O Rec-Beat vem construindo uma tradição de convidar nomes da ilustração e dos quadrinhos para assinar o cartaz oficial do festival. Este ano Ayodê França foi chamado para emprestar seu traço surreal para a identidade visual do evento. Artista plástico olindense, França é também um dos autores da HQ Tô Mirô, que adapta para os quadrinhos a poesia do maior poeta marginal do Recife hoje. Fizemos uma entrevista com os criadores aqui.
Ayodê trouxe um debate sobre gênero ao trazer para o desenho um ser que desafia estereótipos. “A importância de valorizarmos a diversidade como uma das mais belas características dos agrupamentos humanos, responsável por enriquecer as nossas experiências de interação com o outro. No centro, uma figura humana que transcende estereótipos de gênero com os quais somos atualmente bombardeados, o ser humano para além do óbvio, do nicho, sem gênero, origem ou classe social determinada”, disse.
Já assinaram cartazes para o Rec-Beat os artistas Fernando Peres, Shiko, Karina Buhr e Raoni Assis. Todos eles trazem uma visão muito pessoal do conceito do festival, além de dialogar com assuntos do momento. No caso da arte de Karina rolou uma homenagem linda para Elza Soares; Relembramos os cartazes antigos nessa galeria.
O festival acontece entre os dias 25 e 28 de fevereiro, no Cais do Paço Alfândega, de grátis!! As bandas Quartabê e Los Pirañas já estão confirmados.
O paraibano Shiko trouxe uma personagem típica de seu universo para o cartaz de 2013. Temos uma mulher gigante, parada no tradicional palco do Rec-Beat, no Paço, tocando um instrumento que mistura sopro com percussão e microfone. A arte de Shiko tem esse apelo de estar tudo amalgamado, essencialmente urbano e com uma profusão de referências dos mais diversos lugares: cinema, música, tattoos, candomblé e, claro, Carnaval. A arte original desse cartaz foi exposta na Casa do Cachorro Preto em uma exposição individual do artista, em 2013. Shiko é hoje um dos nomes mais importantes das HQs autorais brasileiras. Entre seus últimos trabalhos estão o ótimo Lavagem (2015), a adaptação de O Quinze, de Raquel de Queiroz e a minissérie A Boca Quente (2016), cujo novo volume deve sair este ano.
Fernando Peres assinou o cartaz de 2014 com essa simpática, mas misteriosa, “eteia”. A arte traz elementos que remetem à religiosidade, mas também ao tom mais lúdico da folia de Momo. Peres foi um dos responsáveis pela identidade visual do famoso bar Soparia, local comandado por Roger de Renor nos anos 1990 e que ajudou a promover uma cena cultural recifense na época do mangue beat. Ele é autor de uma das telas que compuseram o acervo pessoal de Chico Science, exposto na Ocupação em homenagem ao músico no Itaú Cultural em 2010. Nos últimos anos ele foi um dos responsáveis pelo Lesbian Bar, ponto de encontro alternativo onde rolavam shows e intervenções artísticas.
Em 2015 foi a vez de Raoni Assis trazer sua arte para a comemoração aos 20 anos do festival. O mais interessante do traço de Raoni é o dinamismo que ele consegue imprimir às linhas do desenho, quase como se o quadro estivesse se movendo. Para completar essa noção de movimento temos uma mulher montada em uma bike dourada alardeando coisas no megafone. Artistas plástico, Raoni é o responsável pela A Casa do Cachorro Preto, espaço em Olinda que promove exposições, shows e lançamentos. Ele também é quadrinhista e um dos autores de Tô Mirô, coletânea que adapta a obra de Miró da Muribeca.
Karina Buhr prestou uma homenagem a Elza Soares no cartaz de 2016. A cantora e artista plástica usou uma imagem de Elza jovem e ainda incluiu na imagem os famosos papangus, os tipos mascarados do Carnaval pernambucano. As duas artistas foram destaques neste ano: Karina tinha acabado de lançar Selvática e fez um show histórico no Rec-Beat e Elza Soares, que infelizmente não veio para o festival, estava promovendo seu clássico A Mulher do Fim do Mundo.