Cine PE: Mostra Pernambuco é uma das coisas mais interessantes do festival

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O que faz um filme pernambucano integrar uma ou outra mostra? (Foto: Mariana Guerra/Divulgação)

Mostra Pernambuco é para quem gosta de cinema
Sem pompas, nem falso glamour, mostra paralela do Cine PE é uma das coisas mais interessantes do festival

Por Alexandre Figueirôa
Editor da Revista O Grito!, no Recife

​Sabemos que alguns realizadores locais questionam a Mostra Pernambuco, um dos braços do CinePE. Eles preferiam ver suas produções na mostra oficial, no horário da noite, como acontecem com determinados filmes que têm a sorte de serem incluídos na grade mais nobre do evento. Embora os participantes da mostra concorram a prêmios e tenham seus filmes apreciados por uma comissão julgadora, esta separação ou loteamento não parece ter critérios claros: o que faz um filme pernambucano integrar um ou outro espaço? No entanto, mesmo correndo o risco de revelar certo provincianismo de minha parte, confesso que esta mostra me parece uma das coisas mais interessantes do festival.

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​O horário do sábado à tarde – 15 horas – não parece muito convidativo, todavia quem foi ontem ao Centro de Convenções para acompanhar a exibição dos filmes locais não se arrependeu. O Teatro Guararapes recebeu um bom público – cerca de 500 pessoas – que pode ver uma boa amostragem de como anda a produção fílmica local e, além disso, teve a sensação que estava realmente numa mostra de cinema. Nada de pompas e circunstâncias, falso glamour, celebridades (algumas bem duvidosas se realmente são isto), macumba para turista, e nem gritos e urros de torcedores de times de futebol, um comportamento adequado num estádio de futebol em final de campeonato. Quem estava nas Mostra Pernambuco estava interessado apenas em filmes.

​ E os quatro curtas-metragens exibidos ontem à tarde fizeram jus a seleção. Cineastas estreantes e veteranos apresentaram trabalhos interessantes e provocadores. O experimentalismo deu o tom da ficção A Vida Plural de Layka de Neco Tabosa e do documentário Dique de Adalberto Oliveira. O curta de Neco brinca com a linguagem cinematográfica e de forma anárquica mescla elementos narrativos tradicionais com sequências em que faz referência à fotografia e às artes plásticas. Já Dique, trabalho de conclusão do curso de cinema digital do realizador, explora imagens e sons da orla marítima numa descrição poética e simbólica da vida à beira mar.

​Retrato, ficção de Adelina Pontual e o documentário Os Silenciados não Mudam o Mundo, de Alexandre Alencar completaram o programa. O curta de Adelina é o segundo de uma trilogia que começou com o filme O Pedidoe tem também como mote a relação do personagem com a fotografia, no caso uma mulher de cinquenta anos que se confronta com seu envelhecimento. O filme é muito bem cuidado e revela a maturidade da cineasta. O documentário de Alencar é também um trabalho com rigor formal e domínio do tema que gira em torno do pensamento do educador Paulo Freire. Esperamos que os dois filmes restantes exibidos neste domingo acompanhem o mesmo nível de qualidade visto ontem.