Muito mais do que ir de um lugar a outro, o deslocamento tem o hábito de nos colocar nessa dimensão em que o tempo e o espaço estão suspensos. O novo álbum d’A Banda Mais Bonita da Cidade traduz exatamente essa sensação, com suas letras e sons te convidando a viajar. Há várias pistas (em todos os sentidos) espalhadas ao longo de suas oito faixas – um número simbólico para uma obra que conclui que todo o movimento é circular.
De cima do mundo, a Banda viu o tempo. E só quem esteve por lá é capaz de confirmar que O futuro já está acontecendo, nome do disco que o quinteto curitibano acaba de lançar. Um álbum com começo e sim, que apresenta a calma e a serenidade de quem desvendou alguns mistérios e passou a ver leveza não só na alegria dos encontros, mas também no inevitável vazio após as despedidas.
O movimento pelo tempo e pelo espaço costura todo o disco. Já na faixa inicial somos transportados para novos horizontes, com inícios vertiginosos, planos para o futuro e saltos ao desconhecido. Mas esse voo se torna suave com a companhia certa. E aqui temos também um elemento que segue durante toda a audição da obra: a presença.
Também as melodias têm seu fluxo, seguem sua própria correnteza nos conduzindo por essas sensações. A aposta em uma sonoridade etérea cria cenários belos ou angustiantes pelos quais viajamos ao dar o play – a suavidade de timbres que cuidadosamente conversam com os ritmos, os preenchimentos e vazios sonoros, as camadas de texturas que ora sublinham o que é dito, ora nos jogam para um lugar inesperado. Sintetizadores noventistas, arranjos de orquestra, solos épicos, referências orientais também estão à serviço da viagem, remetendo a diferentes épocas e lugares.
O movimento às vezes exige coragem, aquele empurrãozinho. E o novo álbum d’A Banda Mais Bonita da Cidade é justamente essa inspiração: você não precisa saber por onde começar e tampouco onde isso vai dar.