Valente e Setença de Morte

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Cenas dos filmes Valente e Setença de Morte, respectivamente

Justiceiros estão de volta em dois lançamentos em DVD
Por Andre Azenha

SENTENÇA DE MORTE
James Wan
[Death Sentence, EUA, 2007]

NOTA: 8,0
VALENTE
Bruce A. Taylor
[The Brave Once, EUA / AUS, 2007]

NOTA: 8,0

O cinema dos anos 70 não tinha pena dos bandidos. Dirty Harry não dava a mínima para os direitos do “lixo humano”, Joe Don Baker usava um bastão de baseball para arrebentar as fuças dos criminosos e Charles Bronson fuzilava quem o olhasse atravessado, na pele icônica de Paul Kersey, o anti-herói da série Desejo de Matar. Esse tipo de filme parecia esquecido, principalmente após o “politicamente correto” dos anos 90 – até a fumaça dos cigarros foi banida. Mas em 2007 eis que duas produções (disponíveis em DVD) surgiram para acordar os vermes no cadáver do gênero. Sentença de Morte e Valente revivem a experiência visceral, sem sentimento de culpa, dos filmes sobre justiceiros.

O primeiro, além da história de vingança, tem ligação direta com Desejo de Matar, pois é baseado em livro de Brian Garfield, autor do clássico de 74. Traz Kevin Bacon vivendo Nick Hume, cujo filho é assassinado por uma gangue. Ao descobrir que o homicício foi premeditado como ritual de iniciação e, assim mesmo, só renderá uma pena de 5 anos ao criminoso, ele decide não reconhecer o suspeito, para depois segui-lo e matá-lo.valente

Só que sua ação não passa impune – é a moral da história: violência gera violência. A bandidagem não deixa barato e vai atrás do resto de sua família. Cada vez mais (in)tenso, Bacon raspa a cabeça à la Travis Bickle (de Taxi Driver, outro filme dos anos 70) e, raivoso, ataca a gangue inteira. O diretor James Wan, criador da franquia “Jogos Mortais”, traz sua marca registrada, conferindo brutalidade extrema ao ajuste de contas.

Valente, do diretor Neil Jordan (Entrevista com o Vampiro), tem ritmo de drama. Seu maior trunfo é a presença da Jodie Foster (duas vezes vencedora do Oscar, por “Acusados” e “O Silêncio dos Inocentes”). A atriz vive Erica Bain, locutora de um programa de rádio que louva Nova York. Por ironia do roteiro, ao passear com seu noivo (Naveen Andrews, o Sayid de Lost) pelo Central Park, ela conhece o “outro lado” da metrópole. É atacada por uma gangue, que mata seu amor e a deixa hospitalizada. Impaciente com a impunidade, ela se transforma numa espécie de Paul Kersey de saias, fingindo-se de vítima para matar criminosos na noite. Até levantar a suspeita – e a admiração – do detetive policial vivido por Terrence Howard.

Ainda que nem Nick nem Erica tenham a frieza de Kersey ou a rudeza de Dirty Harry, ambos se transformam de vítimas insatisfeitas com a justiça em vingadores “tolerados” pela lei. O que isso diz sobre os EUA pós-11 de setembro renderia outro filme.