Arte de Liniérs
BUENA AVENTURA ESTÉTICA
Coletânea mineira homenageia a Argentina traz surpresas do novo quadrinho independente nacional
Por Paulo Floro
GRAFFITI 76% QUADRINHOS 17
Vários autores
[Graffiti, 84 págs, R$ 10]
Atualmente dois coletivos de quadrinhos contribuem de sobremaneira para alavancar a produção da arte seqüencial no Brasil. Um deles é O Contínuo, que lançou recentemente a ótima edição especial, Câncer. O outro é os mineiros do Graffiti 76% Quadrinhos, que chega à 17ª edição de sua coletânea independente. Nesta edição, o destaque é a homenagem ao quadrinho argentino, com a publicação de tiras do argentino Liniers, além de um artigo de Guazzelli.
Como uma das publicações de quadrinho nacional mais longevas, a Graffiti teve muito tempo para lapidar seu foco criativo e acertar em cheio seu público. Hoje, é referência quando se trata de avanços artísticos e narrativos. A revista também se mostra interessada em avançar por outros cenários, como literatura e artes plásticas. Tudo com uma coragem que só a independência poderia proporcionar.
Nesta edição, mais do que o experimentalismo e o bom argumento de algumas histórias, chama atenção a diversidade de formatos também. A revista apresenta dois cadernos internos, que fogem do padrão do papel couché, de todo o resto. O primeiro, em papel jornal traz um extenso artigo do artista Guazzelli sobre quadrinhos argentinos e o segundo, além de um hq no estilo stop motion de Caballero tem duas páginas para Liniers.
Arte de Marcelo d’Salete
Hit na internet, Ricardo Liniers tornou-se fenômeno em seu país de origem e é aguardado com ansiedade por fãs no Brasil. A editora Zarabatana já anunciou que lança sua obra mais conhecida, Macanudo no final do ano. A Graffitti saiu na frente publicando HQs do artista e o melhor, na língua original, o espanhol. Liniers é dono de uma subjetividade que beira o mágico. O lirismo dos seus traços – que por vezes lembram uma tirinha infantil – é impressionante.
Mas não é só no pequeno aperitivo do argentino que se vale a nova Graffitti. Eloar Guazzelli, em sua história autobiográfica tendo como cenário Buenos Aires. Em 10 páginas, o autor gaúcho faz um tour sentimental retratando (des)encontros amorosos, ao mesmo tempo em que pontua momentos de sua carreira.
O trabalho de edição e de curadoria mantém uma boa regularidade das histórias, ainda que seja visível a qualidade de algumas em relação à outras, seja no traço ou mesmo no texto. João Pinheiro, estreando na Graffiti se arriscou e conseguiu um bom resultado na sua mistura de poesia e hq.
Poderia apenas trazer mais informações sobre os autores como fez com Liniers na penúltima página. Mas, são muitos os acertos nesta edição, que provoca no leitor uma estimulante aventura estética à cada página.
NOTA: 9,0
Vendas pelo site www.graffiti76.com | Blog: graffiti76.blogspot.com