Depois de um Globo de Ouro marcado por críticas duras contra o assédio sexual e o machismo em Hollywood, um grupo de 99 artistas, liderado pela estrela Catherine Deneuve, assinou um documento contra o “puritanismo” e defende o “direito de importunar”. Publicado no jornal francês Le Monde, o texto é assinado ainda por nomes como a escritora Catherine Millet, a cantora Ingrid Caven, a cineasta Brigitte Sy, Gloria Friedmann e a desenhista Stéphanie Blake.
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“O estupro é um crime. Mas a sedução insistente ou desengonçada não é um crime nem o galanteio é uma agressão machista”, diz o texto. Elas dizem que o clima de delação não traz benefícios às mulheres, mas atende ao puritanismo de extremistas religiosos e inimigos da liberdade sexual. “Esta justiça expeditiva já tem suas vítimas: homens punidos no exercício de seu ofício, obrigados a se demitirem (…) por terem tocado num joelho, tentado dar um beijo, falado de coisas íntimas em um jantar profissional ou enviado mensagens com conotações sexuais a uma mulher que não sentia uma atração recíproca”, diz o texto.
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Falam ainda do retorno de uma “moral vitoriana”, que estaria por trás dessa febre “de levar porcos ao matadouro”, fazendo referência à hashtag em francês #balancetonporc (“denuncia teu porco).
Deneuve já tinha se manifestado contra o movimento #MeToo, onde mulheres compartilharam denúncias de abuso sexual e estupro. Em outubro do ano passado a atriz defendeu publicamente o cineasta Roman Polanski, acusado de estuprar uma jovem de 13 anos.
Outra signatária desse texto do Le Monde foi a filósofa Peggy Sastre, autora do ensaio “A Dominação Masculina Não Existe”. Outra que assinou foi a escritora Abnousse Shalmani, que já escreveu que o feminismo atual é um “novo totalitarismo”. A escritora e editora Catherine Millet, que fez sucesso com o livro A Vida Sexual de Catherine M., é uma das que mais se opõem a essas campanhas de denúncias e ao feminismo atual, que considera “exacerbado”.
Esse novo texto, contrário ao clima de justiça social e fim do assédio que permeia Hollywood nessa temporada de premiações, chega dias depois da criação do Time’s UP, iniciativa que criou um fundo para custear batalhas legais de mulheres contra seus agressores.
O texto repercutiu bastante na indústria e muitos criticaram a publicação no Le Monde de fazer um “desserviço” à luta pelo fim do assédio. Lembraram também de que muitos casos incluíram diversos níveis de violência.
So basically these artists don't know the difference between consent and assault? #TIMESUp #MeToo https://t.co/TfleW04723
— Miss Representation (@RepresentPledge) January 9, 2018