(NOVO) CIRCO DE BRITNEY
Cantora símbolo das excentricidades do mundo das celebs lança disco no auge de sua retomada da carreira, mas resultado é inferior à Blackout, lançado no auge de sua decaída
Por Talles Colatino
BRITNEY SPEARS
Circus
[Jive / Zomba, 2008]
Quando subiu no palco do Video Music Awards, há dois meses, Britney Spears parecia estar lá para exorcizar um passado recente. Limpinha, arrumada e provavelmente com calcinha, àquela que durante um turbulento ano foi comprada o demônio da vez para a indústria midiática chamar de nosso, nada parecia com uma Britney fora de forma e de juízo que se apresentou no mesmo palco no ano passado. Mesmo com todo aquele auê que cansamos de ouvir sobre ela, foi dentro dele que a cantora conseguiu parir o seu melhor trabalho, o histérico Blackout.
Mesmo com zero de divulgação, Britney Spears conseguiu emplacar aqueles que ao lado de “…Baby One More Time” e “Toxic”, podem ser considerados os seus mais representativos singles. Graças a eles, ou pelo menos a “Piece Of Me”, ela conseguiu três austronautas de prata (os troféus do VMA), prêmio que nunca chegou nem perto durante seus mais de dez anos de carreira. Ou seja, pirar acabou sendo um grande negócio dentro do plano mercadológico que seu nome evoca.
Mas os acessos de loucura, bebedeira e um tanto de imundice parece que deram uma trégua ao bem estar de Britney. Seus aparecimentos na mídia pós-piração mostravam uma mulher madura, que acreditava numa recuperação que deveria chegar a qualquer custo. E parece que chegou. A primeira grande prova disso foi a capa do seu novo trabalho, Circus, que enterravam a imagem-potranca em troca do retorno da “miss sonho americano”, travestida em uma Britney terna e angelical. E foi com essa imagem da cantora que o mundo teve acesso ao novo disco, que caiu semana passada na rede e deve chegar às lojas na próxima semana.
Bem, a imagem de santa da capa cai por terra já na primeira faixa, a já conhecida “Womanizer”. E a gente agradece, claro. E vibra na segunda e neurótica faixa, que dá nome ao disco, na qual Britney deixa bem claro que quer estar como num picadeiro, com todas as atenções para ela (como se fosse pouco tudo que se comentou e especulou sobre ela). Mas ok, cada um com sua carência.
O problema do disco começa na a partir da terceira faixa. Não, não se trata da música em si, mesmo sendo “Out From Under” uma baladinha de motel de quinta. A questão é que é a partir dela que se nota que não estamos diante de um “Blackout 2”. Circus não cumpre esse papel. Ele é um típico álbum de Britney pré-loucura. E é difícil encarar um produto assim, já apesar de uns bons singles, ela nunca teve de fato um bom disco. E só o Blackout quebrou esse estigma.
Apesar disso, Circus tem sua graça. Não é um grande trabalho, mas também não soa pretensioso. Tem boas músicas, como “If U Seek Amy”, na qual ela parece fazer uma pequena homenagem a uma tal de Amy que curte tomar uns drink e outras coisinhas mais… Vale lembrar o título da música é um trocadilho que, quando pronunciado rápido, entende-se por “fuck me”. Britney perdeu o juízo algumas vezes, mas aqui não perdeu a piada. Outro bom momento atende pela alcunha de “Kill The Lights”, uma verdadeira ode à relação de Britney e os paparazzi.
Os momentos de tédio ficam por conta de faixas como a chorosa “My Baby”, a sem-função “Blur” e a já citada “Out From Under”, para poupá-la de mais comentários, digamos, pouco calorosos. O disco conta ainda com “Radar”, o maior e melhor chiclete do “Blackout” que provavelmente retorna em “Circus” para emplacar como um futuro (e certeiro) single. Entre as bonus track que também já circulam por aí, “Phonografy” e “Amnesia” fazem você questionar o motivo de não pertencerem à setlist do disco.
Sim, Circus não é um Blackout. Mas seria porquê não seja o Blackout um disco – em vias de fato – de Britney? Talvez sim. Circus corresponde bem mais ao trabalho que ela vem apresentando desde seu primeiro CD. Isso nos coloca num terreno mais seguro, mais ainda com boas sacadas que esse novo apresenta. Fazer o circo de Britney pegar fogo, todo mundo soube fazer. Agora é hora de curti-lo.
NOTA: 4,5