Por Alexandre Figueirôa
Editor da Revista O Grito!, no Recife
Entre os três curtas exibidos na última noite da mostra competitiva do CinePE não resta dúvida que o mais empolgante foi a animação Dia Estrelado, de Nara Normande. O curta pernambucano foi filmado usando técnica de animação em stop motion com massa de modelar, um trabalho que requer muita paciência, mas quando bem executado resulta em obras realmente cativantes. Nara já é conhecida entre os pernambucanos por sua dedicação aos filmes animados e nos encanta com uma releitura de uma tela do pintor Van Gogh a partir de uma história passada no sertão nordestino.
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O curta apresenta uma perfeição técnica surpreendente com os bonequinhos de massa e o espaço em que eles estão inseridos sendo filmados com a mesma precisão de figuras humanas num set de filmagem convencional. Os enquadramentos, os movimentos de câmera, a iluminação impõem plasticidade às imagens e uma sensação de volume nas personagens e objetos, algo que as animações digitais por mais bem feitas que sejam, estão longe de transmitir. Do ponto de vista cinematográfico as massinhas em movimento conseguem ser uma possibilidade criativa muito mais poética e lúdica.
O segundo filme da noite foi A Fábrica, uma ficção do paranaense Aly Muritiba, já premiada em outros festivais. O curta mostra a história de um presidiário que convence sua mãe a levar um aparelho celular para ele na penitenciária. Este foi mais um filme com temática edificante exibido no CinePE e, como era de se esperar, despertou a empatia da plateia. Muritiba foi feliz na elaboração do roteiro ao contrapor a mãe do presidiário preparando-se para realizar a visita ao filho com o presidiário tenso e ansioso em receber a visita materna e por as mãos no telefone.
As cenas com a mãe tocam o espectador principalmente quando ela introduz o aparelho celular no próprio corpo e no momento da revista na penitenciária. O mais interessante do filme é a quebra de expectativa que a narrativa vai compondo, um tiro certeiro no coração do espectador. Quando todo mundo pensa que o presidiário põe em risco a segurança da mãe e a sua própria para praticar algum delito com o celular, descobre-se que ele queria o aparelho apenas para falar com a filha e desejar-lhe feliz aniversário.
Encerrando a mostra de curtas tivemos o filme brasiliense Sonhando Passarinhos, dirigido por Bruna Carolli. Ele também arrancou aplausos com sua singela historinha de uma garota sonhadora. Mesclando personagens reais e efeitos visuais de animação, o curta desperta simpatia e é agradável de ser visto, pois tem como maior mérito o cuidado técnico com a fotografia e a direção de arte, mas afora isto não diz lá muita coisa.
Resta-nos agora esperar pelos resultados da premiação a ser anunciada na noite desta quarta. A mostra competitiva de curtas deste ano do CinePE teve uma edição equilibrada com filmes bem realizados e entre os candidatos ao prêmio de melhor filme se Di Melo, Isso Não É o Fim, Maracatu Atômico – Kaosnavial e L for um deles não será surpresa, pois são obras bem talhadas para agradarem tanto o público quanto o júri.