POLÍTICA NA TELA
Frost/Nixon, um dos candidatos ao Oscar 2009, vasculha fatos ligados à história política recente, mas esbarra em trejeitos e cacoetes de seu diretor, Ron Howard
Por Daniel Herculano
FROST/NIXON
Ron Howard
[Frost/Nixon, USA, ING, 2008]
O cinema sempre retratou (antes, durante ou depois do poder) presidentes, reis, rainhas, primeiro ministros ou apenas políticos que lutam pelo direito de seu povo. E inerente à política, o poder sempre esteve ligado a todo o sistema, seja para o bem ou para o mal. Seria a política do poder ou o poder a serviço da política?
O roteirista Peter Morgan e o diretor Ron Howard cravam seu maior acerto, até 2008 com Frost/Nixon (Idem, 2008). A trama começa em 1974 e mostra uma América que parecia não acreditar mais em sua política. O escândalo de Watergate forçara a renúncia de Richard Nixon (Frank Langella) e a Guerra do Vietnã ainda não havia cicatrizado. Seu vice Gerald Ford, que assumiria logo após, o perdoaria pelo abuso do poder e outros crimes políticos. Por três anos, Nixon manteve-se quieto, calado. Mas David Frost (Michael Sheen), apresentador de TV inglês, ousou desafiá-lo numa entrevista com possíveis revelações bombásticas. E que foi até mesmo antes de existir.
O filme tem três momentos bem definidos. O primeiro: a apresentação da época, o contexto histórico, e seus protagonistas. Tudo bem redondo e sempre intercalado por depoimentos dos personagens, com um pé na realidade, pois sabemos que aquilo aconteceu, mas não exatamente como. E essa função o longa cumpre com méritos. Destrincha todo o tortuoso caminho da tal entrevista que definiu rumos opostos para David Frost e Richard Nixon. E como Nixon fala em dado momento: não haverá dois vencedores nessa entrevista, ao fim apenas um irá ganhá-la.
O segundo ato é voltado para a preparação, e o levantamento dos custos da entrevista que inicialmente custariam inacreditáveis (para a época) U$ 600 mil! Entram em cena dois personagens bem interessantes: os jornalistas investigativos James Relton Jr (Sam Rockwell) e Bob Zelnick (Oliver Platt). Enquanto Kevin Bacon caminha pelo papel-clichê do militar-durão que coordena os passos de Nixon, Rebecca Hall, que faz o interesse romântico de Frost, é um suspiro de charme no meio de tanta disputa que envolve poder, informação, dinheiro e o que mais chama atenção de Frost, a vaidade.
A parte final é a entrevista em si, que fora dividida em quatro sessões. Tão cego de vaidade, inicialmente Frost bóia nas mãos de Nixon. Essa interação entre Frank Langella e Michael Sheen, como caça e caçador move muito bem sua última parte, com o tom histórico funcionando. Mas como estamos numa obra de Ron Howard, não podemos deixar de pressentir que uma pequena reviravolta final mude o curso em questão. Esse é o pequeno problema que resvala no longa. A fotografia que capta a realidade da época, o sentimento de urgência com as revelações, está tudo lá, mas a mudança de comportamento de Frost devia ser gradual e não praticamente repentina. O que tinha de gelo puro no roteiro de Peter Morgan em A Rainha, tem de agridoce no finzinho de Frost/Nixon, e esse é o único senão da filmicamente correta e interessante experiência de Howard.
Mesmo considerado o azarão do Oscar 2009, Frost/Nixon têm qualidades que atestam sua qualidade e o integram ao hall de filmes que retratam bem tanto as questões e interesses políticos, passando pelos bastidores do poder, chegando até o político em si, aqui no caso do controverso e polêmico Richard Nixon.
NOTA: 8,0
Trailer