tron
Foto: Divulgação.

“Tron: Ares” pretende-se uma epopeia tecnológica, mas padece por falta de substancialidade

Despreocupado em tecer o mínimo desenvolvimento para seus personagens, Joachim Rønning dirige um filme caprichado em superficialidades

“Tron: Ares” pretende-se uma epopeia tecnológica, mas padece por falta de substancialidade
2

Tron: Ares
Joachim Rønning

EUA, 2025. 1h49. Ação/Aventura. Distribuição: Disney
Com Jared Leto, Greta Lee e Evan Peters

Nenhuma enorme expectativa, convenhamos, circundava este novo capítulo da franquia Tron, cujas obras anteriores devem mais enaltecimento à curiosidade conceitual das ideias levantadas do que qualquer imponência técnico-narrativa. Entretanto, diante dos dilemas contemporâneos da nossa adoecida sociedade, em especial a eclosão do uso cotidiano das plataformas de inteligência artificial, parcela do público parece aguardar a chegada da nova produção da Disney com questionamentos em comum: que tipos de aproximações a narrativa Tron: Ares faria com os rumos reais da onipresença da tecnologia na humanidade dos anos 2020? Na era do ChatGPT e do deepfake, como a história de Kevin Flynn e da ENCOM se desdobraria?

A partir de sequência introdutória altamente expositiva, o terceiro filme da saga acompanha o entrave entre ENCOM – a big tech do bem – e Dillinger Systems – a big tech do mal – pelo monopólio tecnológico do mundo. Criado por este último para tornar-se o programa de segurança mais sofisticado já concebido, Ares (Jared Leto) é forçado a deixar o ciberespaço para realizar uma audaciosa missão no mundo real: ele é enviado por Julian Dillinger (Evan Peters) para usurpar dados sigilosos da concorrente Eve Kim (Greta Lee), CEO da ENCOM, custe o que custar. Não demora, porém, para o software humanóide começar a experimentar sensações e sentimentos genuinamente… humanos. 

Despreocupado em tecer o mínimo desenvolvimento para seus personagens, Joachim Rønning dirige um filme caprichado em superficialidades. Os sintomas são de produto comercializado para entreter e não fazer pensar, então não espere ponderações sérias sobre os caminhos nebulosos pelos quais a humanidade e a IA podem enveredar. 

Anos-luz de obras seminais como Blade Runner e Solaris, a condução dramática de Ares é irrisória; não acompanhamos a mudança comportamental do andróide interpretado por Leto. Sem razão aparente, o personagem contesta comandos e desanda a dar sinais de empatia e comiseração. A displicência do roteiro se torna ainda mais perceptível se examinarmos os papéis secundários; há tempos não via personagem de alívio cômico tão irritante e sem graça como o Seth Flores de Arturo Castro

tron2
Ares (Jared Leto): dicotomia rasa. (Divulgação).

Seguindo a mesma pegada eletrônica da trilha de Daft Punk em Tron – O Legado (2015), os competentíssimos Trent Reznor e Atticus Ross – desta vez creditados sob o carimbo do Nine Inch Nails – voltam a compor uma banda sonora vigorosa, regida por graves que, numa sala IMAX, fazem o corpo inteiro tremer. A engenharia de som agrada bem mais que o roldão CGI e luzes neon disparadas na tela sem pudor. Sobre as decisões estéticas, Tron: Ares almeja bons momentos quando deliberadamente assume a nostalgia. A cena no sistema dos anos 1980 é um acerto e comprova a tendência, o gosto ao analógico. 

Infelizmente, a participação de Jeff Bridges é tão desperdiçada quanto desnecessária: o que poderia ser uma surpresa – se mantida em sigilo até a estreia do filme – perde qualquer força dramática, inclusive porque peças publicitárias (trailers e imagens de divulgação) já antecipavam o retorno do intérprete de Kevin Flynn nesta nova produção. 

Apesar de ser interessante a decisão de trazer personagens do mundo virtual para embates no mundo real, a narrativa é fragilizada por sequências pálidas, com apelo emocional quase nulo. Mesmo nas perseguições na Center City (metrópole fictícia do universo do filme), prédios são destruídos, carros capotados, mas é raro ver pedestres pelas calçadas. Falta vida a Tron: Ares

Leia mais críticas