Uma das duplas mais oníricas da cena indie sueca desembarca no Brasil trazendo seus véus sonoros para Recife e São Paulo. O Club 8, formado por Karolina Komstedt (do Poprace) e Johan Angergård (Acid House Kings e Poprace), vem ao país pela primeira vez para participar do festival No Ar Coquetel Molotov, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e para um show paulistano no SESC Vila Mariana. As apresentações fazem parte da turnê acústica do duo, que promete abarcar canções da carreira de 13 anos – o
Último disco é de 2007: The Boy Who Couldn’t Stop Dreaming.
Enquanto você espera pelos shows, confira a entrevista que o Club 8 concedeu ao Grito! com exclusividade:
Vocês acham que a música do Club 8 pode ser considerada fofa ou doce?
Johan: Não.
Karolina: Não, eu não acho. Bem, talvez uma ou outra faixa do nosso primeiro disco, Nouvelle, possa ser considerada fofa ou doce – mas no mau sentido. Contudo, nós éramos adolescentes na época em que fizemos essas músicas – portanto, acho que estamos perdoados!
Que tipo de sentimento vocês querem transmitir com as suas canções?
Karolina: Um sentimento de não se sentir sozinho.
Johan: É diferente de canção para canção, mas, no geral, eu gosto da idéia da música servir como conforto. Eu gosto quando me reconheço em uma canção ou quando identifico o sentimento nas músicas que eu ouço. E eu espero que as pessoas tenham a mesma experiência com a nossa música. Nosso último álbum, The Boy Who Couldn’t Stop Dreaming, é bastante pessoal. Então, pessoas que sejam parecidas comigo podem, com alguma sorte, tirar alguma coisa desse disco.
O que vocês esperam do Brasil e dos fãs brasileiros? E o que nós podemos esperar dessa “Acoustic Mini Tour”?
Johan: Eu nunca estive no Brasil ou em outra parte da América do Sul. Por isso, acho que realmente não sei o que esperar – só sei que o clima é quente e que eu tentarei surfar um pouco. Quando ao show, é um pouco difícil fazer um acústico porque a apresentação pode se tornar um pouco tediosa. Mas esperamos, sinceramente, que possamos propiciar um aconchegante, ótimo e emocionante “pequeno” show.
Karolina: Para ser honesta, eu fiquei muito surpresa quando ouvi que tínhamos sido convidados para ir ao Brasil. Eu nunca achei que os brasileiros prestassem atenção na gente. Nunca esperei que eles fossem gostar da nossa música, que é uma música serena e delicada. De alguma maneira, eu pensei que nos seríamos considerados muito “fracos” entre os “temperamentais” brasileiros… mas acho que era só uma idéia idiota que eu tinha…
Que tipo de influência a Suécia tem na música de vocês?
Johan: As pessoas normalmente falam sobre como é escuro aqui e como isso faz com que as bandas façam músicas melancólicas. Eu não sei se isso é verdade, mas pelo menos a escuridão e o frio contribuem para ficarmos em casa fazendo música.
Karolina: Eu definitivamente acho que nosso clima tem uma enorme influência nas nossas mentes, corpos e almas. Nós, suecos, temos que suportar todo esse frio e escuridão durante sete meses por ano. Enquanto apenas dois curtos meses de verão são claros, claros, completamente claros! Quando chega junho, as pessoas começam, abruptamente, a se comportar como maníacos felizes – elas arrancam as roupas, nadam nos lagos e no mar, bebem a luz do sol com a maior voracidade e rapidez que conseguem, começam novos projetos, fazem novas amizades, conhecem melhor seus vizinhos, organizam festas e apaixonam-se pela vida. E quando o outono chega é como se nós nos fechássemos em nossas almas novamente. Ficamos sérios, introvertidos e com as mentes pesadas. Os suecos vivem em um estado mental que quase pode ser descrito como maníaco-depressivo. E eu tenho certeza que isso influencia demais nossas letras e melodias e dá à música sueca um aspecto especial de luz [no sentido de felicidade] com melancolia. Talvez seja isso que o resto do mundo ache interessante na nossa música…
Ah, mais uma coisa sobre a Suécia que nos influencia: nós temos uma vigorosa cena musical aqui, uma cultura musical em que as pessoas inspiram muito umas às outras. A maioria das pessoas que nós conhecemos é ou foi membro de uma banda ou de um projeto musical de algum tipo. E uma coisa importante entre os suecos é que eles não levam tudo isso muito a sério. Eles têm uma atitude divertida enquanto fazem música. Eu acho que eles, no geral, não passam pela pressão de atingirem grande prestigio ou altas expectativas. Eles não têm medo de não obterem sucesso e mantêm a diversão nisso tudo.
Vocês gostam de música brasileira, como samba, bossa nova ou tropicália? Existe algum artista/banda/disco em especial que vocês admirem?
Johan: Sim, absolutamente. Mas eu gostaria de conhecer mais, porque até hoje só ouvi os grandes clássicos como João & Astrud Gilberto, [Tom] Jobim e outros desse tipo.
Se vocês tivessem que escolher cinco álbuns que mudaram suas vidas e o jeito que vocês lidam com a música, quais vocês indicariam?
Johan:
1. The Jesus and Mary Chain – Psychocandy. Comprei esse quando tinha 13 anos e foi o primeiro disco de indiepop que adquiri. Eu queria ser como os irmãos Reid [que formam a banda] e adorava o jeito com que o álbum soava.
2. The Smiths – The Queen Is Dead. Sem os Smiths eu não estaria fazendo música hoje em dia. Eles me conquistaram em toda aquela cena pop e me inspiraram a começar a tocar guitarra. Na verdade, eu ouvi Smiths antes de The Jesus and Mary Chain – eu ouvia os discos do meu irmão.
3. Shadow Factory (compilation on Sarah Records). Este disco mostrou um novo lado da música pop para mim.
4. Bonnie ‘Prince’ Billie – I See A Darkness. O título explica o suficiente.
5. Anders Persson Och Carl Smith – Anders Persson Och Carl Smith. Este álbum me ajudou nesta primavera. Eu não era tão “tocado” por uma nova banda em muitos anos como aconteceu com eles.
Que tipo de música vocês têm ouvido atualmente?
Johan: Nesta semana eu andei ouvindo muito uma banda sueca chamada Little Big Adventure, o último disco do Cass McCombs e o meu próximo single com o The Legends, que vai se chamar “Seconds Away”.
O que vocês acham do conceito de “indie rock”? E sobre o significado de twee, o que vocês pensam?
Johan: Eu realmente não uso esses termos, mas devo admitir que, na minha opinião, “indie rock” soa terrivelmente sem graça e, “twee”, um pouco mais interessante.
Qual a opinião de vocês sobre baixar música da internet?
Johan: É ótimo porque é muito mais fácil para descobrir novidades. E é muito bom para os selos menores, como o Labrador, que eu estou dirigindo. O abismo entre as pequenas e grandes gravadoras está diminuindo ao passo que a distribuição está se tornando mais igualitária.
Karolina: Para uma banda pequena como a nossa tem sido bom. Tem feito muitas pessoas descobrirem a gente – pessoas que nunca teriam essa chance se não fosse a acessibilidade da internet. Por exemplo: em 2004, nós recebemos um convite para ir à China sendo que nós nunca tínhamos lançado um álbum sequer por lá. Tivemos um grande público e todo mundo conhecia nossas letras e cantavam junto. Foi tão divertido e surpreendente!
Mas falando de mim, eu nunca baixo música ou uso MP3 player. Sou muito conservadora. Quero a música em sua “forma física”, quero segurar o CD ou LP, olhar a arte da capa e o encarte por inteiros e todas essas coisas. Muita gente baixa uma ou duas faixas de um álbum – normalmente as mais famosas – e coloca no MP3 player. Eu não gosto disso. Se você realmente quer conhecer o universo de um artista, você deve ouvir o disco todo. Algumas faixas levam tempo para serem descobertas e a ordem das canções é muito importante para entender o disco como um todo. Você vai perder muito se focar apenas em uma pequena parte do álbum.
Qual dos álbuns vocês mais gostaram de gravar? Por quê?
Johan: Spring Came, Rain Fell, porque foi o primeiro que nós gravamos por nossa conta. Foi muito inspirador.
Karolina: Pois é, foi divertido. Ficamos trancados por dois meses no estúdio e não fizemos mais nada além do disco durante todo o verão. Mas eu acho que foi ainda mais incrível gravar nosso último álbum, The boy who couldn’t stop dreaming, porque eu estava mais inspirada que antes e participei muito mais da produção – coisa que não tinha feito anteriormente. Esse disco é o resultado de discussões intermináveis entre nós dois. Foi um trabalho árduo mas muito mais interessante do que os outros. Eu amo todas as faixas – elas são muito íntimas para mim – e é a primeira vez que eu realmente tenho orgulho de um disco. Eu até li as resenhas sobre ele, e isto é algo que eu nunca faço depois das cinco primeiras críticas. Nunca tinha ligado para isso antes.
Qual o próximo projeto do Club 8 ou com outras bandas (como Acid House Kings)?
Johan: Estou fazendo um novo disco com o The Legends que será um pouco “barulhento”. Estou muito feliz com as canções que compus até agora. O álbum será lançado em abril de 2009.
Karolina: O Club 8 está começando a gravar o sétimo álbum, mas nós ainda não sabemos como será em termos de musicalidade. Só sabemos que será mais experimental e eletrônico – essa é nossa vontade. E iremos sair em turnê. Vamos à Tailândia em dezembro e provavelmente passaremos pelo Japão. Mas antes vamos ao Brasil! Vemos vocês aí!