Entrevista: Nervoso e os Calmantes

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Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)
Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)

Alexandre Paixão foi um bom baterista que tocou por importantes bandas do underground – Acabou La Tequila, Matanza e Autoramas. Em 2004, lançou Saudades das Minhas Lembranças e depois de cinco anos, Nervoso – como prefere ser chamado – está de volta com um segundo disco, junto com sua banda competente em Nervoso e os Calmantes pela gravadora Midsummer Madness. Entre as gravações do clipe da música “Eu Que Não Estou Mais Aqui”, o vocalista acompanhado por Wagner Vallim (guitarra) e Alberto (piano e teclado) respondeu algumas perguntas para a Revista O Grito!
Por Jean Garnier

PARA QUEM AINDA NÃO OS CONHECE, COMO SURGIU À BANDA DE VOCÊS?
Nervoso: Depois que achamos melhor separar as atividades do “Nervoso pessoa física” do “Nervoso Banda”. O poeta Tavinho Paes já havia sugerido nosso envolvimento com calmantes e laboratórios químicos, assim achamos por bem respeitar a sugestão do nosso amigo e batizar a banda dessa forma.

COMO VOCÊS DEFINEM O NOVO DISCO “NERVOSO E OS CALMANTES”?
Nervoso: É esquisito se distanciar de nós mesmos a fim de emitir uma análise auto-critica etc., mas o que posso dizer é que houve um trabalho de desenvolvimento com envolvimento sólido da banda, incluindo o Benjão, que é um grande arranjador e compôs três musicas para o disco. Esse trabalho representa um envolvimento mais significativo dos integrantes e meus planos tem a ver com o aumento desse envolvimento no próximo disco.

Wagner: Na primeira vez em que ouvi o disco, nem fazia parte da banda ainda, então minha impressão foi de ouvinte… É um ótimo disco, mas o que eu mais acho interessante é o fato dele ter, dentro desse universo rock, algo de ‘carioca’ que nenhum outro disco que ouvi recentemente tem. Isso nas letras, nas harmonias, melodias… Não poderia ter sido feito em outro lugar e acho isso muito representativo pra banda.

Alberto: Para mim o legal desse álbum é a variedade das músicas são bem diferentes entre elas  tem: trilha de cinema, salsa-samba, baladas, rock, climas, musica com criança cantando…  é bem variado, e bem gravado, com boas músicas na minha opinião.

Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)
Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)

QUAL A EVOLUÇÃO QUE VOCÊ VÊ NA SONORIDADE DA BANDA SE COMPARANDO AO DISCO ANTERIOR “SAUDADES DAS MINHAS LEMBRANÇAS”?
Nervoso: Tem muito a ver com a própria solidificação do combo. Mas também com a qualidade do estúdio (Soma), e do envolvimento dos produtores da casa (Guilherme Vaz, Alê de Morais, Bruno Valansi) no trabalho. Eles marcaram presença nos ensaios, se interessaram pela musica e cuidaram do disco como se fosse deles (e é! eheheh)

Wagner: Evolução de quem passou a ter maior auto-conhecimento e conseguiu estabelecer uma identidade própria: As influências são perceptíveis, mas muito mais sutis. De um disco pro outro, sinto que o Nervoso conseguiu mostrar melhor a própria personalidade musical, embora as referências estejam lá. É uma questão de amadurecimento mesmo.

Alberto: Para você ter uma ideia no primeiro disco participei em algumas faixas e tinha um Cássio tone que é um teclado que apesar te ter sonszinhos bem legais, não é o que agente pode chamar assim de um bom instrumento. No segundo teve gravações em um piano de cauda com quarteto de cordas, isso pra mim é uma grande diferença, por exemplo, hoje  tenho um equipamento melhor e isso pra mim foi uma grande diferença entre os dois discos e também o amadurecimento da banda como conjunto e individualmente como músico; houve uma melhora em tudo isso.

COMO FOI A GRAVAÇÃO E AS PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS, ENTRE ELAS, BERNARDO VILHENA, NINA BECKER, STEPHANE SAN JUAN, LAFAYETTE?
Nervoso: Vilhena marcou presença no nosso disco em dois momentos, duas letras que, ao serem harmonizadas por Nervoso, se encaixaram perfeitamente no universo da banda: “Canção do Vento” é um tributo ao cancionista solitário, que passaram poucas e boas em suas carreiras, como o Zé Ramalho, e conta com uma locução sombria do próprio Bernardo Vilhena; “Minha Saudade” foi toda composta no violão e quarteto de cordas. O piano de cauda executado com maestria por Lafayette.

Além de postar sua bela voz no coro a la Ennio Morricone de “Kit-Homem”, Nina Becker, divide a autoria, canta e toca kazu (uma espécie de cornetinha infantil) em “Uma Simples Questão”, uma bem-humorada canção infantil com referencias políticas ao unilateralismo e participação da criançada, nossos filhos. Para abrir essa canção, compus uma vinheta com samples de brinquedos infantis com alterações de circuito.   Já o percussionista da Orquestra Imperial apareceu numa das sessões e gravou percussão na latina “Eu Que Não Estou Mais Aqui”.

Alberto: Antes de o nervoso convidar o Lafayette pra fazer o piano em “minha saudade” era eu quem iria gravar então estudei a música pensando como seria o piano dela que tipo de acompanhamento que melhor pudesse se encaixar com a bela melodia, depois com o convite ao Laffayette fiquei como observador, assisti a gravação prestando atenção, tipo olha o que ele fez ali e aqui pô que legal, foi uma aula … um grande momento de aprendizado e ao mesmo tempo de confirmação de algumas coisas pra mim.

Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)
Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)

QUAL FOI A INSPIRAÇÃO NA MÚSICA “KIT HOMEM”?
Nervoso: O universo do homem que já vem com ex-esposa, filhos e dividas

GOSTARIA QUE VOCÊS CONTASSEM UM POUCO SOBRE A PARTICIPAÇÃO DO GUSTAVO BENJÃO (DO AMOR)? ELE PODE SER CONSIDERADO UM 7º INTEGRANTE DO GRUPO?
Nervoso: Ele era da banda na época e teve participação muito significativa. Mas hoje em dia está bem concentrado em seu estúdio e seus projetos.

Alberto: O Benjão estava no começo do começo e seguiu com agente ate mais ou menos o disco ficar pronto, depois quando o do amor começou a intensificar suas atividades ele optou por se dedicar mais a sua banda, acho o Benjão muito criativo na invenção dos arranjos tem muita coisa dele no disco e por coincidência estamos prestes a filmar um clipe com uma música dele que arranjamos juntos pro disco “Eu que não estou mais aqui”.

A GRAVADORA (MIDSUMMER MADNESS) COLOCOU HÁ TRÊS ANOS O EP DE VOCÊS “ENQUANTO O DISCO NÃO VEM” INTEIRO PARA DOWNLOAD GRATUITO. O QUE VOCÊS ACHAM DESSE TIPO DE DIVULGAÇÃO?
Nervoso: Foi sugestão minha, pois sabia que o disco iria demorar. O Lariú é um grande parceiro. Um militante.

Wagner: Eu ainda não estava na banda quando isso aconteceu, mas olhando “de fora”, acho esse tipo de atitude muito legal, porque mostra ao público que a banda está ativa, independente da possibilidade, ou oportunidade, de lançar um disco. No caso de bandas que já lançaram algum material, isso preenche o espaço que pros fãs pode ser de uma espera sem previsão, e para quem ainda não conseguiu gravar um disco, pode funcionar como um “aperitivo”. Se o material for bom, a banda só tem a ganhar.

E O SOBRE A COVER DO RONNIE VON, “MÁQUINA VOADORA”, DE QUEM FOI A ESCOLHA? ELE OUVIU? SE SIM, O QUE ACHOU?
Alberto: Vim conhecer esta música através do nervoso e acho-a realmente muito boa, adoro tocar ela nos shows porque ela é meio psicodélica (pra mim a melhor fase do Ronnie), e ao mesmo tempo ela é pressão é forte.

HÁ ALGUMA OUTRA COVER QUE VOCÊS GOSTARIAM DE FAZER? ALGUMA DO ROBERTO CARLOS?
Wagner: Já tocamos uma do Roberto! “Ninguém vai tirar você de mim”, que na nossa versão é uma verdadeira porrada, com direito a programação eletrônica,  guitarra distorcida e arranjo de cordas.

FALANDO EM COVERS, CERTA VEZ CONVERSANDO COM OS INTEGRANTES DE UMA BANDA, ELES ME DISSERAM QUE HÁ LUGARES EM QUE O DONO PAGA PARA A BANDA FICAR TOCANDO COVERS A NOITE TODA. SÓ PEDE AS “MAIS BABAS”. VOCÊS JÁ TIVERAM QUE PASSAR POR ISSO?
Wagner: É uma atitude conservadora, e já aconteceu muito comigo… Dono de casa não tá interessado em dar espaço pra uma banda tocar um repertório de inéditas e formar público, mas sim em ter o “jogo ganho”… é mais garantido chamar o público para ver e ouvir o que já conhece e gosta do que propor novidade.

COMO A BANDA FAZ O USO DA TECNOLOGIA (INTERNET) PARA PRODUÇÃO E A DIVULGAÇÃO NOS DIAS DE HOJE?
Nervoso: São muitas ferramentas, mas é necessário que haja um cuidado para não se tornar inconveniente. Tem uns spammers de banda que já estão bloqueados na minha caixa de correio. Enchem o saco.

QUAL A DIFICULDADE QUE VOCÊS ENCONTRARAM PARA DIVULGAÇÃO?
Nervoso: A dificuldade maior é a falta de tempo e encontrar um equilíbrio conveniente a fim de fazer bom uso das ferramentas disponíveis.

E COMO FOI A REPERCUSSÃO SOBRE O DOCUMENTÁRIO PRODUZIDO PELA GHETTO FILMES SOBRE AS GRAVAÇÕES DO ÚLTIMO DISCO?
Nervoso: Sempre que há oportunidade exibimos antes dos shows e as reações são sempre positivas. Acho importante passar um pouco do que rolou dentro do estúdio, nossas experimentações e clima de amizade. Fora isso rola uns clipes com momentos distintos. O  Marcelo Gibson, da Ghetto,  é um grande parceiro, além de excelente profissional e está sempre de olho mágico em nossas andanças.

VOCÊS FIZERAM O “SESSÕES MTV”
Nervoso: O Sessões é um excelente projeto, gravado num estúdio de altíssimo nível em São Paulo. O Alê tomou uma surra em 220 volts mas no fim tudo deu certo. Ganhamos um registro eterno que esta no ar em www.mtv.com.br/sessoes

Wagner: Muito bacana. O pessoal do estúdio onde gravamos foi muito solicito e o clima foi ótimo… Resumindo, foi muito legal fazer o Sessões, na minha opinião, uma bela idéia da MTV, abrir esse canal on-line pra que o público veja as bandas tocando ao vivo, mas dentro do estúdio.

Alberto: Gostei muito de participar e achei legal todo o clima do lugar toda galera que trabalhou nisso era muito bacana e boa no que fazia, o resultado do áudio ficou ótimo.

COMO SÃO OS  SHOWS DE VOCÊS? E AS PARTICIPAÇÕES DE GEORGE ISRAEL (KID ABELHA)?
Nervoso:
Vivemos um grande momento agora com a entrada do Wagner, que se entende super-bem com o Alê nas guitarras. Como abandonei as cordas, fico com mais mobilidade no palco. O show tá bem divertido e interativo. O George havia me convidado para cantar Negro Gato no show dele e tratei de retribuir com Spanish Bombs e Despedida Sem Fim.

Wagner: Divirto-me muito nos shows e acho que toda a banda pensa da mesma forma. Tenho chegado ao final de cada apresentação com vontade de toca mais uma, e mais uma… inclusive, no show de lançamento do disco, no Cinematheque, tocamos dois canções com o George Israel e quando começamos a última, Bloco Neguinho, ele voltou ao palco pra participar… Acho que todo mundo que ama fazer música, como nós, gosta de palco e não quer descer dele por nada. O Nervoso continuou depois do último número, tocou mais uma sozinho, no violão…

Alberto: Acho que estamos cada vez melhores ao vivo todo mundo amarradão, é um prazer e uma honra tocar com esses caras.

nervoso calmantes
Saudade Das Minhas Lembranças (2004), Enquanto O Disco Não Vem (2006) E Nervoso E Os Calmantes (2009)

COMO É A RECEPTIVIDADE DO TRABALHO DE VOCÊS FORA DO RIO DE JANEIRO?
Wagner: Até agora, fora do Rio, eu tenho ouvido “Quando vocês voltam?” ou, no caso da MTV, que não foi um show, uma telespectadora perguntou “Quando vocês tocam por aqui!?”

Alberto: Temos uma boa receptividade fora do Rio tem uma galera que acompanha agente no Ceará, em Recife. Em Belém foi muito legal ver a galera cantar junto as músicas, eu noto que mesmo apesar das grandes dificuldades que o Rio tem causadas inclusive por uma péssima administração durante alguns governos, as pessoas fora do Rio ainda tem aquela  curiosidade de saber o que esta sendo feito no Rio, porque o Rio sempre foi uma vitrine, no passado a capital cultural e política, então isso existe meio no inconsciente do brasileiro em geral, e também o Rio apesar de tudo é muito querido no Brasil e é legal ver isso uma curiosidade pela banda do Rio que está na cidade, agente sente isso e tenta retribuir da melhor forma que é tocando e trocando idéias.

COMO ESTÁ A CENA MUSICAL CARIOCA NOS DIAS DE HOJE? VOCÊS RECOMENDARIAM ALGO NOVO?
Wagner: Acho que a cena tem uma porção de coisas muito boas, e de estilos variados. Só pra citar alguns exemplos, tem o Fuzzcas, fazendo uma linha retrô, o Rapposa, que lançou disco há pouco tempo, e o Contracapa, que recentemente tocou nas seletivas do MADA. Essa galera sempre toca em festivais de bandas independentes, como o B de Banda, Plugado, entre outros, o que indica que estão se movimentando, atuando. No entanto, essa cena independente acaba gerando problemas, como o fato de algumas casas hoje – as que poderiam dar espaço para boas bandas independentes mostrarem seu trabalho – preferirem esses festivais competitivos. Aí você tem noites muito irregulares, com cinco ou seis bandas tocando, das quais se salvam um ou2… Mas pro dono da casa não importa, o que ele quer é que as bandas levem público, o que não indica qualidade, necessariamente.

No meu modo de ver, é talvez um espaço até mais democrático, porque qualquer banda pode mostrar seu trabalho, a princípio, mas isso acaba desmerecendo o profissionalismo de bandas que estão na batalha há algum tempo e precisam se submeter a esse tipo de atitude por parte dos organizadores, só para poder tocar.

Alberto: Das bandas que tenho visto, algumas nossas conhecidas, o canastra, o autoramas  que são novidades não tão novas, mas que muita gente ainda não conhece, tem também o do amor  tem o momo, um trio de meninas chamado as Doidivinas também… Novidades legais que tão por ae tocando, como muitas outras também, só que está faltando o principal. Que é o público. Os governos têm sido muito caretas nesse sentido de promover a efervescência cultural, em conceder alvarás pra locais de música ao vivo e enfim incentivar novidades musicais permitindo que se manifestem livremente em praças ou parques, por exemplo, desburocratizando os tramites pra isso.

Para mim a cidade que tem um potencial para ser uma festa 24 horas por dia dando empregos gerando renda e o que é mais importante trazendo alegria as pessoas, esta muito longe desse ideal a falta de educação e cultura gera a ignorância e a truculência, o lixo pela calçada e a falta de senso crítico, isso dificulta a recepção de algo novo e interessante existem, bandas,  artistas que não conseguem trabalhar e existe um público que não anseia por novidade ou que se contenta com o que já vem rotulado e seja de fácil digestão, na minha opinião a cena ta fora de foco e o público míope e sem óculos, mas já ouvi falar que são em momentos como os deste tipo que as coisas podem mudam.

NERVOSO, VOCÊ JÁ PASSOU POR VÁRIAS BANDAS (ACABOU LA TEQUILA, AUTORAMAS, MATANZA) COMO É A SUA RELAÇÃO COM ESSAS BANDAS?
Nervoso: Com as bandas é ótima. Já com os integrantes… Brincadeira.  Dessa galera, hoje em dia, estou mais com o Renato e o Gabriel, até porque temos um projeto juntos, Lafayette e os Tremendões. Do Matanza, não encontro mais ninguém. A Simone (que era do Autoramas na minha época vai dar luz a seu eterno alterego Esmeralda em nosso próximo clipe, dirigido pela Guta Stresser)

COMO ESTÁ O SEU PROJETO SOLO (NERVOSO SOLO)?
Nervoso: Nesse momento estou focado no lançamento do disco Nervoso e os Calmantes, mas penso em lançar um disco como Nervoso mesmo algum dia. Até porque o fato de existir uma banda com Calmantes me dá liberdade para isso, digo, de produzir sonoridades que não se aplicariam ao grupo.

Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)
Nervoso e os Calmantes (Foto: Henrique Badke/ Divulgação)

EM ALGUM MOMENTO INCOMODA O FATO DO GRUPO SER AS VEZES CONHECIDO COMO “A BANDA DO NERVOSO”? OU ISSO É UMA VANTAGEM, POR ELE SER UMA PESSOA FAMOSA NO CENÁRIO MUSICAL?
Wagner: Desde que entrei na banda, o reconhecimento por um bom show ou por uma participação na MTV, por exemplo, tem sido bem distribuído. Posso dizer que, na minha percepção, o Nervoso não concentra todos os elogios pelos feitos da banda, agora, acho fundamental que ele se destaque de alguma maneira, afinal de contas ele assume no palco, e fora dele por conseqüência, essa postura de band-leader, de frontman, e o Rock n’ Roll é isso mesmo… Jim Morrison à frente dos Doors, Mick Jagger à frente dos Stones, Bono à frente do U2, só pra citar alguns exemplos.

Agora, eu não colocaria o fato de ser visto como “a banda do Nervoso” como uma mera vantagem – é claro que por ele ser um artista conhecido, a banda acaba se beneficiando. Mas não vejo a coisa de uma maneira tão ingênua assim. Acho que se hoje ele é conhecido, é porque galgou seu próprio espaço e conseguiu se consolidar na cena, o que torna nossa posição um privilégio. Pra mim, acima de uma vantagem, é uma honra fazer parte de um time como esse, que o acompanha, e ele faz questão de atribuir ao trabalho de todos os sucessos de cada empreitada e esse reconhecimento é o mais importante, para mim.

Alberto: Conheci o nervoso no estúdio Hanoi onde eu trabalhava e ele tava gravando seu ep personalidade, não conhecia até então sua história em outras bandas, e foi meio por acaso que comecei a tocar com ele. Eu cuidava dos ensaios no estúdio e ele gravava separadamente com Perazzo (Técnico de gravação do Hanoi) em outra sala, nas pausas ele dava uma saída e ae ele me via ali sentado numa mesinha lendo a biografia do Ray Davies dos Kinks, trocamos algumas idéias devido a isso e ele um dia foi lá e comentou que tava querendo  montar uma banda pra tocar as músicas do EP fazer uns shows  e tal, perguntou se eu tocava  e na época tocava guitarra e piano, mas piano era uma coisa só em casa, sei que foi assim que comecei a tocar a ir nos ensaios, eu achava as musicas legais e tava querendo tocar aprender mais, na época trabalhava no Hanoi e tocava em algumas  bandas e meu pensamento era tipo a galera é maneira o som é legal vamos la…

Com a convivência e as cervejas nos botecos shows e a rotina da camaradagem da banda é que fui conhecendo essa história do nervoso, o respeito que outras pessoas da música tinham por ele, tipo rolou uma participação do Bi Ribeiro num show nosso no sul que é amigo do nervoso, ae aos poucos fui conhecendo esse lado dele de conhecido, mas a pilha desde que comecei a tocar com ele era de me desenvolver e ajudar ele no que eu pudesse, porque eu tinha por outro lado já um trabalho de composição  que ocupava esse lado de criação, aos poucos ele foi conhecendo minhas coisas e chegamos a fazer alguns trabalhos de trilhas juntos e fiquei muito honrado quando ele quis abrir o disco com uma música minha, com piano e quarteto de cordas, portanto não sinto nenhum incomodo de ele exercer essa liderança acho justa pelo trabalho que ele teve ate hoje com tudo isso, e por outro lado é bom também facilita o trabalho muitas vezes. Não me lembro de nada assim até hoje que tenha acontecido de ruim por isso… Ele por outro lado quer cada vez mais que se forme uma identidade de banda o que pra mim sempre existiu, nós sempre trabalhamos os arranjos das músicas juntos o processo é um pouco ele chegando com as canções prontas e nós vamos colaborando cada um com seu instrumento sendo que muitas vezes um fala do instrumento do outro, idéias de frases ou introduções o que rolar pra ficar melhor.

Acho que existem bandas, que tem um nome único e que talvez sejam menos coletivas que nós entende? Somos “Nervoso e os Calmantes” estamos lançando um álbum chamado “Nervoso e os Calmantes” e acho que com tempo e o desenvolvimento dos nossos projetos naturalmente as pessoas vão começar a conhecer  melhor o Nervoso, e  os Calmantes também.