Neste sábado, 18 de janeiro, o Cinema São Luiz recebe a sessão “Ponta de Rua”, com o especial Festa infinita: dias granulados, noites pixeladas. O projeto reúne quatro curtas-metragens que cruzam as obras de realizadores contemporâneos e da década 70.
O especial exibe os filmes Festa infinita (2023), de Ander Beça, Afetadas (2021), de JEAN, Creuzinha não é mais tua (1979), de Amin Stepple, e Isso é que é (1974), de Geneton Moraes Neto. Após a exibição, os realizadores Ander Beça e JEAN estarão presentes para debater com o público.
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A curadoria da sessão convidada, assinada pelos curadores Felipe Karnakis e João Rêgo, propõe um diálogo entre tempos, linguagens e texturas cinematográficas do Recife e seus contextos históricos como pano de fundo. Quatro cineastas, aos seus modos, capturam a essência de um tempo em que a expressão artística é ao mesmo tempo um território de risco e de redenção.
Na década de 70, duas obras digitalizadas do ciclo Super 8, fruto dos trabalhos do Cinelimite e da Cinemateca Pernambucana, trazem à tona um Recife atravessado pela censura da ditadura militar. Os filmes de Amin Stepple e Geneton Moraes Neto buscam na câmera Super 8, de manuseio acessível e textura analógica, seu potencial ficcional-documental para registrar corpos de atores, amigos e colaboradores em sequências de construção cênica marcadas pelo desbunde coletivo. Tanto em Creuzinha não é mais tua, quanto em Isso é que é, a metáfora emerge como uma ferramenta que conecta planos, corpos, textos, a cidade e suas ruas.
Na contemporaneidade, Ander Beça e JEAN aprofundam seus interesses pela estética da imagem digital para capturar a efervescência que pulsa de seus atores, amigos e colaboradores. Em Afetadas, uma câmera Cybershot registra a vibração da cena eletrônica recifense e as tentativas de manter uma rede de afeto entre amigas. Em Festa Infinita, um coletivo experimenta formas de abrir brechas no tempo e no espaço, mas a força gravitacional da realidade os impõem desde a necessidade de captar financiamento em editais até a demanda de manter uma casa organizada.
As formas de resistência e as práticas de coletividade transbordam tanto no texto quanto na imagem dos filmes, com cada enquadramento expressando um interesse meticuloso pelas potencialidades da linguagem visual – seja no analógico, seja no digital. Entre temporalidades, texturas e estéticas, Ander Beça, Amin Stepple, JEAN e Geneton Moraes Neto articulam uma memória subversiva que conecta o Recife ao espírito inquieto da juventude e suas múltiplas camadas coletivas.
As formas de filmar evidenciam tanto rupturas quanto permanências: do desbunde libertário e experimental dos anos 1970 ao afeto como estratégia de resistência nos anos 2020, período em que o Brasil também lidou com os fantasmas autoritários do governo Bolsonaro. Censura, precarização dos editais culturais, governos autocráticos e seus espectros contemporâneos constituem o pano de fundo para que esses quatro cineastas registrem corpos, interações e expressões numa intensa busca por existir, resistir e transcender.