Crítica: Beach House retorna mais grave e sombrio no ótimo 7

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O duo de dream pop Beach House, formado pela francesa Victoria Legrand (vocal e teclados) e Alex Scally (guitarra), tem uma característica interessante e muito difícil de alcançar por outras bandas e artistas: a regularidade. Com treze anos de existência, o Beach House vem apresentando álbuns que sempre acrescentam algo novo na proposta do duo, estabelecida desde a estreia com o homônimo Beach House (2006).

A cada novo disco, a dupla sempre tem a preocupação de não desgastar o público com fórmulas repetitivas, ou de se permitir ficar preso a uma zona de conforto. Além disso, ainda quando buscam novas referências e experimentos para construir seus trabalhos, Victoria e Alex conseguem ser assertivos. Muito diferente de bandas como The Strokes, por exemplo, que após o segundo álbum, Room on Fire (2003), começaram a entregar trabalhos bem dissonantes em relação aos antecessores.

Com 7, sétimo disco de inéditas da dupla, lançando no final do semestre passado, Beach House mostra-se seguro em relação ao destino que quer chegar neste registro. Para o público que os acompanha, o novo trabalho pode soar mais sombrio, com arranjos que dão preferência às nuances mais graves e de pequenos ruídos que contribuem para isso, muito diferente da levada mais pop de Bloom (2012) ou da candura nostálgica de Teen Dream (2010), álbuns responsáveis por afirmar o duo como um dos mais influentes no cenário do dream pop e da música alternativa da contemporaneidade.

“Dark Spring”, “Pay No Mind” e “Lemon Glow” já iniciam o disco anunciando canções que prezam por riffs de guitarra mais destacados, como fio condutor das canções. Já “Lemon Glow” leva o duo por uma rota diferente. A canção flerta com uma sonoridade psicodélica e incrementada por ruídos, dando forma a uma textura mais sólida, menos anuviada, aspecto, esse, muito presente na discografia da dupla.

Porém, Victoria e Alex, na segunda parte do disco, percorrem por rotas familiares. “L’Inconnue”, “Drunk In LA”, “Lose Your Smile” e “Woo” são algumas das faixas que transitam por arranjos mais amenos, de ritmo um pouco mais desacelerados, o que lembra o catálogo de canções do Depression Cherry (2015), mas longe de soar como uma repetição do que já foi apresentado. Acrescentado a isso, os sintetizadores de Victoria, aos poucos, vão ganhando mais espaço nas canções, criando bases sintéticas mais perceptíveis ao ouvinte e dando mais corpo à construção de uma sonoridade onírica.

Arranjos harmônicos; o casamento perfeito entre a guitarra de Alex e o sintetizador de Victoria; e canções que parecem ter saído dos sonhos da dupla e tomado forma são os elementos que sempre guiaram o duo. Dessa vez, eles resolveram tornar o trabalho um pouco mais sólido, recorrendo aos graves nos minutos iniciais do disco, mas não se esqueceram de entregar faixas mais oníricas, mais sonorizadas.

7 é a prova de que o duo Beach House, mesmo que com mais de uma década de carreira, consegue se manter firme e seguro na produção dos seus registros. A cada novo álbum, há surpresas, novas referências e um traço inventivo, mas sem esquecer-se das peculiaridades que os tornaram tão relevantes para o gênero do Dream Pop.

BEACH HOUSE
[Sub Pop, 2018]
Produzido por Beach House, Peter Kember

beach house

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