O espetáculo O Irôko, a Pedra e o Sol, do grupo O Poste Soluções Luminosas, está de volta ao Recife para uma curta temporada durante o mês de junho, conhecido como o Mês do Orgulho LGBTQIA+. Racismo, intolerância religiosa e homofobia são alguns dos temas que atravessam o musical, que tem trilha sonora composta e tocada ao vivo pelo Grupo Bongar. As apresentações acontecem no Teatro Hermilo Borba Filho, nos próximas dias 2, 3 e 4, em sessões gratuitas. O incentivo é do Funcultura.
Formado por um elenco inteiramente negro, a peça traz referências à cultura de matriz africana para contar a história de amor entre dois jovens, Severino e Sebastião, que moram em uma pequena comunidade quilombola evangelizada do sertão pernambucano e são perseguidos por manterem um romance homoafetivo.
A montagem do texto é baseada na história de uma paciente soropositiva de Itapipoca, sertão do Ceará, que foi abandonada pela família durante um mês em um hospital público da região. Antes de interná-la, porém, os pais, junto com a vizinhança, derrubaram o banheiro que a jovem utilizava, separaram copos e outros objetos e isolaram-na dentro de um quarto.
“A partir desse fato eu fiquei muito inquieto, e o teatro é o caminho onde eu posso falar, escrever e denunciar. E aí surgiu a história de um casal de jovens que têm um relacionamento homoafetivo e a comunidade descobre e os impede, os trancando. Então o espetáculo explora essas duas questões: A questão racial, através de um quilombo evangelizado e doutrinado, e a pessoa LGBT na sociedade”, explica o diretor do espetáculo, Samuel Santos.
Todas as canções originais da peça foram compostas por Santos em parceria com o Grupo Bongar. “Para a gente foi uma conexão muito ancestral. Colaborativa mesmo com o Samuel participando de todos os passos, então foi um aprendizado gigante”, relembra Thulio Xambá, uma das mentes criativas por trás da trilha sonora.
Explorando temas como HIV, entendimento emocional e sexual, afetividade negra e relações familiares, O Irôko, a Pedra e o Sol procura refletir sobre a atual realidade encontrada no Brasil, o país que mais mata LGBTs no mundo. “Protagonizar este espetáculo nesse contexto, num país onde nossos corpos são perseguidos, discriminados e aniquilados e a arte é desvalorizada, é um desafio e faz a obra ser indispensável para o debate social”, destaca Ariel Sobral, intérprete do personagem Severino.
A peça, que circulou com apresentações únicas pelo estado, já teve passagens pelas cidades de Garanhuns, Jaboatão dos Guararapes e Arcoverde, em 2022, como vencedora do Prêmio Nacional SESC de Artes Cênicas.
SERVIÇO:
Espetáculo O Irôko, a Pedra e o Sol
Local: Teatro Hermilo Borba Filho (Cais do Apolo, 142, Recife)
Sessões: 2, 3 e 4 de junho
Horários: sexta e sábado, às 19h; domingo, às 18h
Entrada gratuita
Classificação 18 anos