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Tainá Müller permanece no comando como a protagonista. (Divulgação).

Final de Bom Dia, Verônica tem a essência da série, mas peca pelos atropelos

Com participação de Reynaldo Gianecchini e Rodrigo Santoro, temporada final soou apressada

Final de Bom Dia, Verônica tem a essência da série, mas peca pelos atropelos
2.5

Bom Dia, Verônica – Terceira Temporada
BRA, 3 episódios. Disponível no Netflix
Com Tainá Müller, Klara Castanho e Rodrigo Santoro


Quando a primeira temporada de Bom Dia, Verônica foi lançada, tivemos uma gratíssima surpresa. Uma série de suspense, de muita ação, protagonizada por uma mulher e que levantava pautas importantíssimas sobre abuso e violência doméstica. O roteiro não tinha pudores em exibir crueldades e envolvia o telespectador numa descoberta gradativa do que se tratavam as intenções do vilão.

O primeiro ano focava num ex-policial (Eduardo Moscovis) e sua esposa (também vítima, excelentemente interpretada por Camila Morgado) que sequestravam mulheres na rodoviária a fim de cumprir um ritual sexual, pervertido e religioso feito por ele. Já na segunda temporada, Tainá Müller, como a protagonista, encarava outros contextos. Foragida da polícia, vivendo outra identidade, mais revoltada, e principalmente, preparada para embates, seja com uso de arma, ou na luta física, a personagem principal seguiu em suas investigações ao perceber que o primeiro vilão era a ponta do iceberg.

É aí que a série chega no núcleo central do segundo e do terceiro (e curtíssimo) ano. O foco esteve em desmascarar um líder religioso vivido por Reynaldo Gianecchini (com inspirações evidentes ao charlatão João de Deus), envolvido com tráfico de influência, de menores de idade e diversos abusos sexuais, inclusive na própria família. Nesta fase da série, a chegada de Klara Castanho no papel da filha deste líder incrementou muito o teor dramático da obra por sua atuação impecável.

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Klara Castanho dá continuidade ao papel de Angela. (Divulgação).

No desfecho da segunda temporada já há um presságio. A “queda” desse segundo vilão anunciava a chegada de um terceiro, e aparentemente, mais importante algoz. Fazendo uma releitura de divindades citada na série, Verônica já tinha derrubado os irmãos Cosme e Damião, nesta nova leva de episódios que saíram nesta quarta-feira (14) na Netflix, ela vai atrás do terceiro, Doúm.

Bom Dia, Verônica surpreendeu desde seu primeiro ano pelas escolhas inteligentes na direção e no ritmo da narrativa. Baseada no romance homônimo de Ilana Casoy e Raphael Montes, também roteiristas da série, conseguia arrancar suspense e horror através das cenas, sejam as de violência, sejam as de luta. Nesta terceira temporada, estas sensações são preservadas, porém o ritmo foi prejudicado. Com apenas três episódios, o roteiro parece correr uma maratona para chegar ao fim.

O problema todo disso é que a série não consegue manter o mesmo nível de qualidade ao aprofundar os novos personagens, principalmente, o novo vilão, peça extremamente importante nas engrenagens da narrativa. E mais: revela fatores importantes do passado da protagonista sem impacto, porque, enquanto as revelações vêm à tona, uma série de outros pontos estão soltos e precisam ser resolvidos. Há um desvio de atenção quanto a isso, e pior, deixa o telespectador em dúvida sobre no que prestar atenção. Outro aspecto negativo é o enfraquecimento na própria interpretação da protagonista, influenciado pelos pontos acima.

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Maitê Proença e Rodrigo Santoro incrementam ao elenco nesta terceira temporada. (Divulgação).

A quantidade de episódios quebrou as pernas da produção, levando o roteiro a se adaptar, o que claramente não deu muito certo.

Seria equivocado dizer que não vale a pena conferir a terceira temporada, porque a essência de Bom Dia, Verônica ainda está lá (até mesmo nos diálogos previsíveis e novelísticos, ponto negativo desde a primeira temporada). O olhar sobre a perversão humana envolvendo a religião, o sexo e o senso de poder permanece sendo explorado de maneira interessante, intrigante e repulsiva. Além disso, o empoderamento feminino no enfrentamento da violência, do machismo, de forma revanchista está presente como ponto altíssimo, inclusive, das últimas cenas. Entretanto, é fato ser decepcionante uma obra que chegou tão brilhante, rendeu prêmios e indicações ao seus realizadores, ser concluída com atropelos. Terminou com pressa de terminar.