O Recife acaba de ganhar um novo capítulo em sua história de valorização da fotografia. A lista dos selecionados para o 1º Salão de Fotografia do Recife foi divulgada nesta quarta-feira (26/3), confirmando o êxito de uma convocatória pioneira, pensada para reconhecer, incentivar e difundir a produção fotográfica da capital pernambucana.
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A ação, idealizada pelo fotógrafo do Recife, Ronald Cruz, com incentivo da Secretaria de Cultura, Fundação de Cultura Cidade do Recife, e Prefeitura do Recife, por meio do Sistema de Incentivo à Cultura (SIC), recebeu, ao todo, 78 inscrições para 15 vagas. A seleção foi realizada por uma comissão curatorial especializada, que utilizou as regras previstas na convocatória.
Para o idealizador do projeto, o resultado final da seleção reflete um compromisso concreto com a diversidade. “Dos 53,3% dos selecionados são mulheres cisgênero, superando a marca de 40% de homens cis. Outro dado importante é que, 6,7% se identificam como pessoas trans ou transgênero. Aproveitando esse mês de março, quero destacar o protagonismo feminino. Essa presença das mulheres foi muito forte “, avaliou.
A equidade racial também se impôs no recorte final. 60% das pessoas escolhidas se autodeclaram negras, frente a 40% de pessoas não negras. Em relação às identidades LGBTQIAPN+, 66,7% dos selecionados pertencem à comunidade, sendo 6,7% pessoas travestis, um dado significativo em um contexto de invisibilidade histórica desses corpos na arte.
O grupo reúne talentos diversos em idades, trajetórias e propostas. Juliana Amara, mulher negra e periférica, com cerca de 30 anos, retrata com afeto a memória feliz de pessoas negras. Já Antônia Lacerda, 23, universitária de cinema, apresenta vivências trans no Recife com olhar documental. O Ayandson Melo, 24, registra a resistência de Brasília Teimosa e Ayla Obi, 36, celebra 20 anos de carreira com imagens que unem realismo fantástico e vivência de rua.
Com 20 anos, Crysli Viana evoca o maracatu e a ancestralidade afro-brasileira. Dudu Silva, 21, homenageia os orixás com maquiagem e fotografia urbana. Emidio Freitas, 28, revela a poesia dos gestos cotidianos e Ester Menezes, 25, mulher indígena Xukuru, apresenta um panorama visual das infâncias indígenas pelo Brasil.
A travesti negra Anne Lírio (Fotransgrafia), 23, homenageia Oxum com imagens captadas no Coque. Henrique, 26, transforma espaços urbanos em arte. Luiz Felipe Bessa, 29, dá visibilidade aos trabalhadores invisíveis das águas urbanas. Max Rodrigues, 34, retrata a infância nas margens do Capibaribe com a linguagem do fotojornalismo.
Monie, cerca de 30 anos, autodidata, registra rituais da Jurema Sagrada com foco na identidade do povo de terreiro. Paula Muniz, 34, traz uma série sobre luta e leveza no cotidiano urbano. E, por fim, Vanessa Fernandes, 25, documenta com sensibilidade o cotidiano das palafitas e das feiras populares do Recife.
Os números ainda mostram que 20% dos fotógrafos vêm de povos e comunidades tradicionais ou originários, incluindo 6,7% de indígenas e 13,3% de pessoas de terreiro. A presença desses artistas amplia o escopo estético e político da exposição, promovendo diálogos com espiritualidades, ancestralidades e resistências visuais.
Estamos orgulhosos por essa representatividade de olhares. Mas, claro, acrescento que a inclusão de identidades trans, nesse processo, reflete uma quebra de paradigmas em um campo historicamente dominado por nós, homens “, acrescentou Cruz.
O concurso vai premiar, ainda, os três melhores colocados com valor em dinheiro, sendo R$2 mil para o primeiro lugar; R$1,5 mil para o segundo e R$1 mil para o terceiro. Essa escolha será definida pela comissão julgadora. Um quarto prêmio, de R$500, será concedido por votação popular. Nesse caso, o público vai poder fazer sua escolha através da página do projeto no Instagram. A data deve ser divulgada ainda esta semana.
A abertura oficial do 1º Salão de Fotografia do Recife para o público deve ser realizada a partir do dia 26 de Abril. O local e horário serão divulgados pela organização nas próximas semanas.
