O VERMELHO SANGUE VIROU ROSA
True Blood chega a sua terceira temporada mantendo-se fiel ao ideário de vampiros identificados com a atualidade e os principais achaques do homem pós-contemporâneo
Por Fernando de Albuquerque
Editor da Revista O Grito!, no Recife
Sookie é irritante. Com mania de correção, excesso de bondade e perseverança extrema, a personagem da atriz Anna Paquin se veste mal, muito mal, e passou as duas primeiras temporadas de True Blood no pé do vampiro Bill. Este, por sua vez, encarna o mito do bom homem que está sempre disposto a amar incondicionalmente, transar loucamente, manter uma fidelidade canina e ainda dizer “eu te amo” há cada cinco minutos. A receita cheia de açúcar, mel, sangue e doses generosas de sexo é o segredo do sucesso de True Blood que já tem quatro episódios da sua terceira temporada disponíveis na web (quem quiser esperar que a minisérie ganhe prensagem e se torne DVD…que fique deitado e perca o hype).
Novos personagens, o fim da trama em torno da Bacante, um destino definitivo para o mistérioso Sam Merlotte preenchem as telas na nova temporada de True Blood. O fôlego se renova, ainda, com o novo rumo de Lafayette, agora um traficante de sangue coagido por ala poderosa dos vampiros de Bon Temps, e a incerteza em torno de Tara (o que ela fará agora?) que já cansou de brigar, gritar e tentar se matar. Um novo vampiro surge em cena, Eric mantém sua eterna perseguição à Sookie, Pam sua tara pelas mulheres e os atrapalhos de Jéssica continuam irresistíveis. Além disso uma certa disputa política começa a dar pano de fundo à trama já que, nem só de amor, uma série de mantém.
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O sexo, tão forte na primeira e na segunda temporada, se mantém o mesmo. Os produtores prometem que os novos episódios serão os mais quentes da série, inclusive com cena gay interpretada por Alexander Skarsgard, o Eric. Mas o que vimos até agora, é tudo muito recatado.
Os licantropos aparecem com força total nessa temporada e prometem dar muita dor de cabeça à Bill e Eric. Eles são o cerne de uma grande intriga palaciana que envole o alto escalão da classe vampiresca. Ressaltamos, ainda, uma possível relação sexual entre Bill e Sam…menos detalhes.
Num mundo real repleto de anti-heróis, o segredo de True Blood está na identificação. Nossos vampiros, quase compatriotas, são o exemplo do homem do novo século. Atormedado pelo sucesso, pelas paixões excessivamente efêmeras, pela contradição da perda e do ganho no capital simbólico e pela permancência do ideal do amor eterno. Ou, seja, mais humano e contemporâneo impossível.
A identificação recai ainda sobre o caráter urbano que os personagens possuem. A atmosfera dark combina o preto das roupas, maquiagem, com o espírito solitário dos agora heróis. E ainda, um outro elemento compõe o cenário: a música. A ambientação, roupas e trilhas sonoras da série revela a influência do estilo de milhares de jovens que se identificam com a melancolia e o “caráter noturno” dos vampiros.
Boa parte dos fãs de True Blood estão em busca da humanização de seus medos, no controle pleno dos malefícios que lhe rodeiam. Por isso o sucesso da série cujos vampiros são mais suaves e protetores. Em tempos de solidão extrema é o que mais se deseja consumir, o que se deseja ter. Mas não podemos nos esquecer que, por trás da máscara do vampiro bom e responsável para com o outro estão todos os males criados pelo homem. Mesmo que ele prometa vida eterna, poder e beleza constante (a eterna busca do humano refletido no cotidiano de plásticas e botox), o diabo e o tempo sempre cobram suas dádivas.
TRUE BLOOD – TERCEIRA TEMPORADA
Na HBO, domingos, às 23h
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