Sob forte expectativa, o filme Mulher Rei chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (22), contando a história de guerreiras mulheres chamadas de Agojie, responsáveis por defender o reino africano de Daomé. O longa tem como principal intenção de evidenciar a força da mulher negra e foi dirigido por Gina Prince-Bythewood e estrelado por Viola Davis, atuando como a protagonista e também envolvida na produção. Viola espera “mandar uma mensagem clara à indústria”, de que mulheres negras podem ser humanizadas na tela ao mesmo tempo em que fazem sucesso em escala global.
Crítica: Mulher Rei destaca protagonismo negro e mostra lado da história pouco abordado nas telas
A estreia mundial do longa aconteceu no Festival de Cinema de Toronto no mês de setembro. Em seguida estreou nos EUA com uma boa abertura nas bilheterias. Para promover o longa, Viola Davis e o produtor Julius Tennon vieram ao Brasil, país que é citado na trama. De acordo com Davis, é preciso lembrar que com o tráfico de escravos mundial, milhões de africanos foram levados de suas terras à força para servir aos homens brancos que dominavam o mundo através do colonialismo e crença de superioridade. E dentre os principais pontos de comércio estava o Brasil. Segundo a atriz, o filme semeia a “coletividade que nós temos como pessoas negras. E a contribuição do Brasil sobre isso é enorme”.
Um dos fatores mais importantes sobre a produção permeia questões de representatividade, uma vez que as pessoas pretas são constantemente postas de lado no cenário artístico, quase nunca ocupando espaços de protagonismo.
“As meninas negras tem uma chance de serem vistas de um jeito que elas não foram ainda. E quando eu digo vistas quero dizer que sim, nos cinemas existem alguns dos maiores diretores, alguns dos melhores filmes e nós não temos nenhuma presença neles. Eu estou falando sobre ser vista na vida, onde muitas vezes nosso poder não é visto, nossa beleza e complexidade não é mostrado. Tudo isso deságua nos problemas que afetam mulheres negras, porque nós não somos vistas como válidas”, diz a artista durante a coletiva de imprensa no Brasil. “No filme, as Agojies se enxergam como válidas e eu espero que isso ajude mulheres negras a enxergarem seu poder”, explicou Davis.
Com um elenco quase totalmente composto por atrizes e atores negros, que por muitas vezes a produção mainstream de Hollywood insiste em ignorar, o filme mostra a vida de mulheres fortes e complexas.
O produtor Julius Tennon contou que passou mais de sete anos para conseguir tirar o projeto do longa do papel e trazê-lo à vida: “Fazer um trabalho sobre pessoas de cor em Hollywood, é sempre uma coisa difícil. Você sempre precisa focar sobre como honrar aquelas pessoas. Eu acho que as pessoas negras vão se sentir transformadas, nós acreditamos que esse filme pode causar uma mudança que todos nós queremos ver”.
Comprometidos em contar uma história plural, Viola Davis anuncia que “uma vez que elas [as personagens do longa] estão em foco, você se senta junto dessas mulheres negras por duas horas e seis minutos e fica interessado nas vidas delas. Isso significa tudo para nós”.
Davis afirmou que por muitas vezes, atrizes brancas como Angelina Jolie, Scarlett Johansson e outras já tiveram a oportunidade de romper com padrões de machismo ao ocuparem um local de destaque em produções de ação. Agora, com Mulher Rei a questão que fica para o público é se as mulheres negras também serão aceitas neste espaço.
Julius Tennon, seu marido e produtor, foi questionado sobre se novos filmes como esse vão passar a existir com mais frequência. “Tudo depende da resposta do público”, disse. Dentro da lógica comercial de Hollywood, para que mais obras com protagonismo negro sejam realizadas, o filme precisa lucrar. O primeiro e importante passo já foi dado por Davis e sua equipe. Agora é a vez do público cumprir seu papel.
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