SAINDO DO QUARTO
Depois de mais de 10 anos e 500 músicas gravadas em casa, americano Ariel Pink se mostra ao mundo com álbum que vale por uma estreia
Por Paulo Floro
Editor da Revista O Grito!, no Recife
O introspectivo garoto californiano Ariel Marcus Rosenberg tinha cerca de 500 músicas guardadas em seu HD, desde 1996, quando decidiu partir para o mesmo caminho que muitos de sua geração, ou seja, gravou com recursos pífios, fez um CD-R (outra opção seria mandar links diretos pra download) e mostrou a quem interessava. Nesse caso, na mão do Animal Collective, banda de Nova York bastante articulada e importante no cenário indie atual. Da assinatura com a Paw Tracks, selo desses nova-iorquinos até a chegada deste Before Today, Ariel mostra que está trilhando o caminho certo.
Apesar de ser uma das mais interessantes revelações a surgir na música pop este ano, Ariel lançou diversos discos independentes, ou por selos obscuros, antes de ter toda sua discografia relançada pela Paw Tracks. É uma produção prolífica, sem o filtro de corporações midiáticas, imprensa especializada ou qualquer coisa do gênero. É algo primal, feita para consumo de entendidos e conhecios, uma intimidade exposta, como posts em blogs-diários. E sim, mesmo não sendo um fenômeno na internet, Ariel e sua banda o Haunted Graffiti foram encontrando seu público e dialogando com eles.
MP3 | Ariel Pink’s Haunted Graffiti “Round and Round”
[audio:https://revistaogrito.com/page/wp-content/uploads/2010/07/05-ariel_pinks_haunted_graffiti-round_and_round-noir.mp3]
Este Before Today, como o nome obviamente alude, mostra que essa trajetória de ilustre desconhecido, loser da cena indie, valeu a pena. Além de que representa tudo o que a banda quis dizer nesses mais de dez anos gravando discos em profusão. Imagine aquele seu amigo nerd (ou hipster), chacotado por andar com suas músicas gravadas em cassetes ou CD-R, postadas em sites de post-rock e lançadas por selos minúsculos de Berlin, sendo elogiado por figurões como o Pitchfork, The Guardian, NYTimes. Não que a banda deva ligar (ou precisar) desse olhar “abalizado”, mas ainda quer dizer algo sobre parâmetros do que é sucesso, e o mais importante, os caminhos pra se chegar a ele.
Com álbuns feitos em casa, Ariel nunca teve muita sorte com shows ao vivo. Mesmo tendo excursionado com bandas experientes, as Vivian Girls, por exemplo, as críticas sempre foram negativas (uma busca no Youtube comprova a assertiva). Ele só foi provar que funcionava para grandes audiências ao tocar no Coachella, ano passado. Depois, em dezembro de 2009, a gravadora 4AD (TV On The Radio, The National), assinou contrato com a banda, e lançou este Before Today.
Rescaldo
O disco apresenta algumas músicas presentes em discos anteriores, desta vez, com uma melhor edição. Com sua banda Haunted Graffiti, Ariel conseguiu agregar qualidade às suas canções, sem abandonar o espírito terapêutico que suas músicas representam pra si – e por tabela, pro ouvinte. São canções sobre coisas banais, com um toque de nonsense, como faziam as meninas do Cocorosie.
Falando nelas, o Ariel é bastante enquadrado no chamado “freak-folk”, um jeito esquisito de tocar guitarra e violão, músicas mais amenas, esquema lo-fi. Mas, por passar uma década no esquema cama-computador, seu estilo está bastante coeso, ao mesmo tempo que tem o frescor de uma banda estreante. “Round and Round”, o primeiro single, e uma das melhores do disco, fez a banda estourar na blogosfera. É uma baladinha de vocal sussurrado, acompanhado por um coro. Outras músicas também chamam atenção pela originalidade (ou traduzindo: se diferenciam nas centenas de MP3 baixadas por um ouvinte médio), como “Menopause Man” e “Bright Lit Blue Skies”.
Boa nova estreia para o Ariel Pink, que sai do quarto para o mundo. E o melhor, nem precisa mais ir atrás de tudo que passou. Como a banda parece querer explicar, o que importa até hoje, é esse registro.
ARIEL PINK’S HAUNTED GRAFFITI
Before Today
[4AD, 2010]
NOTA:8,5