Foto: Marcos Pastich/PCR

Um papo com Assisão, que comemora 60 anos de carreira: “o São João é do forró”

Natural de Serra Talhada, com músicas gravadas por Alceu Valença e Elba Ramalho, o forrozeiro defende uma maior proteção do gênero durante a época junina

Francisco de Assis Nogueira, conhecido como Assisão, celebra seis décadas de trajetória artística como um dos homenageados do São João Recife de 2024. Reconhecido como Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2023, o renomado artista acumula um impressionante repertório de 826 canções gravadas. Hits como “Pau nas Coisas”, “Forró Ferruado”, “Peixe Piaba”, “Lareira” ou “Little, Little”, regravados 250 vezes por vários artistas, permanecem como autênticos marcos e sucessos emblemáticos da nossa música popular.

“Rei do Forró”, como também é conhecido, Assisão é natural de Serra Talhada, no Sertão do Estado, e faz parte de uma geração de forrozeiros que são considerados ícones do forró tradicional, como Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Jackson do Pandeiro.

Assisão é um ícone do forró tradicional, com músicas gravadas por Alceu Valença, Elba Ramalho, Trio Nordestino, Frank Aguiar e Aviões do Forró. Além de cantor e compositor, é também um inovador. O artista foi um dos precursores do forró moderno ao introduzir, ainda nos anos 70, os sons produzidos pela guitarra, contrabaixo, teclado e bateria nas suas composições, e mesmo com essa nova roupagem, não deixou a essência do gênero.

Ainda menino, o artista fazia versos e escrevia peças teatrais na escola onde estudava. “Quando eu ainda tinha 11 anos. Nasci em 1941 e no ano de 1946 eu já fazia essas coisas”, conta. A família sonhava com sua carreira na medicina, ele também sonhava e até tentou, mas largou o curso e abraçou a música e a poesia, seguindo trajetória artística.

Para seguir carreira musical, Assisão contrariou a vontade da família. “Na medicina, quando era criança, era o maior para fazer operações em frutas”, revela. Assisão recebeu diversos prêmios e homenagens ao longo do tempo, com destaque para seus quatro discos de ouro e um disco de prata; recebeu o “Troféu Gonzagão 2011” e o “Troféu Asa Branca 2009” pela dedicação às tradições culturais. Em 2012, foi lançado o CD e DVD Assisão ao Vivo – 50 Anos de Forró, reunindo seus maiores sucessos.

A outra homenageada na festa da capital pernambucana é a cantora Nádia Maia. Para quem achar que a festa acabou, Assisão ainda terá uma apresentação nos festejos juninos, no Pátio de São Pedro, área central do Recife, no sábado (29), às 23h. Em entrevista à Revista o Grito!, o cantor relembrou sua trajetória artística e abordou projetos futuros. Confira:

Assisão, você é Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco e no São João do Recife deste ano é o homenageado. Qual o sentimento de receber essa homenagem com tamanho reconhecimento da sua carreira e contribuição do seu trabalho para a nossa cultura?

Muita felicidade e gratidão, meu sentimento é tudo isso. E também agradecer a todos que fazem parte dessa homenagem.

Como e quando você passou a ser considerado o Rei do Forró?

Essa história de rei de Forró existe desde quando eu comecei. Na verdade, quem sabe é o povo, não sei se sou rei, o povo é quem diz e a voz do povo é a voz de Deus.

A sua família desejava que você seguisse a carreira na medicina, mas você decidiu enveredar pelo mundo da arte. Como foi fazer essa escolha?

Quando era criança, fazia operação em manga para tirar o caroço e costurava a casca da manga e operação em burro. Na medicina, quando era criança, era o maior para fazer operações em frutas. À medida que fui crescendo, passei a gostar muito de dançar e vi que sendo médico, não era um “dançador” e nem era um bom forrozeiro. Então, já pensou se a gente fosse operando e cantando: ‘No baco-baco do zabumba / O nheco-nheco da sanfona / E uma dama que saiba arrastar os pés’. Como é que eu podia fazer isso? Então, optei pela música e deixei a medicina.

Como foi o início? Lembra de quando começou a compor?

Quando eu ainda tinha 11 anos. Nasci em 1941 e, no ano de 1946, já fazia essas coisas.

Você é compositor de mais de 800 canções. De onde surgiu o gosto pelo forró?

Tenho 826 composições gravadas. Eu era roqueiro, tinha uma tendência para rock, por sinal ainda conservo o cabelo, mas optei mesmo pelo forró. Agora o meu estilo de tocar tem muito a ver com rock.

A música Pequeninha, por exemplo, já foi regravada mais de 250 vezes por diferentes artistas nacionais. A que atribui esse sucesso?

Tudo que você faz com carinho, torna-se carinhoso. Então, se a mulher leva o homem com carinho, ele se torna carinhoso. Acho que todo mundo tem uma pequenininha na cabeça.

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Assisão, o Rei do Forró, celebra 61 anos de carreira artística. (Foto: PCR / Divulgação)

O que lhe inspira a compor?

Eu falo no sapo, cururu, grilo, vaca, no boi, vaqueiro. É tudo do nosso habitat. Está na minha música “Pássaro Sentido”.

A cantora Elba Ramalho aproveitou sua participação na abertura do São João de Pessoa, na Paraíba, para expressar sua insatisfação com a falta de forró nas festas juninas da região Nordeste do Brasil. Qual sua avaliação a respeito?

Não é por ser forrozeiro não, mas é porque o São João é do forró. Agora, é democracia, todo mundo é livre. Mas tem erro nisso aí, porque onde é a festa dos sertanejos, o forrozeiro não entra. Eu estou com Elba.

Você tem mais de 50 discos, com mais de um milhão de cópias vendidas ao longo dos últimos 60 anos. Na década de 80, vendeu mais 350 mil cópias de discos e essa vendagem recorde lhe valeu um disco de platina dado pela gravadora. O que Assisão ainda pretende fazer? Há projetos previstos para serem realizados em breve e que pode adiantar para nosso público?

Meu projeto agora é um longa-metragem sobre o forró, cantando as minhas músicas, pegando aqueles personagens da época, os que gostavam de brigar, os que gostavam de beber e os que gostavam de amar. Vai ser um filme bem especial, se Deus quiser.

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