BRASILIDADE NO COQUETEL
Em seu segundo dia, Coquetel Molotov investe em atrações brasileiras, dialoga com novo tipo de público
Por Fernando de Albuquerque
Muito se fala do Coquetel Molotov enquanto uma espécie de portal congregador das principais tribos hypes do pedaço Recifense, e cidades circunvizinhas. E de fato é. O que ninguém esperava é que mudando de local, indo do Teatro da UFPE para o Teatro Guararapes, no Centro de Convenções (Cecon), o festival acabasse mudando de foco e no seu segundo dia trouxesse o que seria “a nata” da produção nacional. Mas o que mais saltou aos olhos não foram as atrações, mas o tipo de público que vagueava pelo salão do Cecon era bem diferente da tradicional combinação camisa xadrez, calça skinny e all star. Era possível ver senhorinhas trajando combinação bege e colar de pérolas. Muita gente passada dos 40 anos.
No teatro Tabocas – que estava anos-luz da sala quente do Cine UFPE – se apresentou François Virot (FR), Radistae(PE), Sweet Fanny Adams (PE) e Zombie Zombie (FR). Os pernambucanos do Radistae foi a verdadeira grande revelação da noite. Com som completamente instrumental, e participação do maestro Spok, eles embalaram uma sonoridade que foi de Luiz Gonzaga à Kraftwerk. Mesmo com produção ainda no estágio dos estúdios o grupo fez todo mundo dançar e recebeu uma saraivada de palmas. Outra banda que mereceu destaque foi os meninos do Sweet Fanny Adams. O repertório deles já está bem acabado e lapidado e já está mais que na hora que enfrentar palcos grandes.
Já os franceses da Zombie Zombie se destacaram mais pela nacionalidade que pela sonoridade. Mas apresentaram, com muita competência, uma bateria, um teclado acompanhados por vários sintetizadores e efeitos bem bolados.
No palco do Teatro Guararapes, que para o primeiro dia amargava grandes espaços vagos se apresentaram JR. Black (PE), SP Underground (SP), Loney, Dear (SUE) e Lô Borges convidando Milton Nascimento (MG), respectivamente. Aqui a plateia era completamente diferente da juventude efusiva que puxava cigarro, dançava e soltava gritinhos. Todo mundo sentado, pedindo silêncio contemplaram as bandas que se apresentaram, uma a uma, com um certo ar de receio.
Quem subiu primeiro foi Jr. Black. O tom sério da apresentação pode ter afetado o próprio músico que fazia seu primeiro show. Ali ele misturou samplers, remixou a própria voz nos microfones. O SP Underground foi uma banda impessoal, que não atraiu muito a plateia e fez um show sem erros. Quem entrou meio animado foi o Loney, Dear. Eles conversaram com a plateia, cantaram juntinhos e fez alguns gatos pingados se dirigirem para a frente do palco. Sem maiores emoções suas músicas mais se assemelhavam a uma boa mistura entre A-HA e Roxette.
O que não se contava é que todo mundo estava esperando Lô Borges e sua eterna comemoração ao disco do Clube da Esquina. Eles cantaram todos os “mega sucessos” dos amantes do mpbismo entoando “Trem Azul” e “Tudo que Você Podia ser”. A bem da verdade todo mundo esperava, ansiosamente, Milton. E ninguém escondia um certo ar de “quero milton” que fez o querido Lô dizer “gente, daqui a pouco vou convidar meu amigo para cantar e tocar conosco”. E uma saraivada de homenagens marcaram o show que contou como “sombra” o vocalista do Skank, Samuel Rosa. Milton, desde que chegou ao palco, comoveu. Show corretíssimo, com direito a bis e boas experiências sonoras.