre-se o risco de Martin morrer antes de ter terminado a saga. E eu? Vou fazer o quê da minha curiosidade? Afinal de contas a equação ‘Mulher + Jornalista + curiosa’ é igual à Pleonasmo ao cubo, né, gente?
Em tempo: a saga é objeto de seriado televiso transmitido pelo HBO e estreou no Brasil este ano. Eu não assino o canal e não tenho paciência pra baixar pela rede. Entretanto, os geeks de plantão e os amantes da saga dizem que vale a pena demais
* Iara Lima é jornalista e escreve crônicas neste espaço.
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