Tom Zé respondeu às pessoas que reclamaram de sua aparição em um comercial da Coca-Cola, semana passada. Conhecido por sua música experimental, o cantor baiano de 77 anos postou em sua página no Facebook que “perdeu o sono” por causa das críticas. “Quando o anúncio saiu na tv, imaginei que até as opiniões contrárias eram uma espécie de comemoração por eu aparecer com status de locutor de uma propaganda grande. Mas agora, quando perco o sono por causa do assunto… não, agora eu estou preocupado!”, disse.
Leia Mais: Tom Zé
Entrevista: “trocaria tudo por ‘Ai, Seu Eu Te Pego”
Ele aproveitou para deixar explícito que as gravadoras de hoje já não acreditam em projetos como o seu. “Para profissionais de meu tipo as gravadoras são agora inalcançáveis”. Tom Zé ainda contou que nos dias atuais o disco físico perdeu importância de antes. “Vivemos a era da internet e a venda de disco passou a ter um peso insignificante. Já o papel desses lançamentos [das gravadoras], em termos de divulgação, é muito eficiente”.
O último disco de Tom Zé foi Tropicália Lixo Lógico que saiu ano passado através de um projeto com a Natura. Veja abaixo a íntegra do post de músico.
Pois é, pessoal, estou preocupado.
Eu dou importância à opinião de vocês. Essa alegria sempre me acompanhou.
Quando o anúncio saiu na tv, imaginei que até as opiniões contrárias eram uma espécie de comemoração por eu aparecer com status de locutor de uma propaganda grande. Mas agora, quando perco o sono por causa do assunto… não, agora eu estou preocupado!
O apoio de vocês sempre foi uma base de sustento. Será que uma alegria nascida do privilégio de até hoje, aos 76, ter vivido dessa profissão de músico e cantor, me fez pensar que eu poderia afrontar essa sustentação?
É curioso que quando fui consultado sobre o anúncio nem pensei nessa probabilidade. No ano passado meu disco fora patrocinado pela Natura e como eu nunca tinha recebido patrocínio desse tipo – nem de nenhum outro – , cara, eu me senti como um artista levado em conta!
Para profissionais de meu tipo as gravadoras são agora inalcançáveis. A Trama, de João Marcello Bôscoli, me deu grande apoio nos anos 90 e até Estudando o Pagode, em 2004. Mas em Danç-Êh-Sá”, já dividimos as responsabilidades. Em 2008 Estudando a bossa foi muito ajudado pela Biscoito Fino; Agradeço, mas ficou difícil continuar lá. No ano passado o apoio da Natura me deu tanta confianca pessoal que ousei fazer o Tropicália Lixo Lógico.
No lançamento de Danç-Êh-Sá, em 2005, o resultado foi de extremos. A gravadora francesa teve um ódio tão grande do disco que quase perco até a amizade de Henri Laurence, que lá me lançava pela Sony. Nos E.U.A. houve comentários apaixonados na crítica, mas Yale Evelev recusou o disco na Luaka Bop. Logo a seguir a mesma Luaka Bop me respondeu com entusiasmo ao Estudando a bossa de 2008 e depois lançou o super set box de vinis com os 3 Estudando…
E o … Lixo Lógico recuperou também a amizade de Henri Laurence.
Toda essa dança de lançamentos e esse céu-e-inferno com os editores-lançadores é própria desse setor onde não devo nem quero relaxar o arco-tenso-da-ousadia. Mas nos dias atuais vivemos a era da internet e a venda de disco passou a ter um peso insignificante. Já o papel desses lançamentos, em termos de divulgação, é muito eficiente.
* * *
Voltemos ao presente. Atualmente sinto paixão pela retomada do projeto dos instrumentos experimentais de 1972. Com a eficiente colaboração do engenheiro Marcelo Blanck, começamos a desenvolver alguma tecnologia, mas com recursos parcos, insuficientes. Os resultados estão nos animando muito. Aí entrou o anúncio da Coca-Cola que, mesmo sem ela saber, patrocinaria boa parte da pesquisa.
Será que o uso dos recursos obtidos com o anúncio muda a avaliação de vocês?
Madrugada de sexta, 8 de março, 6h22. tom zé