MAIS REALIDADE
Longe de ser o último biscoito do pacote, Aimee Mann lança sétimo álbum e abandona as guitarras em 13 músicas extraídas unicamente dos teclados
Por Fernando de Albuquerque
AIMEE MANN
@#%&*! Smilers
[SuperEgo, 2008]
Em 1999, Paul Thomas Anderson, imortalizou o cinema com uma chuva de sapos ao som de Aimee Mann. A cena pertence a Magnólia e a música é tão marcante e indelével quanto as imagens (na realidade ambas são indissociáveis). PTA afirmou que escrevera o argumento do filme ao som de Bachelor Nº. 2, daí o convite para a cantora fazer a trilha. Depois disso Aimee nunca mais deixou os holofotes e agora lança novo álbum em um trabalho que, nas palavras da compositora em entrevista a Vanity Fair, tem um mix de som completamente diferente e ainda não visto em sua carreira. O álbum recebeu o título de #%&*! Smilers, algo como “Fuck” Smilers e chega às lojas brasileiras no próximo mês de junho.
Aimee abandonou a parceria com o criativo produtor Jon Brion e escalou operários para ornamentar suas canções em #%&*! Smilers. E por isso alguns podem achar que este é mais um álbum dentro da carreira da cantora, mas, definitivamente, não é. Nesse disco ela mostra sua consistência musical que teve início quando liderava a Young Snakes, fazendo um estilinho pretending to be punk ou mesmo com o Til Tuesday, grupo que estourou nos anos 80 com um pop bem sofisticado e cabelos espetados. E só depois dessas viagens é que vieram a carreira solo. Mas dentro de toda essa amálgama de sentimentos recolhíveis que é Aimee, esperava-se um disco meramente excelente, porém previsível, ou sem grandes novidades. Todo mundo queimou a lingua.
Depois da ousadia conceitual em The Forgotten Arm – que conta a tumultuada história de amor entre John e Caroline em 12 faixas de fazer o ouvinte soluçar de tanto choro – não se esperava mais experimentos de Aimee que surpreende ao sair de sua zona de conforto com os instrumentos de corda. Em @#%&*! Smilers ela não usou guitarras elétricas, abusou de teclados, sintetizadores e moogs, acrescentou cordas sutis, leves e metais. Fez refrões pegajosos, cantou a pior das dores de cotovelo, os amores mais platônicos, as paixões mais não correspondidas e ainda cantou em falsete. O resultado é diferente de tudo que Aimee construiu e é um absurdo de tão bom.
Apesar do experiemtal ela evoca todas as suas marcas registradas, da voz classuda aos arranjos com naipes de metais. E as letras mantém o tom confessional capaz de substituir toda uma prateleira de livros de auto-ajuda. As 13 faixas foram escritas por Mann, com excessão de “True Beliver” que é fruto de parceria com Grant Lee Phillips. Ela também encara todos os vocais e um dueto em “Ballantines”, com Sean Hayes. Com essa artilharia, Aimee entrega algumas das melhores canções do ano. “Freeway” é o single. A música abre o álbum com uma competência fora de série em refrões que foram feitos para cantar junto e que grudam na cabeça. Aqui ela lembra um pouco a sonoridade do Breeders cantando “And everything I do is wrong…/But at least I’m hanging on”.
“31 Today” é uma velha conhecida dos fãs já que foi lançada mês passado no YouTube em um engraçado vídeo da cantora. E apesar da letra pesada (I thought my life would be different somehow/ I thought my life would be better by now/ But it’s not, and I don’t know where to turn) essa é uma das músicas mais irônicas que aimee já gravou. Aqui ela não fala de mim ou de você, mas sim de uma terceira pessoa que faz de tudo para aparecer e ganhar importância. “Looking For Nothing” é uma das mais fortes, tensas e materialistas de todo disco. Aimee despreza com toda força o pseudo-estorvo por quem ainda se nutre algum sentimento de amor no peito (I was looking for nothing to spend my money on this).
Aimee seria pleno sucesso, mas suas composições e seu jeito “estou indo embora tchau” de ser estão anos-luz da popularidade de uma Celine Dion. Mas isso não impede que ela se prepare para uma turnê de lançamento de seu disco.
NOTA: 9,5
Aimee Mann – 31 Today