A nova estrela pop “teen” Billie Eilish chega em seu primeiro disco com a proposta de romper com as expectativas da indústria para artistas dessa idade. Abraçando uma “estranheza” e uma estética muito própria, ela apostou em um esquema independente de produção e conseguiu fazer um álbum que marca um território muito particular dentro do cenário pop atual.
As letras do disco são cheias de uma angústia adolescente e um senso de inadequação que servem de conexão com sua audiência. Essas temáticas sempre tiveram vez na música pop, do rock indie dos Smashing Pumpkins, Sonic Youth, Ramones, passando por Beastie Boys e até mesmo algo mais old school como Cindy Lauper e Madonna. O grande diferencial de Elish: sua produção não se parece com quase nada feito hoje dentro do seu gênero. Além disso, sua interpretação vai um pouco além das obviedades vistas no pop industrial feminino.
A produção ficou a cargo de seu irmão, Finneas O’Connell (que também co-assina as letras). As referências mesclam algo bastante moderno, pegando carona na eletrônica e R&B contemporâneos, mas também algo mais antigo, o que confere charme ao trabalho. Por isso, as faixas trazem tanto sons guturais e hipnóticos que flertam com a cacofonia quanto refrões pop que grudam à cabeça. Em alguns momentos a voz da cantora assumem tons etéreos contrastados com uma base ríspida e pesada (caso de “Xanny”).
Eilish se esforça em firmar sua personalidade e entrega canções sobre pesadelos, rejeição e medos, tudo com uma interpretação que soa bastante autêntica. O disco chega já com hits, caso de “bury a friend” e “wish you were gay”.
Ela chega para fazer parte da trincheira do chamado “weird-pop”, ou o pop esquisito, que nada mais é do que o grupo de artistas que estão trazendo mais inovações ao gênero, fugindo do lugar comum, ainda que seu objetivo maior seja alcançar o status e relevância de suas colegas mais, digamos, tradicionais. Fazem parte do grupo nomes como Charli XCX, SOPHIE, ABRA, entre outros.
O disco de estreia de Elish tem potencial para comprovar o talento dessa jovem cantora, que, já no primeiro álbum, já mostra uma estética bem apurada e decidida.
BILLIE ELISH When We All Fall Asleep, Where Do We Go? [Darkroom/Interscope, 2019]