Tudo é Remix

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Foto: NYTVF

A OBRA E OS LINKS
Diretor canadense Kirby Ferguson mostra a influência do remix na cultura pop e afirma que, de uma forma ou de outra, todos somos cópias

Do Baixa Cultura

De Nova York, o diretor canadense Kirby Ferguson (foto acima) tem revelado os segredos dos mágicos da cultura pop através de uma série de vídeos/docs, muitos de comédia, reunidos no site GoodieBag.tv.

Um dos produtos centrais do diretor é documentário (prometido em quatro partes) Everything is a Remix, que teve o lançamento em setembro de 2010 e agora em fevereiro saiu a segunda parte. Por e-mail, Fergunson nos disse que queria “to show how copying is an element of creativity, and in one way or another, we all copy” [mostrar como copiar é um elemento de criatividade, e de uma forma ou de outra, todos somos cópias].

Na estréia da série, Kirby menciona o riff de “Good Times”, do setentista Chic, que foi sampleado trocentas vezes no hip hop, inclusive pelo citado Gabriel Pensador no hit dos anos 90 “2345meia78”. Depois são mostradas as popularíssimas apropriações que o Led Zeppelin fez de bluseiros e cantores de folk – que alias já citamos – e que podem ser conhecidas a fundo no site The Roots of Led Zeppelin. “A canção permance a mesma” é o nome de uma das músicas que dá nome a essa parte. Fala-se também do método cut-up do beat William Burroughs, em que rearranjava trechos de textos e produzia novos – tivessem sentido, ou não – como tu pode ler nessa tradução disponível aqui.

A segunda parte é um pouco mais longa e foca nas reutilizações no cinema. Primeiramente, chama a atenção para a atual quantidade de adaptações, seqüências, refilmagens que fazem da produção de qualquer filme famoso , ou até mesmo alguns independentes, um filme padronizado, de gênero, com elementos em comum, cuja modificação é vital para a continuidade. Como o revolucionário Avatar, mundialmente comparado (e com razão) a Pocahontas.

A trama de Avatar também tem um padrão de etapas comparável a outro fenômeno da cultura pop: Star Wars. Ferguson narra, a partir do site Star Wars Origins, que a divisão da história de George Lucas se funda em “O Herói de Mil Faces“, de Joseph Campbell (disponível aqui), livro que, ao lado de “O Poder do Mito” do mesmo Campbell, é referência fundamental de boa parte dos (bons) roteiristas que se prezem, por mostrar, justamente, que toda jornada de um herói tem muito das mitologias milenares.

O doc ainda comenta o elemento da influência/referência de/a outros filmes, uma prática cada vez mais usual nos filmes de hoje dada à já citada facilidade de acesso a toda cinematografia mundial que o digital, e a internet, possibilitam. Para ilustrar, o cara em questão é Quentin Tarantino, talvez o mais notável representante do (bom) aproveitamento do que o próprio cinema já fez de bom nesse um pouco mais de um século de vida. Para expor as centenas de referências nos filmes, os fãs de Tarantino criaram o wiki The Quentin Tarantino Archives, do qual Kirby se utilizou para fazer o “bonus track” Kill Bill.

Dando um exemplo de transparência proporcionada pela web, Kirby expôs todos os nomes das amostras de vídeos que utilizou na edição – com links para a compra dos filmes – e também as muitas referências online/bibliográficas/fonográficas nas quais se inspirou. Ainda disponibilizou no site EverythingisaRemix.info um sistema de legendas para que o público pudesse traduzir o texto dos vídeos. E para receber doações pelo esforço há até uma sessão de Doações, da qual ele diz receber várias.

Para a terceira parte, o diretor não revela muitos detalhes, mas diz que será sobre “where ideas come from and how creators innovate. In this section will explore how original works relying combining other works” [de onde as ideias vem e como criadores inovam. Essa seção vai explorar como obras originais dependem de combinar outras obras]. Segundo o canadense, deverá ficar pronta no início do nosso inverno ou no fim do outono. Sobre a quarta parte ele não quis revelar nada, nem mesmo o assunto que vai abordar.

De qualquer maneira, já dá pra dizer que Everything is a Remix é mais um pra endossar o coro que, sempre que possível, reiteramos por aqui: não há nenhuma “obra-prima”, nenhum “gênio” sem outras obras e autores por trás, como hiperlinks ligando as palavras a mais palavras misturando tudo para formar mais palavras/imagens/sons/videos. Se realmente ficarmos atentos, veremos que tudo é uma cópia, da cópia, da cópia.

+ O Baixa Cultura é um dos mais importantes sites sobre cultura livre e cultura digital, de onde esse artigo foi publicado originalmente