Crítica – Livro: A Segunda Pátria, de Miguel Sanches Neto

CapaAberta SegundaPatria Site
Foto: Divulgação.
Foto: Divulgação.

Livro A Segunda Pátria imagina pesadelo nazista no Brasil

Na narrativa assustadora de A Segunda Pátria, novo livro de Miguel Sanches Neto, o Brasil está alinhado ao Eixo durante a Segunda Guerra Mundial. O flerte que Getúlio Vargas manteve com a Alemanha nazista no mundo real foi levado às últimas consequências nesse romance assustador que altera a história para revelar o sentimento segregador da sociedade brasileira desde a época da escravidão.

Leia Mais: Livros
Livro traz todas as fases de Sherlock Holmes
Neil Gaiman em novo conto de fadas para adultos
Dom Gurgel, ícone alternativo da literatura brasileira

A Segunda Pátria, lançado pela Intrínseca, mostra duas narrativas passadas no Sul do País, onde o estados abriram espaço para a atuação do partido nazista. A história começa em Blumenau (SC) e vai por Porto Alegre e pelo Rio de Janeiro.

Conhecemos a vida de Adolpho Ventura, um engenheiro negro que perde a liberdade, a casa, o emprego e todos os seus direitos depois da ascensão nazista. Enquanto isso, Hertha, uma garota branca e bela, descendente de alemães, que inicialmente simpática ao nazismo, passa a rever seus conceitos por conta de alguns episódios pessoais bem traumáticos.

Mais:
Leia um trecho do livro

Apesar de aparentemente inverossímil, esse exercício de liberdade criativa de Sanches Neto serve para criar uma trama de terror que poderia ter se instaurado no Brasil. Mas o que assusta mesmo é encontrar na trama episódios que poderiam muito bem se desenrolar nos dias atuais. O estado de segregação vivido pelos negros ainda é um problema da nossa sociedade.

Além disso, o livro joga luz sobre um tópico da história muito pouco discutido – talvez até um tabu – que foi o nazismo no Brasil. Na Segunda Guerra Mundial, forças simpáticas à Hitler estiveram em movimento por aqui, sobretudo no Sul do País. Além disso, o sentimento neonazista persiste em manifestações pontuais e extremamente perigosas.

Do ponto de vista narrativo, A Segunda Pátria é construído como um ritmo de filme de aventura. Cada capítulo é curtíssimo, o que dá agilidade à leitura e ajuda a criar um panorama de tensão e estresse. E é nesse contexto que passamos a nos conectar aos personagens. Construídos como pessoas agarradas com suas convicções pessoais, Hertha e Adolpho precisaram se transformar através de sacrifícios pessoais para sobreviver.

CapaAberta_SegundaPatria_Site

O autor também soube explorar os sofrimentos humanos através de momentos bem doloridos, perturbadores. Como na ocasião em que um preso homossexual é estuprado por cães. Ou quando os pais idosos do protagonista são despachados em caixas de madeira junto com um bebezinho para fugirem do nazismo.

Com A Segunda Pátria, Miguel Sanches Neto se firma como um dos melhores contadores de história da nova ficção brasileira. Com um tom assustador, ele soube simular a crueldade de um sistema que ainda espreita a humanidade. Como ele diz no prefácio da obra, ainda bem que tudo não passou de um pesadelo.

segundaA SEGUNDA PÁTRIA
De Miguel dos Santos Neto
[Intríseca, 320 págs, R$ 34,90 (impresso) e R$ 14,90 (e-book) / 2015]