O longa-metragem Dolores, dirigido por Marcelo Gomes e Maria Clara Escobar, terá sua estreia mundial na 73ª edição do Festival de San Sebastian, na Espanha, que acontece entre os dias 19 e 27 de setembro. A primeira exibição está marcada para o dia 20 de setembro, na seção Horizontes Latinos. A produção é assinada por Sara Silveira, Eliane Bandeira e Maria Ionescu, com realização da Dezenove Som e Imagens, produção associada da Misti Filmes, coprodução da GT Produções e distribuição da California Filmes.
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O filme nasce de um roteiro deixado pelo cineasta Chico Teixeira, falecido em 2019, e encerra a Trilogia dos Afetos, composta também por A Casa de Alice (2007) e Ausência (2014). Em cena, Carla Ribas, protagonista de A Casa de Alice, interpreta Dolores, uma mulher de 65 anos que sonha em abrir um cassino após uma visão premonitória. O desejo entra em conflito com sua própria história: Dolores já foi viciada em jogos e mantém uma relação tensa com a filha, Deborah (Naruna Costa). Ao mesmo tempo, mantém laços afetivos com a neta, Duda (Ariane Aparecida), que trabalha em uma loja de armas e tem planos de se mudar para os Estados Unidos.

O elenco reúne ainda Gilda Nomacce, como a melhor amiga de Dolores, Matheus Fagundes, namorado de Duda, e Zezé Motta. Segundo os diretores, a escolha também se deu em forma de homenagem ao cineasta Chico Teixeira. “Ainda estávamos no processo de construção do projeto. Tanto em termos do roteiro quanto em termos de perfil das personagens. As atenções estavam voltadas para isso. Quando o roteiro ficou pronto decidimos pela homenagem. E foi uma decisão muito feliz”, afirmam Maria Clara e Marcelo.
A dupla de diretores comenta a parceria no desenvolvimento da obra. “Ao longo dos anos construímos uma amizade e uma parceria que nasceu antes de mais nada da vontade de fazer cinema. De falar de pessoas, imaginar sentimentos, inventar outras saídas. Me parece que quando as duas pessoas que estão ali querem muito fazer um filme, o trabalho vira um espaço de criação, de alimento – mesmo nas diferenças –, de aprendizado. Acho que antes de mais nada nós temos muito respeito um pelo outro, pelo nosso trabalho, pelo trabalho do Chico, pelo cinema”, destaca Maria Clara Escobar.
Marcelo Gomes ressalta a centralidade da personagem. “Dolores é uma mulher que transborda encantos e contradições, que enfrenta os desafios da velhice e aposta no tudo ou nada. Apesar da dura rotina na periferia de São Paulo, Dolores se recusa a deixar de sonhar com uma vida melhor. Esse é seu ato de rebeldia”, explica o cineasta.

A direção de fotografia é assinada por Joana Luz, que buscou construir uma atmosfera entre o real e o onírico. “São dois mundos sem barreiras no inconsciente de Dolores. A periferia vira palco de vitórias magnânimas e transformações de realidades. As três gerações, no entanto, terão que ajustar seus sonhos para transformarem juntas o mundo. Não há transformação solitária. Para a gente isso era muito importante – a questão da dialética, no filme”, dizem os diretores.
Além de dialogar com a trajetória de Chico Teixeira, a narrativa reflete questões atuais como o vício em apostas, a comercialização de armas e o sonho da imigração para os Estados Unidos. “Queríamos muito também pensar nessa diferença geracional, os imaginários distintos entre de uma mulher de 65, uma de 45 e outra de 20 e poucos. Assim, naturalmente fomos buscar os imaginários de cada época. E, desejando que nossas mulheres fossem singulares, trouxemos aquilo que achamos que daria emoção para elas. Os universos de cada uma, de acordo com o que a própria vida entrega como possibilidade de imaginação”, concluem os diretores.

