A HORA DE DIZER ADEUS
HQ de Cyril Pedrosa é épico delicado sobre família e morte
Por Paulo Floro
Da Revista O Grito!
Até onde vai um pai para proteger o seu filho, é a pergunta que faz o quadrinhista Fábio Moon na orelha do livro Três Sombras, que a Companhia das Letras lança nas livrarias este mês. Trata-se de uma HQ francesa escrita e desenhada por Cyril Pedrosa. A história sobre um casal de camponeses e seu filho pequeno Joaquim faz uso de delicadas imagens para falar sobre perda. Quando é a hora certa para deixar alguém ir embora?
Na trama, três misteriosas sombras começam a rondar a casa e atrapalhar a vida pacata da família. No início elas ficam imóveis no alto de uma colina. Em seguida, espreitam a propriedade e logo fica claro de que vieram busca Joaquim. O pai recusar a aceitar o fato e foge com a criança para tentar de forma desesperada salvá-lo. Nessa aventura, acaba se envolvendo em ambientes que nunca esteve, é acusado de uma assassinato a bordo de um navio precário.
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Leia um trecho da HQ
A dúvida quanto às reais intenções das sombras levam a uma série de questionamentos pelo leitor. Também deixam margem para diversas interpretações. Falar mais sobre elas seria estragar a surpresa do livro, mas uma fica clara ao pesquisar mais sobre o autor e a produção da obra. Pedrosa disse ao jornalista Telio Navega, do Gibizada, que o livro foi feito após um acontecimento real ocorrido com um casal de amigos, que acabaram de perder um filho.
O épico em que o personagem Louis se joga para tentar dar uma chance ao filho pode ser entendida como uma forma de adiar o que parece inevitável, no caso, a morte. Nas quase 300 páginas do livro, vemos as mudanças no relacionamento entre pai e filho e o mais emocionante, o amadurecimento de Joaquim sobre o que está acontecendo com ele. Lançado na França em 2008, a obra venceu o prestigiado festival de Angôuleme.
Com experiência em animação, Pedrosa, que é descendente de portugueses, já trabalhou na Disney, em trabalhos como Tarzan e o Corcundsa de Notre-Dame. Isso acaba influenciando positivamente o álbum, com uma narrativa simples e traços que remetem a ilustrações infantis. A edição da Companhia das Letras é bem acabada, sem apelar para um luxo desnecessário, o que torna o preço acessível. Só peca por não trazer mais informações sobre o autor, resumindo uma minúscula biografia de apenas três linhas em cima do expediente editorial. A tradução da escritora Carol Bensimon é outro ponto a favor.
Como cada pessoa lida com a ideia da morte de uma maneira diferente, Três Sombras terá um impacto bastante particular e diverso a cada leitor. Poucas obras em quadrinhos podem proporcionar isso hoje.
TRÊS SOMBRAS
Cyril Pedrosa
[Quadrinhos na Cia. / Companhia das Letras, 268 pags, R$ 39]
[Recomendado]
NOTA: 9,0