Britney Spears está de volta. Após o seu ataque nervoso-psicótico em 2006, o mundo vem esperando uma cantora mais sincera consigo mesma e dona da própria carreira. Uma espera justificada pelo péssimo desempenho da cantora ao vivo. Os fãs estavam órfãos de uma das maiores performers dos anos 2000. Embora tenha sido essa mesma Britney que trouxe à luz o ousado Blackout (2007), o mundo continuou ansioso por uma explosão que nunca viu a luz do dia.
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Dois anos depois e um morno Circus ela saiu do hiato de mais cinco anos sem uma turnê mundial. No primeiro dia de volta aos palcos, Britney chorou. As lágrimas traduziam os últimos anos atordoantes na vida pessoal da cantora. Com seus modestos Femme Fatale (2011) e Britney Jean (2013), Britney pareceu se acomodar à zona de conforto fonográfica que não lhe permitia críticas vorazes nem dias de glória.
Em seu último álbum de estúdio, lançado mundialmente no final do ano passado, Britney traz uma sonoridade exploradora. É hora de quebrar a dormência que sua carreira se tornou na última década. O disco passeia, sem atritos, pelo R&B da faixa de trabalho “Make Me”, a country “Hard To Forget Ya” e as românticas “Just Luv Me”, melhor faixa do álbum, e “Invitation”. O pontapé, definitivo, fora da caixa, vem com a “Coupure Électrique”. Uma pegada de dubstep da já favoritinha do público para próximo single, “Slumber Party”. Mas apesar das inovações, Britney também recorre ao que vem dando certo desde que surgiu com um olhar virgem angelical em 1997: o pop e suas ramificações. No eletropop “Love Me Down” e “Better”, a cantora mostra porque ainda não conseguiram passar à frente seu título de princesa.
Glory é uma confissão. Ele não é uma volta, pelo simples fato de que a Britney Spears que conhecemos não foi a lugar algum. Ela apenas rendeu-se à lógica bastante estreita da indústria fonográfica e se adaptou ao conforto de ser passageira da sua própria carreira. Agora com as mãos no volante, Britney traz um CD que sopra na direção que ela quer, tentando desafiar as expectativas que o mercado tem de sua persona, a exemplo dos ótimos ANTI, da Rihanna, e Lemonade, da Beyoncé, ainda que com uma pretensão bem menor. Sem abusar do auto-tune, Glory prioriza por vocais mais limpos, não metalizados. As letras são muito mais profundas do que a receita usada nos últimos álbuns. Dessa vez podemos ouvir Britney e apreciar até as limitações que o seu soprano rouco de três oitavas possui. E isso é grito de alívio.