Apesar de orgulho com todas nossas listas, a de quadrinhos carrega consigo um significado diferente para nós. Diferente das outras, não é propriamente O Grito! quem a a faz, e sim a indicação, através de listas menores, de profissionais ligados às HQs que fomos colhendo ao longo deste mês.
A nós coube apenas determinar critérios de desempates entre os títulos apontados, em ordem de relevância, pelos críticos que contribuiram conosco para a lista de 2008. Uma tarefa, em certos pontos, ingrata. Mas ao julgar o resultado final dos 30 melhores quadrinhos, definidos assim por quem melhor movimenta os títulos no mercado – os críticos -, consideramos o resultado bastante honesto e bastante eloqüente com a boa safra que esse ano rendeu ao gênero.
Mas isso cabe a você, leitor, concordar ou não. Vamos à lista!
Textos por Paulo Floro e Talles Colatino
30
AS AVENTURAS DE TIN TIN – REPÓRTER DO PETIT VINGTIÉME NO PAÍS DOS SOVIETES
Hergé (Companhia das Letras)
Tin Tin é tido como um dos mais importantes personagens dos quadrinhos de todos os tempos, tanto pelo que ele representa dentro da Arte Sequencial, quanto para as artes em geral, fazendo de seu criador Hergé, um autor reconhecido no meio artístico e literário. Este volume mostra a origem do repórter e assim como os outros álbuns da série, ganhou tratamento merecido da Companhia das Letras.
29
O CIRCO DE LUCCA
Jozz (Devir)
O livro que surgiu como um trabalho do curso de Desenho Industrial chamou atenção pela sua técnica inovadora e o uso da metalinguagem para explicar como se produz uma HQ. Ainda ajudou a revelar o autor Jozz, que neste ano fez uma mini-turnê pelo país para divulgar seus trabalhos.
28
CAPITÃO AMÉRICA – A MORTE DO SONHO
Ed Brubaker e Steve Epting (Publicado na revista mensal Os Novos Vingadores; Panini)
Nos último anos nenhuma HQ ganhou tanta relevância da grande mídia quanto a morte do Capitão América. Mesmo aqui no Brasil, com um atraso de um ano em relação à publicação nos EUA, a última história de um dos símbolos norte-americanos encontrou eco. Ponto para a Marvel, que com isso reformulou o personagem para os tempos atuais, onde o conceito da América está muito mais complexo e menos idealizado.
27
PREDADORES
Jean Dufaux e Enrico Marini (Devir)
Obra-prima do belga Jean Dufaux, com arte do suíço Enrico Marini, “Predadores” chegou ao mercado brasileiro com seu devido alarde. Dotada de uma narrativa primorosa, a saga narra o encontro da policial Vicky Lenore com os irmãos Camilla e Drago, caçadores que executam criminosos sem piedade.
26
BLACK HOLE
Charles Burns (Conrad)
Diferente de Fábio Lyra, Charles Burns retrata a juventude em Black Hole de uma maneira, digamos, nada saudável. O segundo e último volume da saga, delineia o fim de uma praga que assola a Seattle da década de 70, na qual vários jovens acabam vítimas logo seu primeiro contato sexual.
25
CALVIN E HAROLDO YUKON HO
Bill Waterson (Conrad)
A questão é que Calvin e Haroldo nunca é demais. Dando continuidade ao seu projeto de lançar toda a aclamada obra de Bill Watterson, a Conrad lançou seu quarto título. Questionador como a maioria das crianças, Calvin só encontra profundidade das suas questões ao lado do seu tigre de pelúcia Haroldo.
24
FRANGO COM AMEIXAS
Marjane Satrapi (Companhia das Letras)
Depois do sucesso hypado e pautado de “Persepólis”, Marjane Satrapi retornou ao mercado brasileiro com “Frango com Ameixas”, no qual ela se dedica a narrar a história do seu tio-avô, Nasser Ali Khan, que vai desdobrando suas memórias na busca de um novo tar, um raro instrumento musical.
23
A FORÇA DA VIDA
Will Eisner (Devir)
Eisner retorna aos subúrbios de Nova York, para falar da dura vida de pessoas, a maioria imigrantes, durante a Grande Depressão de 1929. Mesmo com poucas experimentações na narrativa, este é um dos mais tocantes livros do autor americano, sendo célebre a clássica cena onde o marceneiro judeu Jacob conversa com uma barata.
22
LEÃO NEGRO – SÉRIE ORIGENS – VOLUME 1 – GARDO
Cintia Carvalho, Ofeliano de Almeida e Danusko
Campos (HQM Editora)
Uma das principais sagas de aventura dos quadrinhos nacionais ganhou um tratamento cuidadoso da HQM. Publicada originalmente no jornal O Globo nos anos 1980, ganhou relativo sucesso e teve até álbuns na Europa. Apesar de ter a história retomada, esta série clássica ainda permanece como o melhor que os autores já produziram.
21
SANDMAN ENTES QUERIDOS
Neil Gaiman e Vários artistas (Conrad)
O penúltimo capítulo do épico Sandman chegou por aqui em fevereiro. Neil Gaiman optou por escrevê-lo aos moldes de uma tragédia grega para narrar a trajetória de Hippolyta Hall, na busca implacável pelo seu filho Daniel. Para dar início à sua jornada, ela vai em busca da ajuda das Fúrias, o que torna as coisas bem complicadas para Morpheus.
20
MENINA INFINITO
Fábio Lyra (Desiderata)
Fábio Lyra transformou sua própria Mônica num símbolo indie. Jovem, insegura, fã de rock e cinema, a personagem de Menina Infinito consegue ser traduzida como uma crônica extremamente bem elaborada da juventude atual. Dos amores aos seus dissabores.
19
FELL – CIDADE BRUTAL
Warren Ellis e Ben Templesmith (Landscape)
Em Fell, Ellis encontrou uma parceria perfeita para seus roteiros intrigantes, um tanto complexos. Ben Templesmith, de 30 Dias de Noite tem uma arte ao mesmo tempo perturbadora e bela, que casou bem com a trama sobre um policial transferido para uma cidadezinha onde a corrupção parece ser o correto para se viver e também com as experimentações narrativas.
18
DEMOLIDOR
Ed Brubaker e Michael Lark (Publicada na revista Marvel Action; Panini)
Depois da saída de Brian Michael Bendis, que trouxe uma repercussão de crítica e público para o Demolidor como não se via desde Frank Miller, a nova dupla criativa soube manter o bom ritmo das histórias. Uma boa fase que chegou até ter título próprio no Brasil. Agora, escondida no mix da revista Marvel Action, o clima das histórias foi mantido, com Brubaker reconstruindo o repertório de vilões e criando mais problemas para a vida de Matt Murdoch.
17
UNDERWORLD
Kaz (Zarabatana)
Uma coletânea das freaks e geniais tiras de Kaz ganharam pela Zarabatana um álbum extremamente simpático. A idéia dos personagens non-sense de Kaz, apesar de não parecer, não é tirar o riso fácil, apelando para um humor fugaz. A crítica, mais que piadista, parte de uma caricatura mais crua de uma sociedade que ainda não se libertou de amarras. De criação artística e vivência.
16
INVISÍVEIS V. 01 – A REVOLUÇÃO
Grant Morrison e Vários Artistas
Um clássico que dispensa maiores apresentações. Invisíveis de Grant Morisson é um desses, e só esse ano ganhou uma edição à altura. Publicado entre 1994 e 2000, o título ganhou um encardenado da Pixel, contendo os oito primeiros números, presentes no arcos “Beatles Mortos”, “Tão Fodido no Céu como no Inferno” e “Arcádia”.
15
VIOLENT CASES
Neil Gaiman e Dave McKean (HQM Editora)
A primeira graphic novel da dupla Neil Gaiman e Dave McKean ganhou um tratamento de luxo – que a obra pede diga-se – pela HQM. Na obra, um narrador relembra episódios da infância ao lado de um osteopata, que foi assistente de Al Capone. Publicada em 1987 nos EUA, ainda hoje surpreende pela experimentação tanto estética quanto narrativa, que fariam a fama dos dois autores durante duas décadas seguintes.
14
CHE
Alberto Breccia e Hector Oesterheld (Conrad)
Publicada pela primeira vez em 1968, a biografia em quadrinhos do mito Che Guevara, assinada por Héctor Oesterheld e os ilustradores Alberto e Enrique Breccia, foi recolhida na época pelo governo argentino. E só agora, no final de 2008, o título foi (muito bem) recebido no Brasil.
13
O FOTÓGRAFO VOL. 02
Dorothee de Bruchard e Emmanuel Guibert (Conrad)
A boa união entre jornalismo e quadrinhos segue fazendo efeito na continuação da saga a seis mãos de Didier Lefèvre, Emmanuel Guibert e Frédréric Lemercier. No segundo volume, o fotógrafo Didier Lefèvre chega a Zaragandara, cidadezinha em que vai registrar o trabalho da organização mambembe “Médico Sem Fronteiras”
12
MUERTOS
Daniel Pereira dos Santos (Quarto Mundo e no site)
O mais exitoso lançamento online nacional se destaca pela trama, sobre um homem misterioso que tem negócios a tratar no Paraguai, na vila “Muertos”, onde se passa quase toda a história. Mas é sua vida online que levou tão longe. Mesmo com um lançamento impresso, o autor Daniel Pereira dos Santos conseguiu chamar atenção usando um meio ainda hoje muito pouco explorado por quadrinhistas do mundo inteiro. A boa repercussão da crítica só prova que existe saídas inteligentes para se fazer e conhecer novas HQs.
11
GRANDES ASTROS SUPERMAN
Grant Morrison e Frank Quitely (Panini)
Mais uma vez a série All Star, da DC ganha notoriedade na lista. Pelo segundo ano, Grandes Astros Superman surpreende pela roteiro ágil e narrativa cinematográfica do desenhista Frank Quitely. O que chama atenção da edição brasileira é a escolha da Panini em lançar no formato original, com um preço barato se comparado aos seus demais lançamentos.
10
SANDMAN DESPERTAR
Neil Gaiman e Vários Artistas (Conrad)
O último volume da saga de Lorde Morpheus chega ao fim e encerra também uma fase dos quadrinhos nacionais, onde a Conrad imprimiu um salto de qualidade nos quadrinhos vendidos em livrarias com seu elogiado projeto editorial para os álbuns de Sandman. Aqui, vários sonhadores prestam homenagem ao Senhos dos Sonhos e mostra uma nova era para o Sonhar, agora aos cuidados de Daniel (contar mais estraga a leitura). Ao longo de mais de 75 edições, Gaiman imprimiu um novo panorama criativo para o mainstream dos quadrinhos dos EUA. A partir da série, assim como outros títulos da Vertigo, houve uma popularização das chamadas HQs para adultos, com tramas mais elaboradas, sem tanta necessidade de um feedback do público mais jovem. Aqui no Brasil, Sandman sempre teve publicações erráticas até ganhar tratamento editorial da Conrad, premiada com vários prêmios. Com os direitos de publicação passados à Pixel, esperava-se uma popularização da obra, com edição menos luxuosa e preços menores. No entanto, o futuro ainda é incerto para os novos volumes, já que não se anunciou novos lançamentos da editora.
09
O CABELEIRA
Hiroshi Maeda, Leandro Assis e Allan Alex (Desiderata)
Um livro que foi apresentado como um roteiro de cinema, O Cabeleira impressiona pelo ritmo ágil da narrativa, que mais parece um filme de ação. Adaptado de um romance de Franklin Távor, a HQ conta a história do personagem do titulo, um dos maiores bandoleiros do Brasil, que cometia as mais diversas atrocidades por volta de 1875. Ponto para os autores Leandro Assis, Hiroshi Maeda e Allan Alex, sobretudo este último, longe do mundo dos quadrinhos desde a década passada, quando ficou conhecido na extinta revista Porrada!. Com este livro, a Desiderata se tornou uma das editoras com o melhor catálogo em se tratando de quadrinhos nacionais.
08
PLANETARY
Warren Ellis e John Cassaday (Publicada na revista mensal Pixel Magazine; Pixel)
Warren Ellis apresentou uma nova forma de pensar os quadrinhos de super-heróis com Planetary, talvez sua obra mais cheia de referências. Aqui, escondido sobre uma complexidade, está uma das obras mais impactantes das HQ’s, misturando desde História Antiga até cultura pop, passando por astrofísica e literatura clássica. É de se impressionar como tudo pode sair da cabeça de um único homem. E ainda sobrar espaço para criar diálogos ágeis que prendem a leitura. Mesmo tendo pouco mais de duas dezenas de números, Planetary sempre teve uma cronologia confusa no Brasil. Nem mesmo a Pixel conseguiu resolver a bagunça que são os lançamentos do grupo aqui. No entanto, a editora chegou a publicar o capítulo final da saga na revista mensal Pixel Magazine, esperado por muitos fãs e ainda tido como “não-definitivo”.
07
OS SURPREENDENTES X-MEN
Josh Whedon e John Cassaday (Publicada na revista mensal X-Men Extra; Panini)
Os anos 90 não foram dos melhores para os heróis da Marvel e isso é um fato. Nem o começo dos 00, principalmente em se tratando da melhor equipe da casa, os X-Men. Mas o jogo realmente virou com Surpreendentes X-Men, resultado de uma dobradinha entre da arte de John Cassaday e do roteiro do renomado Joss Whedon (o também responsável pelo texto de séries televisivas como Buffy – A Caça-Vampiros e Angel). A equipe formada por Emma Frost, Ciclope, Fera, Wolverine e Lince Negra é extremamente funcional em seus diálogos e na ação quadro a quadro. O roteiro é, com o perdão do clichê, eletrizante e tem tiradas ótimas, que o diga as hilárias farpas entre Kitty e Emma. A Panini editou um encadernado muito honesto que condensa toda a primeira fase da série, que conta ainda com uma ótima entrevista com Cassaday e a reprodução dos e-mails de Whedon, endereçado à Marvel, sobre as primeiras idéias da série.
06
PRONTUÁRIO 666
Samuel Casal (Conrad)
Prontuário 666 é aquele tipo de obra que tinha tudo para ser a maior furada do ano. Explico: o roteiro surge como uma homenagem a uma figura tão instigante quanto periférica como Zé do Caixão e trabalha em cima de uma história que aconteceu e não aconteceu. Explico de novo: aqui, se conta a história dos 40 anos em que Zé do Caixão foi preso. Mas ele não foi preso. (?). Na verdade, essa história foi uma saída encontrada por um co-roteirista para que José Mojica se convencesse a gravar Encarnação do Demônio, continuação de Esta Noite Encarnarei no teu Cadáver, lançado 40 anos antes (e por isso a dúvida enquanto a participação do próprio Mojica ou de um ator mais novo). Mas resumindo a ópera: o resultado foi bastante satisfatório para o lado da dupla Adriana Brunstein e Samuel Casal. O trabalho tem um fôlego narrativo interessante e ganha pontos consideráveis com o roteiro bem desdobrável.
05
PROMETHEA
Alan Moore e J.H. Williams III (Publicada na revista mensal Pixel Magazine; Pixel)
Promethea virou 2007 conquistando um sucesso estrondoso nas páginas da Pixel. Uma das maiores criações do sempre louvável Alan Moore, mostra a estudante Sophie Bangs, vivendo numa Nova York futurista, ao investigar o mito de Promethea, uma espécie de heroína mística e lenda urbana que durante anos se manifestou em diversas mulheres. Não obstante, a Pixel investiu num encadernado da premiada série (insira aqui Eisner e Harvey e sinta o peso). A obra conta com a colaboração dos ousados (como se para trabalhar com Moore não tivesse que ser) artistas J.H. Williams III e Mick Gray, que contorna a série recheada de tudo aquilo que o universo de Alan Moore traz e a gente gosta: inúmeras referências culturais à arte, filosofia, ocultismo, metafísica e história. No meio disso tudo, uma história em quadrinhos da mais alta qualidade.
04
CHIBATA! – JOAO CANDIDO E A REVOLTA QUE ABALOU O BRASIL
Hemetério e Olinto Gadelha (Conrad)
A história de João Candido, o marinheiro que no início do século liderou uma revolta na Marinha brasileira foi recontada por dois quadrinhistas cearenses e causou espanto por parte da imprensa, além do próprio mercado de quadrinhos. A narrativa, muitas vezes distante, trouxe uma objetividade perturbadora. Assim como Maus, de Art Spielgeman, Chibata instiga uma cumplicidade do leitor, que presencia como um observador mudo e perplexo toda uma série de atrocidades. Hemetério e Olinto Gadelha conseguiram criar uma obra de relevância histórica, já que muitos das informações descritas no livro foram frutos de muita pesquisa por parte dos autores. Uma HQ com muito atraso no lançamento, mas numa edição caprichada, o que só aumenta seu valor.
03
LEÕES DE BAGDÁ
Brian K. Vaughan e Niko Henrichon (Panini)
Sob a premissa de que “liberdade não pode ser dada, somente conquistada”, o céu que cai sobre as cabeças de leões de zoológico em plena Bagdá bombardeada, abriga o enredo bastante sensível, mas longe de sentimentalóide, de Leões de Bagdá, de Brian K. Vaughan. Autor das premiadas graphic novels Y: O Último Homem e Ex-Machina e atualmente roteirista do seriado Lost, Vaughan acertou em cheio (com o perdão do trocadilho em se tratar de um quadrinho que fala de guerra) ao ficcionar com maestria a história real de quatro leões famintos que, durante um bombardeio dos EUA, na Guerra do Iraque, fogem do zoológico. A construção narrativa é impecável, assim como a profundidade do roteiro, que esbarra nos limites de sentimentos, até então tão humanos, mas vivenciados por felinos, sob sua visão da guerra.
02
MESMO DELIVERY
Rafael Grampá (Desiderata)
O gaúcho Rafael Grampá foi a principal tag da cena de quadrinhos nacionais desse ano. Premiado no Eisner pela participação na coletânea 5, o quadrinhista lançou em outubro desse ano não um trabalho, mas um verdadeiro filho. Sua primeira graphic novel, Mesmo Delivery levou dois anos para ficar pronta e foi lançado primeiro na gringa para chegar aqui. Com os direitos vendidos para o cinema americano, Mesmo Delivery conta a história do ex-boxeador Rufos, que trabalha para uma empresa de entregas que transporta qualquer tipo de carga. A regra é simples: não fazer perguntas sobre o conteúdo da entrega. Grampá provou maestria num roteiro que balança entre o cinematográfico e televisivo, conduzido por desenhos construídos em cima de traços pop, mas não menos criativos.
01
MACANUDO VOL. 01
Liniers (Zarabatana Books)
Antes de sua chegada ao Brasil, pela editora Zarabatana, Liniers já era um pequeno fenômeno da Internet brasileira, sendo constantemente linkado em blogs, twitter e listas de discussão. O sucesso de suas tiras, publicadas originalmente pelo jornal La Nación se deve ao caráter atemporal e emotivo impresso em cada quadrinho. Liniers aborda em Macanudo questões inerentes a qualquer pessoa em qualquer momento ou local.
Isso não significou, contudo, um afastamento de suas origens. Ainda estão presentes em Macanudo, sua principal obra, a melancolia de Buenos Aires, as paisagens geográficas do país, como a Patagônia, entre outros detalhes. Os temas que interessam a Liniers são a subjetividade dos relacionamentos, a busca pela felicidade, o embate entre o concreto e o efêmero. Tudo isso contado de maneira prosaica, muitas vezes simplória, mas não menos tocante.
O uso que faz da tradicional tira também surpreende. O autor utiliza diversos enquadramentos, inventa novos quadros, experimenta, fugindo do formalismo dos três quadros. Seu traço também contribui para um tom emotivo da HQ. Parece que estamos lendo um livro infantil ilustrado. A Zarabatana conseguiu fazer um grande rebuliço no lançamento deste primeiro volume da mais famosa série do autor argentino. Ele esteve em São Paulo no final de outubro para divulgar o livro e sua estadia foi bem comentada e coberta por jornalistas de Cultura.
O mundo “supimpa” de Liniers é existencialista, meigo e “supimpa”, como diz o título no original em espanhol. Suas tiras, publicadas em diversos países, entre eles o Canadá, França e Peru caminha para se tornar uma das mais importantes obras desta década, tanto em repercussão de público quanto de relevância para os quadrinhos como um todo. Agora, é esperar por novos volumes da série.