Novo de Mac Demarco vence pela estranheza
A vibe de Mac Demarco, o cantor e multi-instrumentista canadense de apenas 24 anos, para este disco foi algo próximo de “meoirmão, lesera da porra pra fazer um novo disco”. Esse estilo despreocupado e fanfarrão contrastava com o seu selo, que ia na direção oposta, aumentando as expectativas para mais um trabalho após o sucesso de seu disco de estreia de 2012, 2.
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O resultado foi esse Salad Days, disco que emula uma aparente despretensão, mas que tem um forte apelo pop. O músico cantou para afastar a pressão, após um ano inteiro em turnê, o que deu bastante certo. O trabalho supera o seu álbum antecessor e o coloca como um dos mais criativos compositores deste ano. Recheado de personagens meio nonsense, o álbum vai fundo em uma persona que abraça o lado mais esquisito do rock alternativo.
É como se todos os personagens que aparecem nas músicas de Salad Days tivessem saído dos episódios mais insanos de Portlandia. O sonho mais grotesco de alguém nos anos 1990. Basta ver o clipe de “Passing Out Pieces”, a carta de intenções de Demarco para este novo trabalho. No vídeo, ele aparece em uma nojenta banheira de repolhos, corta dedos e mãos de seus colegas, tudo em uma estética de fita VHS. O mesmo pode ser dito dos seus shows, conhecidos pelo espetáculo de loucuras e que acabaram ajudando a aumentar o culto em torno do artista.
Mas, se por um lado Demarco ostenta essa atitude estranha, de garoto outsider do colégio, sua música traz uma sonoridade que não tem nada de revisionista. Usando a imaturidade a seu favor, ele se apropria de referências que vão de John Lennon a psicodelia para criar faixas como “Brother” (tristíssima, uma das melhores do disco) ou “Treat Her Better”.
Há também um apelo proto-punk, desprovido de engajamento, mas disposto a negar qualquer valor. Isso é muito fruto do grande ídolo de Marco, o músico norte-americano Jonathan Richman, do Modern Lovers. O cantor já disse o quanto admira Richman em diversas entrevistas e desta vez até o cita na faixa-título.
Figurando entre uma suposta genialidade e pura doidice, Mac Demarco fez o seu disco mais melódico. É um talento no independente atual que ganha pela estranheza, mas do qual não dá para ficar impassível. [Fernando de Albuquerque]
MAC DEMARCO
Salad Days
[Captured Tracks, 2014]
Nota: 8,0