DEPRESSÃO DA VIDA ADULTA
Carregado de sentimento de culpa, novo American Pie promove reencontro dos personagens originais
Por Paulo Floro
Passados 13 anos depois do primeiro American Pie, o filme que explora todos os clichês dos ritos de passagens tipicamente norteamericanos, um novo longa com os personagens originais chega para conquistar um novo público, matar a saudade dos nostálgicos e também para tentar dar uma nova chance para o longa original. A franquia quer para si o posto de comédia mais importante de sua geração, um retrato do fim da adolescência de jovens na virada dos anos 1990.
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Depos de todo o sucesso que alcançou no distante ano de 1999, a comédia rendeu continuações pouco inspiradas e até alguns títulos que foram direto para home vídeo. Apesar de ser encarada como pioneira por explorar certo tom politicamente correto, American Pie não passava de uma trama sexista recheada de escatologia.
Há um certo tom conservador debaixo de algumas tomadas tidas como transgressoras. Masturbação, sexo inconsequente, drogas, tudo muito milimetricamente pensado para não agredir públicos e audiências mais sensíveis. Sem falar que o roteiro é pura heterossexualidade exaltada. É bem diferente da proposta de Porky’s, por exemplo, longa ligado à geração dos anos 1980 bem mais cru e transgressor.
Neste American Pie – O Reencontro, os personagens estão adultos e decidem se encontrar. Jim (Jason Biggs) agora é um marido com barriga proeminente e tem um filho ao lado do grande amor adolescente, Michelle (Alyson Hannigan). Finch (Eddie Kaye Thomas) transformou-se num falso conquistador intelectual e Oz (Chris Klein) é um ex-astro de reality show casado com uma celebridade. Por fim, Stiffler, que tem um trabalho burocrático, mas continua o mesmo troll de sempre. O retorno serve sobretudo para os personagens destilarem um sentimento de culpa sobre o passado.
O filme poderia explorar novas histórias com o grupo original, mas fez uma trama de puro acerto de contas, que não aponta para nada de novo. Além disso, todos estão a todo tempo ostentando uma inadequação aos novos tempos, citando redes sociais, smartphones, como se estivessem congelados durante esses treze anos. Em uma cena um tanto constrangedora, Stiffler não sabe manejar bem um simples celular. Existe o tempo todo referência ao primeiro filme, incluindo, claro, a famosa masturbação na torta (agora trocada por panelas).
Mas, há momentos inspirados, como a tentativa do Sr. Stevensson em arrumar uma namorada e as cenas de Jim vestido com roupas sadomasoquistas. No primeiro filme, os personagens eram tão carismáticos e bem construídos que criaram empatia com o público daqueles tempos. Sem falar que tinham cenas que ficaram gravadas na memória.
Agora, esse mesmo público, que já se sentiu representado uma vez, poderá sentir certo desconforto no encontro com esses personagens caminhando para uma meia-idade deprimente da classe média americana. Nisso, o longa é exemplar. Ao trabalhar de forma realista – e um tanto triste – que a vida real está longe do excitante mundo da puberdade.
AMERICAN PIE – O REENCONTRO
Jon Hurwitz, Hayden Schlossberg
[American Reunion, EUA, 2012]
Nota: 6,3