Convidamos Viviane Menezes, que foi uma das fundadoras do Coquetel Molotov, produtora que organiza o festival No Ar, para escolher os melhores shows nas nove edições anteriores do evento. Viviane saiu do coletivo para se dedicar a outros projetos, mas seguiu acompanhando todas as edições. Foi possível ver que muita coisa mudou nessa primeira década do festival, mas a proposta de trazer novos nomes da cena alternativa – e surpresas – seguiu a mesma.
Abaixo o túnel do tempo, com detalhes de bastidores de quem acompanhou a passagem pelo Recife de nomes como Teenage Fanclub, Tortoise, The Kills e Racionais MCs.
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Os destaques deste ano do No Ar Coquetel Molotov
Com Coquetel, Recife saiu da zona de conforto
Teenage Fanclub (2004)
Por ter sido o debut e primeiro grande show do No Ar Coquetel Molotov. Além disso, tive a oportunidade como produtora de estar lá participando do nascimento do festival. Foi uma grande emoção trazer uma banda do quilate do Teenage Fanclub para o Recife.
CocoRosie (2006)
Foi a primeira banda internacional que o festival trouxe no auge. Na época elas trabalhavam o disco elogiado pela crítica e pelo público, o maravilhoso La Maison de Mon Reve. O show foi lindo. Lembro de comentar com Ana Garcia [produtora e uma das fundadoras do festival]: “Isso é ao vivo?! Que lindo. Não pensei que elas conseguiriam repetir no show a mesma atmosfera do disco”.
Backing Ballcats Barbis Vocals e Os Bobs Babilônia + Almir de Oliveira (2006)
A banda de Olinda cantou juntamente com o ex-Ave Sangria, Almir de Oliveira, o grande sucesso Geórgia, a carniceira. Um momento lindo e único. Uma pena que a banda Barbis não existe mais. Foi uma das bandas mais peculiares da cena Pernambucana. Esse show ficou marcado na minha mente para sempre. Foi o primeiro “clima Olinda” no festival No Ar.
Tortoise (2006)
Nunca pensei que uma banda como o Tortoise pudesse lotar o teatro da UFPE. Foi um dos shows mais emocionantes que eu vi no festival. Estavam presente naquele dia os verdadeiros fãs da banda.
Berg Sans Nipple (2005)
Foi o show mais surpreendente de toda a história do No Ar Coquetel Molotov, porque eles eram desconhecidos do público e até de mim, que na época era também produtora do festival, e simplesmente arrasaram. Lembro do público de boca aberta saindo do teatro no final da apresentação. Ainda tive a oportunidade de viajar com eles de ônibus (!) até Fortaleza, onde participarem da Feira da Música. Nesse ônibus ainda estavam China e parte do Mombojó.
Hell on Wheels (2004)
Foi a banda que virou amiga do festival. Foi a primeira atração sueca do No Ar, ou seja, foi a inspiração para o que viria a ser a Invasão Sueca.
Cibelle (2007)
Amei esse show. Cibelle, naquela época, apesar de não tão conhecida como hoje, fez um show que arrebatou o público. Ela era quase uma Gal Costa da década de 70, tanto musicalmente como no visual.
Tony da Gatorra (2006)
Show ímpar: o gaúcho indie/hippie e seu instrumento gatorra, que é invenção sua, uma guitarra com sons de bateria e sintetizador. Um dos shows mais loucos da sala Cine UFPE. O No Ar mostrou o “hype” do mundo alternativo em 2006. Naquela época, Tony fazia muito sucesso e diversos shows principalmente em São Paulo e confeccionava gatorras para muitos músicos, inclusive de fora.
The Kills
A banda mais chata a pisar no festival, pude comprovar isso de perto. Chata no sentido de encrenqueiros, “badass“. Apesar disso, eles fizeram um show incrível. O público amou e nem imaginou o que se passou nos bastidores. A vocalista VV parecia saída de um mangá, cabelos longos lisos e pretos e era de uma magreza esbelta… Ela andava de um lado para outro do palco como um fantasma. O show mais rock de todo o festival, sem dúvida. Talvez Ana Garcia e Jarmeson de Lima [produtores do evento] concordem comigo, apesar das dificuldades impostas pela banda naquele dia, foi um momento necessário para crescimento do próprio festival.
Racionais MCs
Foi uma coragem dos produtores ao trazer o grupo para tocar num teatro. Apesar de conhecer pouco, fiquei emocionada com a devoção dos fãs. O clima foi bem tenso, mas no final deu tudo certo. Depois daquele show a periferia ficou sabendo que no final do ano tem um festival democrático no Recife, que aceita todo tipo de som e pessoas. O requisito para os artistas que participam dele é: emocionar. Apenas isso.