Heróis e heroínas, mocinhos e mocinhas, vilãs e vilões tomaram conta do Enquanto Isso na Sala da Justiça, uma das prévias mais divertidas do calendário pré-carnavalesco de Momo e que este ano completou 25 edições.
Entre a noite da sexta-feira (10) e madrugada do sábado (11), sobrou criatividade nas fantasias que desfilaram cor durante a festa. Longe de Nevermore, as Wandinhas estiveram soltas na folia. Houve, ainda, quem preferisse outros personagens como Malévola, Harry Potter ou Capitão Jack Sparrow. Sempre comuns às festas momescas, as fantasias de casal também fizeram muito sucesso no evento. Não faltaram Arlequinas e Coringas, Aladdins e Jasmines, além de Super Mans e Mulheres Maravilha. Foram muitas, também, as Fridas Kahlo, Alices no País da Maravilha, príncipes e os Thors.
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Com atrações de peso da música brasileira, a ‘Sala da Justiça’ ocorreu no pavilhão do Centro de Convenções de Pernambuco. A festa, aliás, deixou de ser um típico baile de Carnaval, com djs tocando música pop e dançante, um frevo ou outro, e tornou-se uma espécie de micro-festival de inspiração carnavalesca. A animação ficou por conta das ótimas apresentações de Gilsons, Gilberto Gil, BaianaSystem e Banda Eddie.
Coube a Gilsons – trio formado por um filho e dois netos de Gilberto Gil – ser a primeira atração a subir ao palco, decretando o fim do hiato de dois anos sem a realização do evento. Após viver uma alta popularidade durante a pandemia, mas passar o maior tempo desse sucesso preso às interações virtuais, o grupo, aos poucos, começa a conhecer os fãs que acumularam durante a pior fase da Covid-19.
A banda, estreante na ‘Sala da Justiça’ fez um show super animado, mesclando pop e MPB, com reverência aos blocos carnavalescos afros, ao afoxé e ao baião, e trazendo canções como “Várias Queixas” e “Devagarinho”. Ao cantar “Pra Gente Acordar”, música que abre e também dá nome ao álbum de estreia do trio, embalou a esperança de um amanhã “sem que nada possa nos machucar”, não foi escrita exatamente para a pandemia. Mas a interpretação veio a calhar com o tempo e deu força à canção.
No auge de seus 80 anos, Gil, também pisando pela primeira vez no palco do evento, fez uma participação pra lá de memorável em família. No repertório, é claro, alguns dos maiores sucessos da carreira do cantor baiano, como “Drão” e “Aquele Abraço”. O cantor provou mais uma vez porque é um dos maiores nomes da história da música brasileira, vencedor do Grammy (sim, o norte-americano mesmo), membro da Academia Brasileira de Letras, ex-ministro da Cultura e também Artista pela Paz da Unesco, animando e preparando o público para o enérgico show de BaianaSystem que viria em seguida.
Enquanto BaianaSystem, segunda atração da noite, não entrava em cena, o público se dividia sobretudo entre comprar bebidas no bar e tirar fotografias em grupo. Fosse com os amigos ou com pessoas desconhecidas, o importante mesmo era celebrar a cultura pop e o encontro dos personagens de um mesmo universo ou gênero.
Uma das bandas mais aguardadas da noite, assim que BaianaSystem deu início à sua apresentação, incendiou o público com uma sessão de sucessos de seu repertório. “Todo artista tem de ir aonde o povo está” canta Milton Nascimento em “Bailes da Vida” e, seguindo essa máxima, o grupo baiano fez questão de exibir no palco a frase “Sem Anistia”. Após o ato golpista que invadiu e depredou as sedes dos três poderes, em Brasília, que terminou com 1,5 mil extremistas detidos, e o governador do Distrito Federal afastado do cargo, diversas manifestações pelo Brasil se multiplicaram contra a tentativa de golpe de Estado e os baianos fizeram questão de se posicionarem politicamente.
Entre os foliões, era uníssona a vontade de assistir ao show de BaianaSystem, banda que mistura guitarra e cavaquinho, com influências do rock, do axé e de sonoridades africanas, como o kuduro. O grupo que tem como vocalista Russo Passapusso, entrou em cena, levando o público ao delírio. Muita gente se aglomerou em frente ao palco e os “empurra-empurras” não tardaram a começar. Com uma cartola na cabeça, Russo cantando vários sucessos como Lucro, Jah Jah Revolta, Dia da Caça, Calamatraca e Capim Guiné.
Apesar da aglomeração, aparentemente ninguém se machucou em meio às várias “rodinhas-punk” instigadas pelos próprios músicos. Antes de deixar as terras pernambucanas eles não podiam deixar de fazer uma homenagem. Russo se disse fã de Jorge dü Peixe e da Nação Zumbi: “Realizei meu sonho de escrever uma música com ele. Se não fosse Nação, a nossa banda não existiria” declarou.
Após os baianos encerrarem sua participação na prévia, parte do público começou a deixar a festa. A próxima atração foi a banda pernambucana Eddie, que trouxe um show especial, revisitando várias das suas fases e carregando toda a energia do Carnaval de Olinda e os ares do estado. Formado em 1989, o grupo que ficou conhecido por misturar gêneros musicais brasileiros como o frevo, o samba com ritmos internacionais, como o rock, o reggae e a música eletrônica, é uma das pioneiras do movimento mangue beat e idealizadora do movimento “Original Olinda Style”. Isaar, Martins e Lu Maciel foram convidados da Eddie. E, claro, não faltaram os hits “Eu sou Eddie”, “Pode me chamar” e “Desequilíbrio”.
O público só deixou mesmo o pavilhão do Centro de Convenções quando o dia raiou lá fora, ao som de Sambadeiras. O Enquanto Isso na Sala da Justiça chegou à sua 25ª edição mantendo-se como uma das maiores prévias carnavalescas da capital pernambucana, sem perder sua identidade. A festa segue apostando em artistas de alto nível na música pernambucana e nacional. E o próximo encontro já tem data: para os amantes dos super-heróis, o bloco Enquanto Isso na Sala de Justiça arrasta milhares de foliões fantasiados no domingo de Carnaval. A concentração é às 10h, no Alto da Sé, em Olinda.