O ano foi cheio de boas novidades, surpresas, tanto no Brasil quanto lá fora. De Siba a Grimes, passando pelo fenômeno Frank Ocean e Kendrick Lamar, elencamos os melhores discos do ano, brasileiros e estrangeiros
Da Equipe da Revista O Grito!
25
VITOR ARAÚJO
A/B
[Joinha Records]
Disco mais ousado de Vitor Araújo, com colaborações de Guizado, Macaco Bong e Rivotrill. “A/B é o disco mais importante deste jovem pernambucano por conseguir condensar todas suas facetas em um único trabalho. Revelado para a música brasileira em um concerto no Teatro de Santa Isabel, quando tocou “Paranoid Android” ao piano, para o susto dos eruditos xiitas, Vitor Araújo foi grata surpresa na música instrumental nacional, passeando com habilidade em um território pouco explorado pelo pop, que é a música clássica” – Paulo Floro.
24
JESSIE WARE – Devotion
[PMR]
Jessie Ware conquistou fãs por conseguir dosar fragilidade, emoção com uma pegada firme de eletrônico, o que adiciona novidades à leva de cantoras que se aventuram na redescoberta do soul. Antes de assinar com o selo PMR Records, a cantora ficou conhecida por emprestar a voz para músicas de SBTRKT, inclusive em shows ao vivo.
23
OTTO – The Moon 1111
[Independente]
Este novo disco de Otto chega para confirmar sua originalidade como um dos novos artistas que melhor sintonizam novas tendências ao mesmo tempo em que se apropriam ritmos que sempre ficaram à margem, como o brega. The Moon 1111 chega após a ruptura de um hiato que foi o caso de Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos. – Paulo Floro
22
AMABIS – Trabalhos Carnívoros
[Independente]
Produtor do último disco de Céu, Caravana Sereia Bloom, Gui Amabis encarou mais esse trabalho solo com destaque para as letras, base deste álbum. Cheio de texturas, traz um dos mais sofisticados arranjos do ano.
21
CHROMATICS – Kill For Love
[Italians Do It Better]
O Chromatics foi um dos grupos mais prolíficos este ano. Deste disco, eles conseguiram criar imagens bem interessantes (e misteriosas) que reforçam sua identidade visual. O disco traz uma parede sonora, com referências ao rock clássico e muita experimentação.
20
LIARS – WIXIW
[Mute]
Depois de se destacar na cena dance-punk de Nova York, o Liars foi caminhando para se tornar um grupo bem diferente de seus primeiros anos. E para melhor. Eles se especializaram como um grupo pesquisador de esquisitices e sons mais experimentais. O sexto álbum de estúdio, WIXIW (lê-se “wish you”), mostra que eles aprimoraram essa proposta radical e entregaram um dos seus álbuns mais acessíves em anos.
19
HOT CHIP – In Our Heads
[Domino]
Depois de One Life Stand, um trabalho mais cerebral, este In Our Heads traz uma proposta mais colorida, com toques de R&B e romantismo. Sem se afastar do estilo que firmaram no cenário pop, este novo registro é carregado de despretensão como se a banda estivesse mais solta sem a necessidade de um novo hit como “Over and Over” e “Ready To The Floor”.
18
TULIPA RUIZ – Tudo Tanto
[Independente]
Se em seu disco de estreia há uma qualidade introspectiva, mais caseira, este aqui é um pouco mais extrovertido. Soa como se tivesse sido integralmente feito pra ser tocado com uma banda. Persegue uma sonoridade pop e dançante, inclusive com a participação de Lulu Santos, rei da canção radiofônica 80’s. Algo que afasta sua carreira da tendência de “MPBização” da música jovem brasileira, em que sobram sonoridades violonísticas para todos os lados. Ainda assim, o que Tulipa faz aqui não é simples de ser rotulado. – Germano Rabello
17
CHAIRLIFT – Something
[Columbia]
Primeiro álbum desde a saída do membro fundador Aaron Pfenning, é uma clara evolução na sonoridade, buscando referências na música pop oitentista, além de contarem agora com a máquina de divulgação de uma gravadora grande. O produtor Alan Moulder, que já trabalhou com os Smashing Pumpkins e My Blood Valentine soube aproveitar a criatividade em estado bruto presente no duo e ajudou a destacar a mis-en-scene do grupo como um diferencial. – Paulo Floro
16
TAME IMPALA – Lonerism
Batalhando na psicodelia, o Tame Impala chamou atenção este ano com um disco que transpira novidade em um gênero já tão conhecido.
15
CAETANO VELOSO – Abraçaço
[Universal]
O disco é experimental dentro da discografia de Caetano, mas não se faz de rogado em ser pop, com os possíveis hits do futuro, “Um Abraçaço” (o neologismo de 2012), “Estou Triste” e “O Império da Lei”. Abraçaço encerra a trilogia que dá uma arejada na obra do músico, responsável por clássicos como Transa. Caetano ainda tem muito a falar. – Rafael Curtis
14
LUCAS SANTTANA – O Deus Que Devasta Mas Também Cura
[Independente]
Na música, experimentar é um sonho e um risco. E foi o que Lucas Santtana fez ao apostar em O Deus Que Devasta Mas Também Cura. Camadas, climões, poesia, rimas pobres, homenagens, odes, valsa, tudo tem lugar no novo trabalho do cantor baiano. – Juliana Simon
13
DIRTY PROJECTORS – Swing Lo Magellan
Sem o hype do disco anterior, Bitte Orca, para atrapalhar, a banda americana Dirty Projectors surpreendeu todos com o novo trabalho, Swing Lo Magellan. Liderados por David Longstreth, o grupo apresentou uma coleção de canções que resumem bem a proposta conceitual — e ousada — de equilibrar experimentação e consumo pop imediato. – Paulo Floro
12
METÁ METÁ – MetaL MetaL
[Independente]
Formado por Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França formam o Metá Metá, hoje um dos grupos brasileiros mais ousados na sonoridade. O disco lançado este ano MetaL MetaL, com mais peso, muita improvisação e muita referências afro.
11
RODRIGO CAMPOS – Bahia Fantástica
[Independente]
Desde o primeiro CD — São Mateus Não É Um Lugar Assim Tão Longe — Rodrigo Campos já se mostrava um ótimo cronista, de afinada voz entre uma turma prolífica da MPB. Até então, o cantor era um homem de samba, banhado pela urbanidade da periferia de São Paulo. Em Bahia Fantástica, seu novo trabalho, no entanto, o cantor transfere sua poesia dos campos de terra batida para a terra de todos os santos. – Juliana Simon
10
GABY AMARANTOS – Treme
[Som Livre]
Ao fim da audição de Treme, nós dançamos, cantamos e sofremos (sem muito drama) um pouquinho também. Afinal, é dessa mistura que a música pop é feita. Com certeza um dos mais importantes discos brasileiros do ano e o mais relevante em muito tempo. – Eduardo Dias
09
BEACH HOUSE – Bloom
[Sub Pop]
De um jeito intimista, mas carregado de drama, Bloom é a trilha sonora da geração-Tumblr, interessada no consumo rápido de um universo paralelo impecavelmente belo. É um mundo instagramizado, que diz mais sobre o interior das pessoas, sobre sentimentos, do que o objeto apresentado. Essa psicodelia moderna encontrou no Beach House o nome mais representativo e, por conseguir captar esse zeitgeist dos anos 00, a dupla é um dos nomes mais importantes de nossa geração, com certeza. – Paulo Floro
08
GRIZZLY BEAR – Shields
[Warp]
O quarto do disco do Grizzly Bear traz a banda em uma proposta ainda mais emocional que os trabalhos anteriores. Com letras sobre relacionamentos, o grupo mostra que conseguem dialogar como poucos com sua geração. O álbum traz arranjos mais orquestrados, cheios de surpresa, um tanto menos introspectivo que os discos anteriores.
07
KILLER MIKE – R.A.P. Music
[Williams Street]
Trata-se de uma bem coesa mistura de rock e rap, com pitadas de experimentalismo. Tudo culpa do produtor El-P, nome responsável por levar o gênero a novas fronteiras e considerado o mais visionário dos rappers hoje em atividade. Mike vai longe com críticas à políticos e letras sarcásticas sobre o passado dos EUA (“Reagan”). Tem viço suficiente para tornar-se uma obra-prima do pop daqui há uns anos. – Paulo Floro
06
FIONA APPLE – The Idler Wheel is Wiser Than the Driver of the Screw and Whipping Cords Will Serve You More Than Ropes Will Ever Do
[Clean Slate/Epic]
Resultado de anos de reclusão e raras aparições em público, Fiona Apple tornou o seu lirismo mais maduro em “The Idle Wheel…” e fez das músicas uma mistura de sentimentos sem poupar as memórias. Ainda, continuou a evoluir no cenário musical: surgida no cenário das cantoras alternativas dos 1990, ela se mostra contemporânea e extremamente dinâmica, sem precisar estar em evidência na mídia para se alinhar aos sentimentos tão fortes que são atemporais. – Juliana Simon
05
GRIMES – Visions
[4AD]
Grimes traz uma artista interessada em explorar novos caminhos no pop e traz um frescor ao gênero. Uma pequena e curta pérola pop que explora o melhor da música eletrônica, o legado das vozes musicais femininas, tudo com um toque de experimentalismo. – Paulo Floro
04
CÉU – Caravana Sereia Bloom
[Universal]
Céu repaginou o popular e acertou. Menos palatável que os outros dois trabalhos, Caravana Sereia Bloom traça a marca definitiva da cantora, que não veio para fazer um pop suave, mas para concretizar a tal nova MPB, sem esquecer as que já passaram. – Juliana Simon
03
KENDRICK LAMAR – good kid, m.A.A.d. city
[Top Dawg]
Mas, o que faz dessa estreia de Lamar (mais) uma obra-prima do hip hop é seu talento em contar histórias. Falando de sua vizinhança, contando causos da sua ainda recente vida adulta (tem 25 anos), cenas de violência, prostitutas, necessidade de enriquecer (velha obsessão), o rapper mostra uma empatia difícil de encontrar. – Paulo Floro
02
SIBA – Avante
[Independente]
Guitarras por todos os lados. Siba foi invadido e, dos tempos de Mestre Ambrósio e Fuloresta, só sobrou o bigode. Em Avante, saíram o maracatu, o frevo e as cirandas – pelo menos, como se conhecia — e entrou o rock. Nazaré da Mata, ganhaste um “guitar hero” para chamar de tua. O filho da zona da mata pernambucana salta para o urbano sem deixar as raízes, mas agora em companhia de amplificadores e pedais. Avante é imperdível para quem se encanta com poesia e sonoridades à enésima potência. – Juliana Simon
01
FRANK OCEAN – ChannelOrange
[Universal]
Cheio de texturas, Channel Orange traz melodias com um grave acentuado, muito groove, jazz, funk, soul, e elementos de música eletrônica. Ocean ainda colocou interlúdios no trabalho, como se quisesse registrar seu cotidiano. O álbum abre com barulhos de mensagens de texto recebidas, um PlayStation sendo ligado, trecho da música de abertura do game clássico Super Street Fighter II, além de outros diálogos. Há muito o que se descobrir no álbum e isso é apenas um detalhe da importância que ele irá ganhar nos próximos anos. Detalhista, Ocean parece ter construído o disco como se fosse um Tumblr, um almanaque nervoso em que se misturam momentos densos, textos longos, com a rapidez de vídeos, gifs, citações, pequenos trechos de áudio, fotos do Instagram, tuítes, e o que mais couber. – Paulo Floro
Foto montagem sobre trabalho de Fey Ilyas.