ENTRETENIMENTO COM SUBSTÂNCIA
Um código genético em que habitam a ironia e a provocação de uma banda com alma e praticante da criação descomprometida
Por Pedro Salgado
Colaboração para a Revista O Grito!, em Lisboa
Eles são três músicos que fazem questão de cantar com sotaque do norte de Portugal. O baixista José Figueiredo (Smix), o vocalista e guitarrista Filipe Palas (Smox) e o baterista Miguel Macieira (Smux), fazem do humor a sua arma principal, apresentando um repertório em que o rock abrasivo alude a temas como a cocaína, bebida e outros aspetos divertidos da condição humana atual.
O disco de estreia, Eles São os Smix Smox Smux, mostrou que os rapazes de Braga fizeram uma escolha acertada ao eletrificar as suas experiências acústicas iniciais. Canções como “Uísqui” ou “Maçã” grudaram no ouvido pela forma direta e tingida de irreverência exibidas, congregando uma legião de praticantes de air guitar.
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Crítica de Os Gloriosos Smix Smox Smux Derrotarão os Exércitos Capitalistas
A apresentação do novo álbum, Os Gloriosos Smix Smox Smux Derrotarão os Exércitos Capitalistas, na sala TMN ao Vivo, no passado dia 23 de Junho, em Lisboa, consagrou o princípio do conjunto, personificado numa versão apocalíptica de “Sangue” e na comicidade de “Kuduro”.
Na atuação sobressaiu, também, a graça de uma banda que convidou um aniversariante a subir ao palco para cantar uma música antigo e que apontou o casamento “como uma das principais causas do divórcio”. A edição do novo disco, as características do conjunto e as perspectivas futuras estiveram na base de uma conversa com a Revista O Grito! , em Lisboa.
Porque escolheram um título tão panfletário para o novo disco ?
Foi uma combinação de duas coisas. Por um lado, existe um momento na vida portuguesa, na Europa e no mundo, de descontentamento com a política e, de alguma forma, queriamos ser irônicos e provocadores em relação a isso. Por outro lado, a imagética norte-coreana é supercômica e queriamos utilizar isso. Imagina um poster coreano dizendo: “o nosso querido líder derrotará os exércitos capitalistas, depondo Kim Jong-il e colocando os gloriosos Smix Smox Smux no poder”. Não é uma atitude política, mas sim descomprometida.
Como surgiu a colaboração de Adolfo Luxúria Canibal para a música “Sangue” ?
O Adolfo já é nosso conhecido há algum tempo. Ensaiamos na sala ao lado dos Mão Morta e somos ambos grupos de Braga. Fizémos o tema “Sangue” com a ideia de colocar aquele imaginário e o mundo sombrio, que lhe estão associados, num tema nosso. Admiramos o trabalho e a personalidade que ele criou e assim o fizémos. O convite foi aceite e a música fala por si.
Em “Magia”, a vossa ironia parece ter ficado um pouco mais adormecida e procuraram construir um épico, com remeniscências de prog rock. Concordam ?
A ideia do prog é engraçada (risos). Embora, nunca pensámos muito nisso, nem acho que esteja muito presente nas nossas influências. Se calhar, em termos de texto, fomos menos irônicos e mais sinceros do que é normal. Mas, em relação ao nosso trabalho anterior, queriamos ter uma diversidade maior de tipos de expressão e sentimentos colocados nas letras. É verdade que “Magia” tem alguns momentos de sinceridade, mas, no final, regressa o nosso registo normal. Nunca conseguimos fugir à ironia e à provocação.
Sentem que com este trabalho a praia ficou mais próxima de Braga ?
A praia infelizmente ainda está longe de Braga. Mas, esforçamo-nos sempre para que as músicas acertem nas pessoas de uma forma positiva. Se escutarmos o nosso primeiro álbum, “Eles são os Smix Smox Smux”, reparamos que ele é mais directo e cru do que o novo disco. Queremos dizer às pessoas que somos sarcásticos, “palhaços”, mas também pretendemos evoluir, mostrar que trabalhamos e, claro, algum respeito (risos).
Consideram-se um cruzamento entre a Banda do Casaco e os Afonsinhos do Condado ?
Não nos catalogamos e também não pensamos muito nas nossas influências e no que nos leva a fazer certo tipo de canções. Ao fim de algum tempo tiramos algumas conclusões, mas a nossa concepção musical passa apenas por uma criação liberta de ideias pré-concebidas. Cada um tem a sua referência que não é muito definida. Se tivermos de fazer um álbum de tango faremos e não queremos estar presos a nada. Queremos ser livres.
Onde pretendem chegar os Smix Smox Smux ?
O nosso objetivo é continuar a tocar. Toda as pessoas que fazem parte de uma banda gostam de fazer shows e de sentir uma evolução nas suas músicas. A nossa meta é divertirmo-nos e continuar a apreciar o que fazemos e, se fizer sentido, continuamos. Não temos um grande propósito pré-definido, mas sentimos contentamento pela nossa arte.
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