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Tyler, The Creator desafia expectativas e definições em “Don’t Tap The Glass”

Novo álbum flerta com o pop, hip-hop e irreverência, sem seguir um conceito definido

Tyler, The Creator desafia expectativas e definições em “Don’t Tap The Glass”
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Tyler, The Creator
Don’t Tap The Glass
Columbia/Sony, 2025. Gênero: Rap

Don’t Tap The Glass, nono álbum de Tyler, The Creator, chega menos de um ano depois do aclamado Chromakopia com pouca divulgação e com comentários do próprio Tyler encorajando os ouvintes a baixarem as expectativas para este álbum, afirmando que ele não seria nada conceitual.

Agora, Tyler deixa de lado o subjetivo (ou quase isso) e é inspirado pelo movimento, com a intenção de incentivar as pessoas a dançarem sem inibições, algo que o rapper apontou no texto de lançamento do disco, refletindo sobre como “muito do nosso espírito humano foi morto pelo medo de virar um meme”.

Essa reivindicação ao direito do movimento está refletida na produção musical, montada em influências do pop dos anos 1980, hip-hop dos anos 2000 – com samples de Michael Jackson e Busta Rhymes -, passando por música indiana e outras referências, o que resulta em um som mais preocupado em ter impacto do que se estabelecer em um determinado gênero musical. E o álbum realmente chama à dança, tem força o suficiente para isso, com uma atmosfera de descontração que é reforçada pelos versos inteligentes e irônicos do californiano.

tyler the creator
(Reprodução/ Youtube)

Apesar do meu ceticismo inicial, que esperava receber uma seleção de músicas deixadas de fora no Chromakopia, o trunfo de Don’t Tap The Glass é justamente ser tão diferente do seu predecessor. O próprio Tyler pediu para que as pessoas parassem com as comparações entre os discos, enfatizando a independência de cada uma de suas produções. 

Mas como estamos falando de Tyler, The Creator, a contradição e a autorionia sempre estão presentes. A faixa “Mommanem”, que poderia facilmente se encaixar no álbum anterior, mostra sua disposição em desafiar suas próprias declarações e as expectativas do público. No seu descompromisso e nas poucas expectativas, Don’t Tap The Glass acaba recebendo muito mais sentido do que ele parece ou até pretende ter. 

No final das contas, a decisão sobre em qual campo Don’t Tap The Glass está fica mais nas mãos do ouvinte do que do próprio Tyler. A dança e a agitação estão presentes, mas os momentos de introspecção também existem, essas questões podem coexistir, e isso só deixa tudo mais interessante – e divertido. 

Ouça Don’t Tap The Glass, de Tyler, The Creator

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