Wicked
Jon M. Chu
EUA, 2024. 2h41. Musical. Distribuição: Universal Pictures.
Com Cynthia Erivo, Ariana Grande
Ano curioso, este de 2024, para os musicais na indústria cinematográfica. No mínimo três importantes obras recorreram aos códigos do gênero para materializar narrativas que têm na banda sonora seu elemento estruturante. Mesmo de forma acanhada, não se pode negar que Coringa 2 experimentou novos caminhos, dividindo o termômetro do público entre os que o consideram terrível ou extraordinário. Emilia Pérez, destaque no Festival de Cannes e provável concorrente ao Oscar 2025, ornamentou uma história de crime e romance com números cantados vigorosos. E já perto do fim do ano, chega às salas brasileiras Wicked – Parte 1, adaptação do famoso musical, a partir desta quinta-feira (21).
Antes de analisar o filme em si, contextualização importante para quem não é familiar à obra: Wicked é um dos espetáculos mais renomados da Broadway. Para se ter ideia, a peça se tornou a quarta com mais apresentações na história da Broadway, ultrapassando o fenômeno Cats. Baseado no livro Wicked: A História Não Contada das Bruxas de Oz, de Gregory Maguire, a narrativa faz parte do universo de O Mágico de Oz, imortalizado pelo clássico filme de 1939, dirigido por Victor Fleming. Por isso não é de admirar o abundante orçamento de 145 milhões de dólares da atual adaptação, capitaneada pela Universal Pictures.
Transcorrida antes da saga de Dorothy Gale à Cidade das Esmeraldas, a trama de Wicked acompanha a origem da relação entre a Bruxa Boa e a Bruxa Má do Oeste. O enredo descortina a trajetória de Elphaba (Cynthia Erivo), uma jovem de pele verde com poderes inatos que, desde o nascimento, sofre preconceito das pessoas ao redor. Ao conduzir sua irmã Nessarose (Marissa Bode) à Universidade Shiz, ela conhece Glinda (Ariana Grande), estudante popular e ambiciosa no melhor estilo Regina George de Meninas Malvadas (2004). Ambas consolidam uma amizade improvável que será testada a partir dos acontecimentos aventurescos ao decorrer da história.
O filme investe nos cânones do musical clássico: diálogos que se transformam em sequências cantadas, coreografias elaboradas, figurinos e direção de arte banhados em cores chamativas. Tudo isso num universo de CGI e efeitos visuais quase onipresentes. O resultado é uma artificialidade geográfica que, particularmente, me desagrada (mesmo compreendendo a intenção de reproduzir, no filme, certa teatralidade cênica que referencia a obra original). Wicked me dá a sensação de instabilidade, inclusive técnica; enquanto os efeitos nas cenas do professor Dillamond – um bode professor, com voz de Peter Dinklage – são eficientes, a falta de esmero estético na sequência dos macacos, parte final do filme, salta aos olhos.
Se o leitor estiver a se questionar em relação ao elenco, adianto que, dentro da proposta, as duas atrizes principais são eficientes em seus respectivos papéis. Cynthia Erivo, atriz de grande capacidade dramática, emprega carisma e força a Elphaba. Ariana Grande elabora sua performance com destreza e leveza; a cocota Glinda há de encantar crianças e adolescentes mundo afora. E seus fãs provavelmente vão amar cada decibel de seus vários agudos nas quase três horas de filme.
Eu, que não tenho problema algum com filmes de longa duração, ainda tento compreender as 2 horas e 40 minutos de Wicked – ainda mais se tratando apenas da Parte 1 (!). Aparentemente, o diretor Jon M. Chu quis deixar o filme com a duração semelhante à da peça da Broadway. Nome responsável por produções como Em Um Bairro de Nova York (2021) e Podres de Ricos (2018), Chu é um cineasta de manual e mantém sua direção burocrática em Wicked. Mesmo em cenas mais inspiradas, como a sequência na Biblioteca, a câmera do diretor flutua num terreno de criatividade limitada. Notem como a chegada à Cidade das Esmeraldas, sonho das personagens que é desenvolvido em clima de expectativa altíssima, é frustrante e sem emoção.
Com sua mensagem água com açúcar sobre respeito às diferenças, Wicked – Parte 1 é um filme de cartilha, cheio de elementos que irão agradar boa parte do público-alvo. Para espectadores minimamente mais rigorosos, é uma experiência infértil, cujas poucas virtudes surgem apenas como adornos de um produto insatisfatório. A segunda parte da produção já tem data de lançamento: daqui a exatamente um ano, no dia 21 de novembro de 2025.
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