Autobiografia de Maya Angelou, Mamãe & Eu & Mamãe, inédita no Brasil, chega este mês pela editora Rosa dos Tempos. A obra chega às livrarias no mês em que a autora faria 90 anos
Na autobiografia a autora de Eu sei por que o pássaro canta na gaiola fala sobre sua reconciliação com a mãe e como aprendeu com ela a enfrentar os desafios da vida e da carreira de dançarina, cantora e escritora. “Autobiografias são terrivelmente sedutoras. Quando comecei a escrever, percebi que estava seguindo uma tradição estabelecida por Frederick Douglass, que é a narrativa escrava. Falando na primeira pessoa do singular sobre a terceira pessoa do plural. Sempre dizendo ‘eu’, que significa ‘nós’”, disse Maya Angelou no documentário E ainda resisto, disponível na Netflix.
Vivian Baxter e Bailey Johnson decidiram se separar quando os filhos eram pequenos e, de comum acordo, enviaram as duas crianças, de 3 e de 4 anos, sozinhas, num trem do Missouri para a casa da avó paterna, mãe de Bailey, no Arkansas. O pai visitava as crianças sem avisar e, numa das viagens, decidiu levá-las de volta para a casa da mãe. Maya Angelou, a mais nova, tinha 7 anos quando foi passar uma temporada com Vivian e sofreu um de seus maiores traumas: o namorado da mãe a estuprou, em casa. Após contar para o irmão que havia sido violentada, o agressor foi preso e, solto logo depois, foi encontrado morto.
Com medo do poder de suas palavras, que causaram até a morte de alguém, ela passou os cinco anos seguintes sem falar. Já de volta ao Arkansas, ela leu e decorou de Shakespeare a Balzac, passando pelos grandes clássicos da literatura mundial que lhe caíam às mãos. Maya frequentava os cultos da igreja protestante e a casa de uma senhora, vizinha da avó, que lia poemas para ela. Essa senhora um dia a desafiou dizendo que um poema só pode ser entendido e sentido quando se sabe lê-lo. A menina voltou a falar.
Quando completou 13 anos, Maya voltou para o estado da Califórnia, com o irmão, para se reconciliar com a mãe. Se logo cedo ela percebeu que as palavras, as músicas de louvor e a literatura tinham poder, foi na convivência com Vivian Baxter, a mãe a quem ela chamava de Lady, que ela aprendeu a enfrentar o racismo e o machismo e ganhou o afeto necessário para se tornar uma mulher independente e com autoestima. Dançarina, cantora e militante, Maya foi convencida por um editor a relatar as suas histórias incríveis em livros. A escritora e poeta lançou então uma série de autobiografias, entre elas Mamãe & Eu & Mamãe, em que conta a história de sua relação com a mãe e como, com a força dela, enfrentou episódios difíceis de sua vida, entre eles o espancamento que sofreu de um namorado e a gravidez não planejada de seu único filho.
Vivian Baxter é uma personagem tão importante e forte quanto Maya. Enfermeira, agente imobiliária, dona de casas de bilhar e apostas, empresária respeitada na São Francisco dos anos 60 e 70, Vivian aprendeu com o pai e os irmãos que deveria enfrentar qualquer briga na rua no braço. Destemida, ela arrumou um emprego num navio ao descobrir que mulheres que trabalhavam na marinha mercante eram proibidas de se filiarem ao sindicato da categoria. Quando a filha surgiu com o dilema de aceitar ou não ser dançarina e stripper numa casa noturna de Los Angeles, ela não titubeou: levou Maya para comprar os figurinos e a apoiou. Foi contra o casamento da filha, com um homem branco, mas a recebeu de braços abertos quando Maya se separou.
Mamãe & Eu & Mamãe é o segundo título do selo Rosa dos Tempos, relançado este ano pelo Grupo Editorial Record. O livro tem 176 páginas a R$ 39,90 e chega às livrarias em abril.