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Tandri e Viv protagonizam romance (Divulgação)

“Cafés e Lendas” recusa o épico e cria história fantástica no aconchego

Livro de estreia de Travis Baldree redistribui os elementos clássicos de um mundo mágico para compor uma trama leve com personagens LGBTQIA+

Cafés e Lendas
Travis Baldree
Intrínseca, 336 páginas, R$ 59,90 / 2024. Tradução de Flora Pinheiro


Obras de fantasia, normalmente, descambam para o lado das grandes jornadas épicas, com heróis perfeitos em sua conduta que lutam inimigos cada vez mais fortes e maléficos. Não há nada de errado com seguir esse modelo, que provou por décadas ser o mais bem sucedido, mas Cafés e Lendas aposta em um estilo de narrativa um pouco diferente.

O romance de estreia de Travis Baldree, conhecido por seu trabalho em videogames como Torchlight e Fate, recusa esse esqueleto narrativo e explora outra possibilidade que soa muito surpreendente. Ele redistribui os elementos clássicos de um mundo mágico – com muita base no estilo da fantasia dos mundos RPG – sobre uma trama que, se fosse situada no nosso mundo, não soaria muito interessante.

Um recomeço de carreira na vida de um ser humano normal não é tão entusiasmante quanto o recomeço na vida de uma orc que antes era mercenária e carrega consigo objetos mágicos e perigosos. Esse destino alternativo não apenas chama atenção do leitor mas também abre brechas muito interessantes na construção de Viv, a protagonista.

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A escolha de Viv em mudar de trabalho tem origem no seu desejo de não querer mais uma vida perigosa, mas a mudança vem junto da superação de estigmas. Como uma criatura forte, musculosa e cheia de cicatrizes, ninguém entende a escolha de Viv, mas é sua insistência nesta alternativa leva a história a diante. Essa reflexão a respeito de preconceitos e papeis sociais impostos não é uma temática rara hoje, mas não deixa de ser surpreendente no caso da fantasia e ainda mais sendo levada com tanta naturalidade.

As relações entre as criaturas também são bem delineadas pelo autor de forma pouco convencional. A equipe de criaturas muito diferentes, mas que funcionam bem quando juntas – outro item recorrente da fantasia – não se encontra nos campos de batalha, mas servindo mesas e confeitando doces, nessa convivência que também acaba rendendo um romance LGBTQIA+ doce e bem calmo.

Além de extrair as criaturas e magias das tramas fantásticas, Baldree carrega também o apego pela descrição minuciosa. Todos os lugares, ações, e personagens são muito trabalhados na sua descrição, mas essa é uma característica que acaba ocupando mais espaço do que deveria. A descrições tomam muito espaço que poderia ser dado à narrativa, mesmo que ela não seja tão agitada, como é o caso de Cafés e Lendas.

travis baldree
O autor Travis Baldree. (Foto: Divulgação/Intrínseca).

Ilustrações poderiam ter sido uma alternativa a essa descrição exagerada, para que diálogos fossem maiores, mais profundos e a história avançasse mais rápido. Apesar de soar como algo bom na introdução ao mundo em que a história se ambienta, a presença da descrição no romance inteiro bloqueia o fluxo da leitura nas poucas cenas mais tensas ou que trazem algum acontecimento central.

Sendo uma história fora do comum para seu estilo literário, Cafés e Lendas mostra que os livros de fantasia nem sempre precisam nos levar em jornadas imensas e batalhas hercúleas. Apesar de seus problemas, o romance supera essas questões com as reflexões interessantes e o tom leve da sua história.

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