O ilustrador uruguaio Gervasio Troche retornou ao Brasil para promover seu novo livro, Bagagem, em uma turnê que passou por cinco cidades, São Paulo, Rio de Janeiro, Contagem (MG), Belo Horizonte e Salvador. Ele retorna ao país em agosto para a Parada Gráfica, de Porto Alegre e em novembro para a Bienal Internacional de Quadrinhos de Curitiba.
Babagem traz uma série de desenhos originais de Troche publicados em seu blog, além de alguns trabalhos inéditos. Conhecido pelo traço delicado e sem nenhum texto, o autor trata de temas profundos de maneira poética, mas com profundidade. Mas talvez a característica mais marcante de Troche seja o domínio que ele tem sobre o traço. Seus desenhos exploram o espaço do papel e criam cenas impossíveis cheias de vigor e sensibilidade. Essa inventividade rompe com expectativas do leitor sobre as possibilidades do cartum.
Depois do ótimo Desenhos Invisíveis (que também contou com turnê de lançamento pelo Brasil), este Bagagem traz uma boa seleção do universo particular de Troche. O livro está à venda no site da Banca Tatuí.
Filho de pais uruguaios exilados na Argentina, Troche nasceu em Buenos Aires em 1971. Passou a infância na Argentina, México e França, mas reside no Uruguai há 30 anos. Conversamos com Troche durante sua última visita ao Brasil em junho. No meio da correria do pé na estrada durante a turnê, ele nos respondeu a uma rápida entrevista por e-mail. Veja abaixo:
O que pode nos contar de Bagagem, seu novo livro que acaba de sair no Brasil?
Bagagem é meu segundo livro que apresenta desenhos que subi no meu blog de 2013 a 2016. Segue a mesma linha do meu primeiro livro com desenhos sem texto e em preto e branco. Mas foi feito em um momento na minha vida onde as coisas foram mudando e eu também fui mudando.
Esta é sua segunda turnê no Brasil, certo? O que você mais gosta dessas viagens e o que descobriu de interessante ao passar por cidades brasileiras tão diferentes entre si?
Gostei de conhecer outras realidades, outros mundos dentro deste mundo. Me fez crescer e ver além das coisas. Brasil é muito inspirador. Sempre acabo perdendo o olhar com qualquer canto do Brasil.
Seus desenhos tem uma poeticidade e uma delicadeza e são também profundos e multifacetados. O que te inspira a desenhar?
Tudo me inspira. O que acontece dentro de mim e o que acontece fora.
Pode falar um pouco de seu processo criativo? As ideias e o desenho nascem juntos? Como é transpor uma ideia que está na mente para um papel em branco?
As ideias e o desenho são a mesma coisa. Tento imaginar uma cena, quando penso em uma, faço o rascunho e depois o finalizo. Depois que o desenho está pronto volta tudo ao início. É um círculo que nunca termina.
O que a noite representa em seu trabalho?
A noite representa a noite que eu vejo. Minha interpretação da noite.
A política te move de alguma maneira, artisticamente falando?
Sou um ser humano e fico triste ao saber de outros seres humanos que sofrem.
Como foi o seu início? Qual a lembrança mais remota de querer trabalhar com desenhos, cartuns?
Comecei a desenhar como um jogo, como uma forma de me expressar e até hoje faço da mesma forma.
Quais nomes você acompanha/admira no quadrinho brasileiro atual?
André Dahmer, Fabio Zimbres, Laerte, Rafael Correa, Rafael Zica.