Apurado: Sexo, drogas e dor nas livrarias

aconteceu em woodstock
Cena do filme Aconteceu em Woodstock, baseado no livro de Tiber, que está nas livrarias

SEXO, DROGAS, ROCK, DOR, PORRALOUQUICE E TRAMBIQUES – ESCOLHA O SEU DRINK
Diversos lançamentos envolvendo temas caros à cultura pop estão nas prateleiras, dois deles com adaptações para o cinema já finalizados
Alexandre Figueirôa, editor especial da Revista O Grito!

Andei meio sumido. São tantas demandas nestes dias de modernidade líquida (ou gasosa?) que não consigo parar uns minutos para resenhar os livros que Paulo Floro me pede e nem mesmo os que li recentemente. Assim para desencalhar tanto atraso resolvi de uma vez só comentar todas as obras literárias que passaram por minhas mãos nas últimas semanas. Não sei se conseguirei estabelecer relações entre elas, mas tentarei ao menos pincelar algumas impressões. IMPRESSÕES, OK? Portanto, amáveis autores e leitores não fiquem muito eufóricos ou chateados com o que alinhavarei a seguir.

Há meses o pessoal da Revista O Grito! pediu-me uma resenha de Um Estranho em Mim, de autoria do paraibano Marcos Lacerda. O romance narra a história de um médico maduro que se envolve com um adolescente de 17 anos. Bom, para ser sincero, apesar do tema delicado e do esforço do autor para nos detalhar todas as nuances dos sentimentos dos personagens, a uma certa altura do campeonato a leitura do livro me cansou. Tudo é tão esmiuçado na tentativa de explicar a origem de todos os processos emocionais pelos quais passa o pobre médico que me senti como se estivesse bisbilhotando as sessões de análise de algum desconhecido. Bom, sei que isto é uma questão de gosto, mas de repente tudo ficou meio clichê e para continuar a leitura até o desfecho me perguntei umas quinhentas vezes se valeria a pena ver no que é que ia dar, algo que considero fatal para um livro.

Ao largar o livro da biba sofrida fui dar uma espiada em Eu te amo Phillip Morris, do jornalista norte-americano Steve McVicker. Leitura ágil e envolvente sobre a vida de Steven Russell, uma bicha trambiqueira que, por amor ao tal Phillip Morris, larga a vida de policial honesto, pai e marido fiel para se enredar nas teias do crime e perpetrar golpes de estelionato e algumas das fugas mais sensacionais já vistas nos Estados Unidos. A obra é comparada na contracapa com A Sangue Frio, de Truman Capote. Um exagero, todavia. McVicker escreve bem e retrata com fidelidade as trapaças armadas pelo seu “herói”. Mas compará-lo ao minucioso estudo feito por Capote é golpe para vender livro. Apesar deste senão, vale a pena acompanhar as peripécias de Morris que por amor a outro homem não impõe limites aos seus desejos. O texto nos revela, além de uma personalidade instigante, um retrato de como as coisas funcionam na pátria do capitalismo selvagem e a prova de como dinheiro e sexo são ingredientes certos para uma boa história.

Depois das boas risadas com o livro de McVicker, decidi dedicar meu pouco tempo livre para ler Pornopopéia, o mais recente romance de Reinaldo Moraes, autor paulistano de quem li lá pelos anos 1980 Tanto Faz. O argumento me parecia bom, pois Moraes elegeu como protagonista deste seu novo exercício literário um ex-cineasta marginal cuja tarefa é rodar um vídeo institucional sobre embutidos de frango. Zeca, o tal ex-cineasta, é um cara desregrado em busca constante e frenética por orgasmos e substâncias alucinógenas ilícitas. Até aí tudo bem. Mas lá pela metade da narrativa, os excessos cometidos pelo personagem começam a dar claros sinais de déjà vu e o texto que, no início, soara instigante por sua acidez e o olhar cínico do autor sobre a sociedade contemporânea parece não nos conduzir a lugar nenhum. Não que esperasse alguma mensagem redentora ou desfecho edificante. Mas ao final 475 páginas me pareceram tão excessivas quanto os excessos com os quais Moraes alimenta sua imaginação. Senti-me meio cansado. Se esta era a intenção do autor, ele conseguiu.

Depois dos excessos de Reinaldo Moraes bati o olho na prateleira da livraria e achei que Aconteceu em Woodstock, de Elliot Tiber poderia ser uma leitura interessante. Afinal estamos festejando os 40 anos do maior festival de música pop já realizado em todos os tempos, marco incontornável para as gerações pós-1968. O que aguçou minha curiosidade, já que conheço os discos, o filme, e tantas histórias sobre o festival, foi o fato de o narrador dos eventos transcorridos naquele verão de 1969 ser um dos responsáveis pela realização do festival: um designer gay cuja trajetória pessoal em nada fazia crer que ele seria um dos principais responsáveis por tal acontecimento. Na verdade, do festival mesmo, sobretudo sobre as apresentações musicais e do que aprontaram os hippies e participantes, o livro não traz informações as quais já não tenham sido contadas antes. Contudo, o ponto de vista de alguém que experimentou na pele os bastidores e dias que antecederam à maratona de rock, sexo, drogas, paz e amor acontecida a poucos quilômetros da cidade de Nova York é sem dúvida a melhor motivação para a leitura. Entremeada com a biografia meio bizarra do próprio Tiber, Aconteceu em Woodstock é diversão garantida e ao final da leitura nos dá a certeza de que sem as maluquices cometidas por aquela geração o mundo seria certamente muito pior.

UM ESTRANHO EM MIM
Marcos Lacerda
[Summus, 192 págs, R$ 37,90]
NOTA: 2,5

EU TE AMO, PHILIP MORRIS
Steve McVicker
[Planeta, 296 págs, R$ 31,90]
NOTA: 7,5

PORNOPOPÉIA
Reinaldo Moraes
[Objetiva, 475 págs, R$ 54,90]
NOTA: 7,0

ACONTECEU EM WOODSTOCK
Elliot Tiber
[Best-Seller, 304 págs, R$ 34,90]
NOTA: 8,0

[+]Alexandre Figueirôa é doutor em Cinema pela Sorbonne e professor da pós-graduação em Jornalismo Cultural e Cinema da Universidade Católica de Pernambuco. É crítico e editor especial da Revista O Grito!