BONS CURTAS NA QUARTA NOITE DO CINEPE
A Guerra dos Gibis e Três no Tri foram destaque em uma seleção acima da média deste ano
Nem tudo está perdido. A noite da segunda-feira deu um alento aos que foram ao Centro de Convenções acompanhar a programação de curtas do CinePE 2013. A Guerra dos Gibis, de Thiago Mendonça e Rafael Terpins; Três no Tri, de Eduardo Souza Lima; e O Fim do Filme, de André Dib mostram que é possível, em 15 minutos, tratar um tema com precisão e explorar as possibilidades narrativas do audiovisual em sua plenitude.
Leia Mais: Cine PE 2013
Vendo ou Alugo trata de temas ásperos sem melindre
Primeiro dia de curtas não empolga
Entrevista: Adelina Pontual fala sobre Rio Doce-CDU
Giovanni Improtta tira riso pelo exagero
O documentário A Guerra dos Gibis foi sem dúvida o mais interessante. Primeiro pelo tema em si: a produção de quadrinhos eróticos na década de 1960 duramente cerceada pela censura do regime militar; e segundo, pela forma inteligente e criativa como os realizadores mesclam o formato tradicional das narrativas documentarias com elementos de animação a partir dos personagens dos gibis da época. Os depoimentos dos desenhistas e editores das revistas são visualmente bem cuidados e interagem de forma orgânica com as animações, trazendo ao espectador o universo de produção dos quadrinhos no Brasil no período enfocado, bem como os traços e estilos dos desenhos das revistas dos heróis Chico de Ogum, Beto Sonhador e Maria Erótica.
Dialogando com o tema do CinePE, o futebol, o documentário Três no Tri é uma justa homenagem ao fotógrafo Orlando Abrunhosa, autor da famosa foto de Pelé, Tostão e Jairzinho comemorando o gol da virada da partida contra a Tchecoslováquia na Copa do Mundo de 1970. O documentário de Eduardo Souza é convencional na sua estrutura, mas aborda a trajetória de Abrunhosa de uma maneira correta, dando ao personagem a oportunidade de ter o seu valor como profissional da imagem reconhecido e revelar outra faceta de sua vida: o sonho de ser compositor.
Outra bela surpresa foi a ficção paulista O Fim do Filme, do estreante André Dib. O filme mostra a história de João Lucas, um funcionário de uma videolocadora que tem a mania de contar o final do filme aos seus clientes. Repreendido pelo patrão, ele acaba sendo transferido para o turno da noite, ocasião em que conhece uma garota que sempre aluga o mesmo filme. Os dois passam então as madrugadas debatendo o significado do final deste filme, uma história de amor como a que eles passam a protagonizar.
Estudante de cinema adora trabalhar com metalinguagem e muitas vezes isto resulta em obras pedantes e xaroposas, Dib, porém, desfaz essa perspectiva. Ele tem a seu favor um roteiro criativo com bons diálogos, uma montagem eficiente e atores que não são excepcionais, mas que conseguem dar o tom exato aos seus personagens. O curta é leve, bem humorado e alcança uma boa empatia com o espectador. Todos esses elementos nos permite apostar numa boa carreira para o jovem cineasta.
Encerrando a programação foi exibido ainda o documentário À Luz do Dia, da carioca Joana Nin. O curta se inscreve no rol de filmes, muito em voga nos dias de hoje, sobre memória pessoal e resgata o passado da realizadora por meio de imagens de uma casa abandonada, onde viveu sua família, e de filmes domésticos realizados no local, mostrando momentos vividos pelos seus moradores. Acompanhado por um texto com as recordações da autora, vemos os cômodos vazios da casa e trechos dos filmes antigos sendo projetados nas paredes das salas, no mural do jardim, nos azulejos da piscina sem água. Joana tenta re-significar sua nostalgia dando-lhe um verniz poético, mas no final temos a sensação de que aquilo pode ser muito interessante apenas para ela e seus familiares.
