A NOITE É DE MAUTNER
Personagem do longa Jorge Mautner – o Filho do Holocausto, artista ainda esteve presente no primeiro curta em competição nesse terceiro dia
Por Alexandre Figueirôa
Editor da Revista O Grito!, no Recife
Foto Clara Gouvêa / Cine PE
A noite de ontem do CinePE foi de Jorge Mautner. O criador de “Maracatu Atômico” era personagem central do longa de Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, o documentário Jorge Mautner – o Filho do Holocausto, e foi também protagonista do primeiro filme exibido na mostra competitiva de curtas: o pernambucano Maracatu Atômico – Kaosnavial, de Afonso Oliveira e Marcelo Pedroso.
O filme mostra o encontro entre Mautner e o mestre Zé Duda na Zona da Mata pernambucana onde o compositor realizou uma espécie de residência artística imersiva. Esta experiência resultou num disco composto e gravado pelos dois, e uma turnê de apresentações por várias cidades do país. Plasticamente o curta explora o colorido e o movimento das indumentárias dos caboclos de lança e os ambientes de contraste da região como na sequência inicial onde um caboclo acende seu cachimbo tendo por pano de fundo um canavial em chamas. A câmera acompanha Zé Duda e Mautner e aos pouco vai transparecendo a forte identificação entre os dois artistas com suas descobertas mútuas. O curta nos pareceu um desdobramento do filme Maracatu, Maracatus de Marcelo Gomes, flagrando a sobrevivência das tradições populares entremeada por elementos da cultura massiva.
Já KM 58, curta vindo de Alagoas dirigido por Raphael Barbosa não disse muito a que veio. O realizador tenta trabalhar a narrativa permeada por ocultações, elipses retorcidas, na possibilidade de criar um clima de mistério, só que houve um exagero no uso do recurso e o filme torna-se chato. Talvez ele deseje fazer o espectador preencher as lacunas da história por ele sugerida, mas que história? A de um homem que teve uma relação sexual com outro homem e ficou perturbado? Os espectadores do Centro de Convenções não parecem ter conseguido armar uma resposta ao desafio e quase não aplaudiram o filme. Falha do público ou do cineasta? Eu acho que o cineasta errou a mão.
E por fim tivemos uma comédia simpática de Jorge Furtado. O cineasta gaúcho, apesar de estar na ribalta da televisão e ter realizado diversos longas, não deixa de fazer algo que domina com muito talento desde o celebrado Ilha das Flores: curtas-metragens. Furtado trouxe para o CinePE Até a Vista, uma ficção com a assinatura de roteiro do próprio cineasta em que mais uma vez ele joga com as expectativas e as aparências dos personagens e das ações, transformando a trama numa divertida descoberta da realidade dos fatos pelos olhos do protagonista. No caso, um jovem cineasta brasileiro que vai para a Argentina tentar conseguir os direitos autorais de uma novela para realização de seu primeiro longa.
O rapaz encontra o autor e acaba tendo que viajar com ele para Belém do Pará em busca de uma moça por quem ele era apaixonado. O humor simples, mas certeiro e inteligente sem apelações baratas e carregado de um certo lirismo conduzem a narrativa e cumprem a função de um filme bem estruturado em seus propósitos de divertir e discutir uma situação dramática do cotidiano.
Bom, ainda estamos na metade da mostra de curtas, portanto é cedo para prognósticos de premiação. Vamos ver o que nos aguarda nos próximos dias entre filmes paulistas, paraibanos e dois pernambucanos: Dia Estrelado, de Nara Normande e Garotas da Moda, de Tuca Siqueira.