Docficção pernambucano “Estação Janga-Lua (O Segundo Mundo do Rádio)” estreia no Cine PE

Dirigido por Chia Beloto e Rui Mendonça, longa acompanha o mestre griô Zeca do Rolete e estreia neste sábado (08)

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Mestre Zeca do Rolete (Foto: Mateus Sá/ Divulgação)

José Galdino dos Santos, o Zeca do Rolete, é um mestre griô referência na tradição do Coco de Roda em Pernambuco. Nascido em Olinda, uma de suas grandes paixões, além da cultura popular, é o rádio. E é a partir deste mote, tanto o meio de comunicação em si quanto o objeto que transmite as ondas sonoras, que os cineastas Chia Beloto e Rui Mendonça desenvolvem seu primeiro longa, Estação Janga-Lua (O Segundo Mundo do Rádio). A obra, que mistura documentário e ficção, estreia no dia 8 de junho, no Cinema do Porto, dentro da Mostra Inquietações (sessão matinê), do Cine PE.

O jogo com o terreno do documentário e da ficção há muito tem instigado os cineastas Chia Beloto e Rui Mendonça. Com uma longa estrada no audiovisual, os realizadores desenvolveram, em seu primeiro longa-metragem, uma narrativa potente, instigante e poética, que brinca com as possibilidades do real e do possível, a partir do universo do mestre Zeca do Rolete e de sua paixão pelo rádio. Inspirada em programas radiofônicos como “Mistérios do Além” e o mítico “A Guerra dos Mundos”, de Orson Welles, o filme convida o espectador a aderir a uma suspensão temporal – um encontro entre o passado, o presente e um futuro quase sci-fi.

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(Foto: Mateus Sá / Divulgação)

Estação Janga-Lua (O Segundo Mundo do Rádio) acompanha o cotidiano de Zeca Rolete e sua família. Cenas prosaicas, como conversas em casa, o preparo de uma caranguejada e o compartilhamento de sabedorias do mestre sobre o rádio, se encontram com a liberdade criativa da ficção, provocando rupturas no real. Uma ode ao rádio e a relação que ele ainda estabelece com as pessoas, a despeito de um mundo cada vez mais pautado pela imagem, o longa-metragem é permeado por homenagens ao meio de comunicação.

A história do rádio no Brasil é contada de uma maneira que não busca o didatismo. Apresenta-se em atravessamentos, detalhes, que se mostram não só no que aparece na tela, mas também no que se ouve, a partir de um trabalho de som que joga com as particularidades desse meio. Um exemplo disso é a gravação ao vivo da gravação de uma radionovela, gênero muito popular na primeira metade do século 20, antes da popularização da televisão. A cena conta com as presenças de Hugo Martins e Nice Lima, dois nomes importantes na trajetória da rádio pernambucana.

A voz do saudoso Gino César, falecido em 2015 e que por quase 30 anos comandou o programa Bandeira 2, voltado para a denúncia e informação sobre crimes realizados em Pernambuco, também está presente no longa, como um eco de uma época. Em um drive-in, os personagens também reencenam o pânico de uma invasão alienígena, como no clássico “A Guerra dos Mundos”.

Esteticamente, o longa-metragem tensiona as expectativas relativas aos gêneros, transitando entre uma representação mais próxima do real, do documento, até abraçar os devaneios ficcionais, dialogando com filmes de ficção científica. Esses pólos, real e ficcional, não são apresentados como opostos, mas aparecem em diálogo, simultâneos, emaranhando a percepção sobre a linha tênue entre o que se considera verdadeiro e inventado.

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(Foto: Mateus Sá/ Divulgação)

Serviço: Estreia de Estação Janga-Lua (O Segundo Mundo do Rádio)

Local: Cinema do Porto (Cais do Apolo, 222, 16º andar, Bairro do Recife)
Data: 08 de junho (sábado)
Horário: 14h
Duração do filme: 78 minutos
Classificação: Livre