NICOLE EMBARCA EM MELODRAMA ESQUIZOFRÊNICO
Filme começa aventura, vira comédia e termina em dramalhão. Mas quem embarcar na atmosfera melosa, terá diversão garantida
Por Lidianne Andrade
AUSTRÁLIA
Baz Luhrmann
[Australia, EUA, 2009]
Deve-se reconhecer quando se vê um bom contador de histórias. O diretor Baz Luhrmann é um desses caras que sabe escolher um bom conto para jogar na telona. Depois dos bem sucedidos Romeu e Julieta (com Di Caprio e Claire Danes) e Moulin Rouge, sabia o que estava fazendo quando planejou Austrália. O acerto começa pela narrativa na voz do pequeno Nullah (Brandon Walters) fazendo a apresentação inicial dos personagens e guiando o rumo da vida na fazenda Faraway Downs.
Ambientado na Austrália de 1940, o épico conta o trajeto de redescoberta da inglesa Lady Sarah Ashley (Nicole Kidman) de si mesma. Casada, sem filhos e com dívidas no patrimônio, resolve não mais esperar o marido e vender a sua fazenda ela mesma, indo à interiorana cidade australiana de Darwin. Encontra o marido morto, descobre roubo e assassinato entre seus empregados e preconceito de raças entre os moradores, sendo obrigada a tomar as rédeas da situação e tocar os negócios.
Bem estruturada, a trama segue pela nova vida de Sarah no deserto e sua decisão de salvar a fazenda, com a ajuda do Capataz (Hugh Jackman) para levar a boiada até o cais para ser vendida ao exército. O roteiro bem escrito e conduzido leva a uma viagem na enxurrada de sentimentos dos personagens, com uma mixagem entre alegria e tristeza beirando a angústia. Sarah sorri por conseguir salvar a boiada mas minuto seguinte chora por não ter filhos, um pouco adiante sorri pela nova paixão para segundos depois chorar novamente suposta perda de seu agregado.
Ninguém entrou em Austrália para perder. Luhrmann investiu horrores para contar uma história em sua terra natal e Nicole Kidman fez um esforço tremendo para sair de uma inglesa arrogante para “cowgirl” apaixonada pelo sarado Capataz. E Kidman impressiona em sua metamorfose. Mostra a força e dureza ao subir no cavalo, classe no baile entre os nobres e comoção com a suposta perda do pequeno Nullah. Jackman, o mundialmente conhecido Wolverine da trilogia de X-Men, leva aplausos na caracterização de um maduro e rústico boiadeiro, abatido por angústias passadas e embarcando em uma nova paixão.
Austrália é mesmo um romance piegas, com lágrimas, mortes, dor e desespero, mas cativante. É preciso uma imersão na atmosfera melosa e um tanto quanto melancólica do longa para poder apreciar.
Trilha melosa e certeira – Escolher ‘“Somewhere Over the Rainbow” foi um tiro bem dado no alvo. O clássico O Mágico de Oz serviu como metáfora para a trajetória de todos os personagens, com destaque para a jornada do pequeno Nullah para seu paraíso pessoal, sua jornada. Sarah encontrou seu ‘além do arco-íris’ ao lado do Capataz e este, ao lado de uma mulher que descobriu poder amar novamente. David Hirschfelder também merece todas as honrarias pela excelente e por vezes comovente trilha. Se é um drama, deixa comover mesmo!
Sem deixar de notar algumas coisinhas ruins, a divagação de tons do filme soa estranho. Apesar de ser claramente um romance, o longa podia passar sem suas mudanças de humor: começa como uma comédia, passa por aventura, transforma-se num drama romântico com direito a beijos apaixonados e termina com ação.
Ao melhor estilo de E tudo o Vento Levou, Austrália vem para lembrar o doce sabor de um romance. Aqui não há adolescentes apaixonados, mas pessoas maduras (Nicole não transpira mais o doce sabor da adolescência) se redescobrindo diante de um sentimento forte. E como todo bom filme de amor, tudo fica bem no final, deixando um sentimento de conforto e enxugando as lágrimas.
NOTA: 7,0
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