Filme de Celso Sabadin levanta questões sobre o caipira e destaca importância de seu sucesso popular
Por Paulo Floro
Da Revista O Grito!, no Recife
O filme Mazzaropi, de Celso Sabadin, jogou luz sobre o ator e cineasta brasileiro pouco estudado e que ainda sofre preconceito por parte da crítica, estudiosos e artistas. Popular e dono de bilheterias que fariam inveja nos dias de hoje, ele fez sucesso ao interpretar a figura do caipira, do homem simples, mas esperto, vindo do campo. O mais curioso é que o longa foi exibido em um dos dias mais vazios na história do Cine PE, um contraponto ao grande apelo que um dia o “Jeca Tatu” já teve.
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O diretor Celso Sabadin traz uma proposta mais ousada para seu documentário, que o livra de algo esquemático que costumamos ver em cinebiografias. Mais do que cavucar o passado do artista, ele decidiu ampliar seu debate e levantou temas mais complexos, como a construção do caipira na história do Brasil, remontando formações da sociedade paulista. Falou também sobre o mercado cinematográfico no Brasil, o que nos leva automaticamente a uma comparação com os dias atuais em que se discute uma “indústria da insignificância”, como definiu o crítico Inácio Araújo, no UOL.
Mazzaropi, que nem era tão famoso fora de São Paulo, Minas e estados do Sul, conseguia vender cerca de cinco milhões de ingressos com seus filmes. Com sua produtora, ainda construiu estúdios e formou um circuito de atores e técnicos. Rejeitava os críticos e prêmios – que o esnobavam – dizendo que troféu e boas resenhas não pagavam os funcionários. E mesmo chegando a lançar duas produções por ano, Amácio Mazzaropi nunca deixou de se apresentar em circos e pavilhões, como fazia no começo da carreira.
O longa ainda relativiza o personagem. Longe de uma louvação desmedida, Sabadin evidencia também as vicissitudes de Mazzaropi como produtor e roteirista. Era um diretor que dava pouco espaço aos atores, usando-os como escada para piadas. Seus roteiros também eram esquemáticos, apresentando sempre a mesma estrutura, além de trazerem um humor preconceituoso, bem aceito nas décadas de 1960 e 70.
Gay assumido
Uma das maiores surpresas do filme é mesmo a retirada do armário de Mazzaropi. Gay assumido para os funcionários e amigos mais próximos, ele chegou a sofrer preconceito da classe artística de São Paulo. Como afirmaram os entrevistados que conviveram com ele, Amácio foi para cama com vários dos atores que hoje são galãs e atores veteranos, revelados por ele. É uma revelação importante do documentário, praticamente desconhecida do grande público, e que traz relevância para o filme de Sabadin.
O longa tem uma edição dinâmica e se aproveita bem de cenas clássicas de filmes de Mazzaropi. Mas, seria mais contundente se fosse mais curto. O diretor chega a repetir bastante os mesmos personagens, cansando um pouco a exibição. Ao final, tudo é salvo pelo carisma do caipira mais famoso de todos os tempos.
MAZZAROPI
De Celso Sabadin
[BRA, 2013 / Europa Filmes]
Documentário com Hebe Camargo, Amácio Mazzaropi, Ary Toledo
Nota: 8,0