Como Usar As Histórias Em Quadrinhos Na Sala De Aula


O autor Waldomiro Vergueiro

EDUCAÇÃO SEQUENCIADA
Antes vilãs, Histórias em Quadrinhos são usadas como recurso educativo em sala de aula. O Grito! inicia série sobre os lançamentos da área
Por Matheus Moura

COMO USAR AS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NA SALA DE AULA
Angela Rama, Waldomiro Vergueiro, Alexandre Barbosa, Paulo Ramos e Túlio Vilela
[Editora Contexto, 160 págs, R$ 25,00]

Tratados como vilões das escolas durante anos, as Histórias em Quadrinhos já há um tempo estão recebendo status de aliadas da educação. Graças ao movimento que vem ganhando força com as HQ’s educacionais e a inclusão de várias delas no Programa Nacional Biblioteca da Escola – PNBE. Porém, muitos professores ainda não sabem como inserir essa nova ferramenta na realidade da sala de aula.

Pensando nisso, o professor doutor e coordenador do Núcleo de Pesquisas de Histórias  em Quadrinhos, Waldomiro Vergueiro, juntamente com mestranda em Geografia Humana pela USP, Angela Rama, organizaram um dos novos lançamentos da paulistana Editora Contexto: Como Usa as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula.

A publicação reúne textos de cinco autores, cada um aborda sua especialidade. Além dos dois já citados acima há: o professor doutor Paulo Ramos; o mestrando em Comunicação pela USP, Alexandre Barbosa; e o historiador professor Túlio Vilela.

Waldomiro abre o livro com o texto Uso das HQs no ensino. Neste artigo o professor discorre sobre a trajetória dos quadrinhos, indo desde a sua primeira aparição, passando pelo polêmico livro A Sedução dos Inocentes, do norte-americano Fredric Wertham e sua influência até os dias de hoje. Uma ótima sacada de Waldomiro foi acrescentar o Código de Ética dos Quadrinhos (versão brasileira) e, claro, como usar as HQs no ensino. O segundo texto é intitulado A Linguagem dos Quadrinhos uma alfabetização Necessária, e também é assinado por Waldomiro.

Dessa vez o professor versa quanto ao aprendizado da linguagem dos quadrinhos, a qual o profissional da educação – não familiarizado – deve passar. O mais interessante mesmo fica com as explicações quanto aos planos e outros elementos que compõem esse versátil linguagem, como os balões, legendas e onomatopeias. Em seguida há o texto de Paulo Ramos.

Ramos durante anos trabalhou como consultor de língua portuguesa da Folha de S.Paulo e do UOL e é professor universitário, além de jornalista. Nada mais normal que deixá-lo a vontade em seu próprio terreno ao escrever o capítulo Os quadrinhos em aula de Língua Portuguesa. Aqui começa o mais interessante. Nesta primeira amostra da aplicação das HQ’s em sala de aula, Paulo Ramos expõe um pouco do poder da linguagem dos quadrinhos e dá ao educador um vislumbre das possibilidades de emprego da Nona Arte nas aulas de português. No geral são dez propostas diferentes mais as considerações finais. Alguns do exemplos de Paulo são: trabalhar as HQ’s para ilustrar a adequação/inadequação, com o intuito de “fixar a noção de que o contexto torna o uso da língua adequado ou inadequado”; trabalhar o preconceito linguístico, para mostrar aos alunos os preconceitos linguísticos – geralmente na fala; a fala e escrita, já é feito com o intensão de tratar das diferenças entre os dois sem um – necessariamente – se sobressair ao outro; e recursos de expressão visual, que visa “incitar a reflexão sobre quão ricos de informação podem ser os elementos visuais utilizados no processo interativo”.

Em seguida há o texto de Angela, Os quadrinhos no ensino de Geografia. Assim como Paulo ela apresenta algumas propostas, embora menos, são seis ao todo. A principal diferença do uso das HQ’s em Geografia é a possibilidade de expandir os temas abordados, indo desde migração, a política internacional e passeando ainda por nacionalismo e cartografia. Da mesma forma que no capítulo de português, cada proposta é ilustrada por um exemplo. Esse aspecto – das ilustrações – é algo que enriquece o material e demonstra bem (principalmente ao leitor de quadrinhos) o quão rico é o meio de material com referência didática.

O que dizer então d’Os Quadrinhos na(s) Aula(s) de História. Essa é a proposta de Túlio: explicitar o tanto que os quadrinhos são úteis às aulas de história. Parece óbvio, mas o historiador consegue dar uso até mesmo à HQ’s que trabalham com o anacronismo (que é algo ser passado em uma época que não condiz à realidade). Ao contrário dos outros dois profissionais, Túlio não separa seu texto por “propostas”, mas sim por inter-títulos (jargão jornalístico para indicar sub-títulos que intercalam um texto). Por exemplo: Cuidados especiais na utilização dos quadrinhos nas aulas de história, Procedimentos de leitura e História em Quadrinhos e Memória. O primeiro tem no título sua auto explicação e é subdividido em três partes para mostrar as formas de uso das HQ’s no ensino de história. São elas: “A) para ilustrar ou fornecer uma ideia de aspectos da vida social de comunidades do passado; B) para serem lidos e estudados como registros da época em que foram produzidos; e C) para serem utilizados como ponto de partida de discussões de conceitos importantes para a História”. O segundo exemplo, procedimentos de leitura, levanta algumas indagações que os educadores devem levantar acerca do material escolhido para as aulas; como “quem é (são) o(s) autor(es)?, por quem fala?, a quem se destina?, e, qual é a sua finalidade?”. Já o terceiro exemplo trata das histórias verídicas. Nelas, Túlio, analise justamente as questões apontadas anteriormente.

O último capítulo, Os quadrinhos no ensino de artes, é o mais técnico. O autor, Alexandre Barbosa, parte de um pressuposto de que em artes as HQ’s servem para exemplificar técnicas – propriamente ditas – como perspectiva, anatomia, luz e sombra, composição e por aí vai. Ao final ele sugere que os alunos façam uma História em Quadrinhos, ou melhor, um zine. comousar hq aulaDentre todos os capítulos este acaba sendo o mais fraco e superficial. Logo em seguida há a bibliografia e um micro currículo dos autores.

Com suas 162 páginas, o livro Como Usar as Histórias em Quadrinhos na Sala de Aula dá o “gostinho de quero mais”. Dentro da proposta de levantar questões e dar soluções para as HQs em sala de aula de ensino médio, ele é muito bem sucedido. O que faltou foi uma discussão maior quanto o significado das HQs e sua abrangência comunicacional. Matérias como física, matemática, biologia, química, também fizeram faltam. Sem contar exemplos de pesquisas e uso em cursos de terceiro grau. Entretanto, isso pode muito bem ser resolvido em uma continuação. As HQ’s em geral não são seriadas?